(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas

Dólar em queda livre gera euforia entre turistas e desespero na indústria


postado em 27/07/2011 06:06 / atualizado em 27/07/2011 07:31

A enfermeira Ceni Solandeck compra dólares mesmo antes de marcar a viagem que pretende fazer a Nova York(foto: Cristina Horta/EM/D.A. Press)
A enfermeira Ceni Solandeck compra dólares mesmo antes de marcar a viagem que pretende fazer a Nova York (foto: Cristina Horta/EM/D.A. Press)
Se o turismo abre os braços e aproveita a queda vertiginosa, para a indústria nacional a montanha-russa do dólar tem mais cara de trem fantasma. O emagrecimento sistemático da moeda americana causa euforia nas casas de câmbio, congestiona as agências de viagens e enche o armário de roupas e produtos importados. Os brasileiros nunca viajaram tanto ao exterior ou compraram tantos itens de outros países, principalmente da China. Enquanto o Brasil se tornou espécie de paraíso para os importados, dos brinquedos à máquina de lavar, quase tudo é feito pela mão de obra asiática. O dólar ontem fechou a R$ 1,53, a menor cotação em 12 anos. O risco é o que está do outro lado da moeda.

Enquanto diversos setores já desistiram de exportar, os brasileiros vão às compras em Miami, em Buenos Aires ou Paris. Segundo dados do Banco Central, nada parece desanimar os brasileiros em viagens internacionais – nem o aumento de Impostos sobre Operações Financeiras (IOF) sobre gastos com cartão de crédito no exterior. Os gastos dessa turma no primeiro semestre bateram novo recorde, chegando a US$ 10,18 bilhões (R$ 15,6 bilhões). O número é 65% maior que o registrado nos primeiros seis meses de 2010. Em junho, os brasileiros deixaram lá fora US$ 1,85 bilhão (R$ 2,8 bilhões), segundo dados do Banco Central.

Por outro lado, o real forte abre as portas para os fabricados lá fora, mas tem efeitos no encolhimento da pauta de exportações. Nos últimos seis anos, Minas Gerais, por exemplo, incluiu 1,2 mil novos produtos para serem vendidos no mercado externo. Todos eles já foram abandonados. Segundo a Federação das Indústria de Minas Gerais (Fiemg), a deterioração da moeda é tão forte que já atinge os mercados com grande valorização. “Até mesmo as commodities já começam a ser afetadas”, aponta Lincoln Fernandes, presidente do Conselho de Política Monetária da entidade. Segundo ele, o dólar abaixo de R$ 1,80 cria para o setor produtivo situação de insustentabilidade. “Medidas contundentes são necessárias. A questão não é mundial, mas conjuntural do país.”

Para muitos, a saída para fazer frente à perda de valor do dólar tem sido o rearranjo da rota, que inclui fechar a produção no Brasil, importar e desistir de exportar. “Comecei a ser expulso do setor exportador quando o dólar foi a patamares abaixo dos R$ 2,3”, diz Lúcio Costa, presidente da mineira Suggar, que já foi premiado como exportador. Segundo ele, dos 154 produtos vendidos pela Suggar, 145 são produzidos com tecnologia americana e europeia na China. “A carga tributária chinesa deveria ser exemplo para o Brasil; não motivo de medo.”

Críticas


Lúcio Costa, que modificou o modelo de atuação da Suggar, vendeu no ano passado 1,6 milhão só de lavadoras. Como importador, se beneficia do câmbio, mas não poupa críticas. Segundo ele, o país exporta impostos, o que impede a indústria de agregar valor aos seus produtos. “O principal beneficiário das importações é o governo, que evita inadimplência, já que os produtos só são desembaraçados com todos os impostos pagos. O recorde de arrecadação do país se deve também às importações”, alfineta.

Em conta rápida, o presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecções (Abit), Aguinaldo Diniz Filho, que também é presidente da Cedro e Cachoeira, conta que sópelo câmbio os produtos nacionais sofrem uma concorrência superior a 60% com os chineses. “A moeda chinesa, o yuan, ao contrário do real, está 30% desvalorizada em relação ao dólar”. Ele aponta que em maio e junho a indústria têxtil e de confecções já cortou 560 empregos. O peso da indústria de transformação brasileira caiu de 27% do PIB (Produto Interno Bruto), em 1985, para 16% hoje.

Quinto do ranking

O Brasil saiu da 14ª para a 5ª posição no ranking dos principais destinos de Investimento Estrangeiro Direto (IED) de 2009 para 2010, de acordo com World Investiment Report de 2011, da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (Unctad), divulgado ontem no país pela Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica (Sobeet). “Com o avanço mais acentuado dos ingressos de IED no Brasil do que no resto do mundo, o país saltou nove posições entre os principais destinos de IED de 2009 para 2010”, reforçou o presidente da Sobeet, Luís Afonso Lima. Segundo o documento, a desconcentração dos fluxos de IED ocorre não apenas por destino, mas também por origem. Fluxos originados em economias em desenvolvimento aumentaram 21% em 2010. Estes agora respondem por 29% dos fluxos globais, de acordo com a Unctad. Em 2010, seis economias em desenvolvimento encontravam-se entre as Top 20 investidoras. “Mantida a atual velocidade de desconcentração dos fluxos de IED por origem, em 2017 deverão ultrapassar economias desenvolvidas como fontes de IED”, observou Lima.


receba nossa newsletter

Comece o dia com as notícias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)