Os consumidores devem preparar o bolso. Por determinação do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), a Brasil Foods (BRF) — resultado da fusão da Sadia com a Perdigão — só venderá as suas marcas mais baratas, como a Tekitos e a Confiança. Diante disso, há um temor de que o futuro comprador desses ativos acabe se aproveitando da situação para
reajustar os preços finais das mercadorias. Ou seja, em vez de criar uma concorrência saudável, poderá surgir um novo gigante — o segundo maior produtor de alimentos processados do país — interessado apenas no lucro fácil.Como continuará líder absoluta, dificilmente a BRF reduzirá os valores das tabelas impostas aos supermercados. Hoje, a empresa se dá ao luxo de negociar descontos com o varejo para cativar a nova classe média. Um mesmo produto da companhia com marca diferente pode apresentar variação de preço de até 15% — caso do hambúrguer bovino (veja tabela nesta página). “Infelizmente, não sabemos o que
acontecerá. É muito ruim ficar nas mãos de apenas um ou dois fabricantes”, disse a comerciante Madalena da Silva, 51 anos.
Apesar de zelar pela qualidade, muitos consumidores sabem que o impacto da fusão da Sadia com a Perdigão deve aumentar a conta do supermercado. “Acredito que os preços vão subir. A gente vê que, quando ocorrem grandes fusões, a tendência é de que a concorrência fique frágil e o consumidor pague a conta”, lamentou o professor Luís Madeira, 52.
Urubus
Classificados pelo presidente da Brasil Foods, José Antonio Fay como “uma noiva bem bonita”, os ativos à venda já começaram a despertar o interesse de outras empresas. Estão na lista JBS, Marfrig e Tyson, além de dois fundos de investimentos. Também empresários árabes e chineses estariam de olho nos centros de distribuição e nas marcas que a BRF terá que se desfazer. “Aumentaram nossos amigos nos últimos dias, mas também apareceram urubus”, ironizou Fay.
Mas os concorrentes não estão nada satisfeitos com a aprovação do negócio, nos moldes negociados pelo Cade. “A BRF continuará com uma parcela grande do mercado. Permanecerá desigual, e isso acaba sendo ruim tanto para o consumidor quanto para os concorrentes”, disse o presidente da Cooperativa Aurora, Mário Lanznaster. Sua principal crítica é com relação ao tempo que a marca Perdigão sairá do mercado — até cinco anos. “Deveria ser vendida”, frisou.