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Estado de Minas

Renda de aposentados que voltam a trabalhar eleva potencial de consumo de famílias


postado em 18/07/2011 06:03 / atualizado em 18/07/2011 08:04

As famílias que têm em casa pelo menos um idoso são mais bem estruturadas que aquelas onde a faixa etária de seus integrantes não supera os 60 anos. Os rendimentos dos mais velhos, que em grande parte soma salário e aposentadoria, são determinantes para elevar e garantir o potencial de consumo de todo o grupo. Na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), a renda média das famílias é de R$ 2,3 mil, mas nos domicílios onde um idoso com nível superior – ou em cargo de direção e planejamento – permanece no mercado de trabalho, esse montante mais que triplica, atingindo R$ 7,4 mil. Desse montante, 53% são garantidos pela chamada terceira idade.

O levantamento feito pelo professor de economia da UFMG Mário Rodarte leva em conta dados da Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED) produzida pelo Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), em parceria com a Secretaria do Trabalho e Emprego de Minas Gerais. De forma surpreendente, os dados revelam que as classes A e B

são as mais dependentes da renda do idoso, mas o peso é importante também na classe média e na base da pirâmide social.

Nas famílias onde pais e mães maiores de 50 estão em profissões que dependem de conhecimentos não necessariamente ligados à escolaridade, como é o caso dos prestadores de serviços da construção civil, motoristas ou costureiras, a renda familiar se posiciona além da média, atingindo R$ 2,7 mil, sendo que 44% correspondem à participação do mais velho do grupo. “Geralmente, o idoso conta com mais de uma fonte de renda, o que torna esses grupos familiares mais estruturados que a média”, aponta o pesquisador.

Nas classes de menor renda, as famílias são menos dependentes da contribuição do idoso, mas ainda assim o resultado do seu trabalho faz diferença no orçamento. “Quando há um idoso no grupo, observamos que a renda familiar da base da pirâmide encosta na média global de rendimentos”, observa Rodarte, apontando que o orçamento desses grupos atinge em média R$ 1.918, sendo a contribuição do idoso igual a um terço do total.

Adiar a saída do mercado de trabalho foi a decisão do empresário Antônio Eustáquio Pinto, que se aposentou há dois anos, mas, aos 62, está longe de ficar de pernas para o ar. Pai de três filhos, sua renda é importante para toda a família. No setor de equipamentos para indústria ele trabalha 12 horas por o dia, o que inclui viagens internacionais em busca de conhecimento e tecnologia para sua empresa. O esforço lhe garante a chance de realizar projetos. “Não vou parar tão cedo. Tenho muito para conquistar e preciso pagar essas contas. Não tenho como fazer isso com o valor da aposentadoria.” Antônio conhece boa parte do mundo, mas considera que, junto com a esposa, ainda tem muito para descobrir e continuar na ativa é o caminho. “Também preciso ajudar meus filhos. Os mais velhos já fizeram intercâmbio cultural e a mais nova está indo para Portugal”, conta ele referindo-se a Paulo, 25 anos, Daniele, 22, e Ana Carolina, 20.

Os dados da PED mostram que Antônio Eustáquio integra uma tendência do brasileiro, que cada vez permanece no mercado por mais tempo. Nos últimos 10 anos, a população maior de 60 anos quase dobrou na RMBH, passando de 348 mil para 589 mil pessoas, enquanto no mesmo período o percentual caiu 6% entre os mais jovens, de 10 a 24 anos. Apesar do crescimento da população, o desemprego caminhou na direção inversa, caindo entre os maiores de 60 anos. O percentual de empregados nessa faixa etária, cresceu de 16% para 19% entre 1999 e 2010, ao passo que cresceu o desemprego entre os mais jovens. O percentual de empregados entre 10 e 24 anos caiu de 46% para 43%. Se observados os maiores de 50 anos, o crescimento da participação dessa faixa etária no mercado de trabalho é ainda mais vigoroso. Em 10 anos, avançou de 52% para 61%.

Orgulho

Mais conhecido como Diamantino, Rodney da Silva completou 60 anos e orgulha-se de ser um excelente garçom. Aos 56 se aposentou pelo INSS, mas nem pensa em sair do mercado. Ele, que já serviu personalidades como os ex-presidentes Juscelino Kubitschek e Tancredo Neves, os atores Grande Otelo, Vera Fischer, Mário Lago, o cantor Milton Nascimento, entre vários outros, tem cinco filhos. “Dois deles ainda moram comigo.” Ajudar a família é uma das metas do garçom, que ainda tem uma das filhas na faculdade de engenharia civil. “Não posso e nem quero parar. O trabalho é minha vida, não dá para viver com a aposentadoria”, comenta ele, que todas as noites serve com disposição e sorriso fácil as mesas do Bar Tiradentes, na Zona Sul de BH.

Palavra de Especialista - José Carlos Ribeiro/dvogado

Alívio na Previdência


O adiamento da saída dos mais velhos do mercado de trabalho é positiva, especialmente nos cargos de direção e planejamento e naqueles semi-qualificados, que incluem rendimentos entre o topo e a base da pirâmide. Se esse ritmo for mantido, os impactos do envelhecimento na Previdência Social podem deixar de existir ou serem minimizados. Isso porque os aposentados continuarão contribuindo para o sistema, seja diretamente, em empregos com carteira assinada, ou indiretamente, quando contribuem para o crescimento do faturamento de empresas que, por sua vez, contribuem com o sistema. A preocupação fica por conta da permanência daqueles que estão na base da pirâmide e continuam executando trabalhos onde é necessário vigor físico, mesmo com o avanço da idade.

Um terço trabalha

Os aposentados estão distribuídos em todos os setores do mercado de trabalho. Eles são desde consultores seniores, que muitas vezes passam a orientar empresas do setor onde por muito tempo trabalharam, até as funções da base da pirâmide, como os trabalhadores nos chamados serviços gerais. Não parar é uma decisão consolidada, independentemente da classe social. No Brasil, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), um a cada três aposentados continua no mercado de trabalho. Em Minas, esse percentual é ainda maior, atingindo 36% do contingente, ou 774 mil idosos na ativa.

Uma delas é a costureira e professora Ana Graça Santana. Depois de 25 anos de trabalho na educação, ela se aposentou, mas nem pensou em desacelerar. Trocou de atividade, e, em cinco anos, se transformou em uma bem-sucedida empresária, que já emprega nove pessoas. O que antes era bico se transformou em uma empresa. Ana abriu um ateliê de costura, onde faz roupas sob medida e trabalha para empresas. “Não imaginava que a demanda seria tão grande. Trabalho mais de 10 horas por dia e, este ano, vou tirar férias, as primeiras em cinco anos.” Ana, que é viúva, viu sua renda crescer depois da aposentadoria e se prepara para realizar um de seus grandes sonhos: a casa própria. “Hoje sou mais realizada, profissional e financeiramente, gosto mais de ser chamada de costureira que de professora.”

No Brasil, cerca de 21 milhões, ou 11% da população, são maiores de 60 anos. Em 2020, esse número deve atingir 30 milhões. A previsão é que, em 2050, 30% da população esteja nessa faixa etária.

(foto: Animação Em)
(foto: Animação Em)


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