Em início de campanha salarial, os principais sindicatos de metalúrgicos de Minas Gerais realizaram uma manifestação no final da manhã desta sexta-feira, em frente à sede da da Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg), no Centro de Belo Horizonte. Com cerca de 200 pessoas, segundo a Polícia Militar, o protesto pacífico levou aos representantes dos patrões das indústrias do setor a carta de reivindicações da categoria.
Os trabalhadores pedem 10% de aumento real, acima do corrigido pela inflação, além da variação acumulada do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) nos últimos 12 meses até a data-base, em 1º de outubro. A pauta de reivindicações inclui, ainda, salário de ingresso de R$ 1.850, valor já pago em outros polos do setor em São Paulo, e a redução da jornada de trabalho de 44 para 40 horas semanais. São 250 mil trabalhadores de todo o estado envolvidos na campanha.
As empresas avisam que só vão definir reajustes salariais em setembro, quando esperam ver com clareza os efeitos das medidas contra a especulação no mercado financeiro e os rumos da inflação, segundo Osmani Teixeira de Abreu, presidente do Conselho de Relações do Trabalho da Fiemg e representante da indústria na negociação com os metalúrgicos. “Qualquer decisão vai depender do que ocorrer no Brasil e no mundo nos próximos 30 dias”, disse. Os sindicalistas rebatem, com o argumento de que a economia continua a crescer e alguns segmentos como a indústria automotiva e de material elétrico operam em regime de horas extras nos fins de semana.
Com a entrega da carta de reivindicações, as negociações devem começar somente na segunda quinzena de agosto, conforme informou Geraldo Valgas, diretor do sindicato local da categoria. O grupo contava com trabalhadores de Belo Horizonte, Contagem, Betim e Sete Lagoas e caminhou até a Praça Sete, na região central, onde protestaram sob o slogan “Valorização para quem produz e faz crescer”. Ainda de acordo com Valgas, as próximas ações vão ser realizadas nas portas das principais empresas siderúrgicas, metalúrgicas e automobilísticas da Grande BH.
Condições de trabalho
Em Betim, Igarapé e São Joaquim de Bicas, os metalúrgicos estão cumprindo jornada extra aos sábados e em algumas fábricas também aos domingos, informa o presidente do sindicato local da categoria, João Alves de Almeida. “Não há porque dificultar o entendimento, já que as empresas estão trabalhando com alta produção. Se é assim, não existe crise nas fábricas”, afirma o sindicalista. No polo liderado pela Fiat Automóveis, 44 mil trabalhadores estão envolvidos na campanha salarial.
Em Belo Horizonte e Contagem, na Grande BH, o trabalho, da mesma forma, tem excedido a jornada regular dos metalúrgicos, de acordo com Geraldo Valgas. “Há empresas dos setores automotivo e de material elétrico que continuam a contratar e precisam fazer horas extras para manter a produção. As maiores fábricas estão trabalhando na sua capacidade máxima”, diz.
Para o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Sabará, na região metropolitana da capital mineira, Marconi Domingos Roque, o aumento recente da taxa básica de juros – aquela que remunera os títulos do governo no mercado financeiro e serve de referência nas operações dos bancos e do comércio – dificultou as negociações. “O capital que deveria ser investido no setor produtivo da economia vai alimentar a especulação financeira, sem contar o aumento das importações que prejudica a indústria”, reclama. São 5 mil metalúrgicos na base de trabalhadores do setor na cidade histórica.
Outras cláusulas
Categoria de peso nas negociações salariais do segundo semestre em Minas, os metalúrgicos terão, ainda, que rediscutir todas as cláusulas sociais que constam de convenção coletiva e são negociadas por um período de dois anos. Ao todo, 98 itens do acordo terão de ser reavaliados, desde adicional noturno, horas trabalhadas em feriados até o fornecimento de água potável aos empregados. João Alves, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Betim e Região, afirma que a negociação mais sensível deve ser a dos salários de ingresso da categoria.
Os pisos salariais pagos em Minas variam de R$ 545,60 nas empresas com até 50 empregados a R$ 800,80 nas fábricas com mais de 1 mil empregados. “O salário de ingresso do metalúrgico de Minas é o quinto no país, superado pelo inicial pago em São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná, Bahia e Espírito Santo”, afirma o sindicalista. No sindicato de BH e Contagem, Geraldo Valgas diz que uma das principais bandeiras é a proposta de criação de comitês sindicais por empresa, a exemplo do modelo de organização da categoria dentro das fábricas do ABC paulista e de Sorocaba (SP). Entregam nesta sexta-feira a pauta de reivindicações à Fiemg 25 sindicatos que representam trabalhadores dos polos industriais da Grande BH e do Sul de Minas.