A China afirmou nesta quarta-feira que o pacto legislativo aprovado nos Estados Unidos para evitar o default não conseguiu desativar "a bomba da dívida" da maior economia mundial e reiterou sua intenção de reduzir a exposição ao dólar de suas enormes reservas de divisas. A adoção pelo Congresso americano de um texto que permite evitar um default dos EUA ao menos até 2013 não conseguiu desativar "a bomba da dívida", julgou nesta quarta-feira, duramente, a agência Nova China (Xinhua).
O fracasso em controlar os empréstimos americanos pode afetar "o bem-estar de centenas de milhares de famílias nos Estados Unidos e no exterior", estimou a agência oficial. Enquanto isso, o governador do Banco Central chinês, Zhou Xiaochuan, anunciou que "as reservas de câmbio na China vão seguir os princípios da diversificação dos investimentos e
As reservas de divisas da China, as mais importantes do mundo, alcançaram os 3,197 trilhões de dólares no fim de junho, em aumento de 30,3% em um ano, segundo o Banco Central. A China está preocupada, já que é de longe a principal credora dos Estados Unidos. Em maio, tinha 1,16 trilhão de dólares em bônus do Tesouro americano.
A crise financeira mundial de 2008 reforçou a inquietação da China sobre seus bens e a incentivou a investir mais no euro - por somas não divulgadas, mas julgadas modestas pelos analistas -, em particular na França e na Alemanha. A margem de ação da China segue, no entanto, limitada, de acordo com especialistas. "Estou convencido de que desejam uma diversificação (de suas reservas), mas isso envolverá apenas as margens", afirmou à AFP Alistair Thornton, analista da IHS Global Insight.
"De fato seria complicado para a China diversificar os custos da compra da dívida americana sem mudar radicalmente todo o seu modelo econômico", explicou. "Não existe outro mercado com uma liquidez tão importante quanto o dos Estados Unidos", acrescentou para explicar as compras massivas da China da dívida americana.
A China "dispõe de muito poucas opções para investir nos mercados internacionais suas massivas reservas de câmbio", confirmou Yin Zhentao, da Academia de Ciências Sociais. A declaração muito crítica da Nova China do acordo americano sobre a dívida aparece após comentários muito negativos, na segunda e terça-feira, na imprensa oficial chinesa.
"Mesmo que os Estados Unidos tenham evitado fundamentalmente o default, os problemas de sua dívida soberana não estão resolvidos", havia julgado o Diário do Povo, órgão oficial do Partido Comunista chinês. A televisão estatal também havia criticado o acordo de última hora entre o presidente Barack Obama e o Congresso. "Trata-se de um espetáculo político que tem mais pompa e circunstância do que substância", considerou.
A agência de classificação financeira chinesa Dagong também rebaixou a nota da dívida soberana americana. A nota dos EUA passa de "A+" para "A" com perspectiva negativa, indicou a agência, que garantiu ser independente, mas que ainda precisa dar provas de sua credibilidade. Aumentar o teto da dívida pública americana poderá apenas "agravar mais" a crise, estimou a Dagong.
No dia 14 de julho, a Dagong acompanhou de uma perspectiva negativa sua avaliação da dívida soberana dos Estados Unidos, que já havia rebaixado, de "AA" para "A+" no mês de novembro. A agência de classificação chinesa utiliza uma metodologia diferente das agências anglo-saxãs Moody's, Fitch ou Standard and Poor's. Diferente destas três agências, que concedem aos Estados Unidos a nota "Aaa", a melhor, a Dagong não havia dado a Washington esta nota máxima.