A combinação de início da entressafra com o mercado interno aquecido, está encarecendo pratos típicos da culinária mineira e ameaça deixar o churrasco “mais salgado”. Depois de seis meses consecutivos de quedas no varejo, o preço das carnes voltou a acelerar em julho e o principal alerta vem dos suínos. Minas Gerais é o maior consumidor da proteína animal no país. De julho ao início deste mês, o valor do quilo da carne de porco para o produtor cresceu 25% e, na mesma velocidade, a diferença bateu na porta do consumidor. Esse é o caso da tradicional costelinha, que na última semana de julho registrava preço médio de R$ 10,75 em Belo Horizonte, alta de 19,7% em relação a junho, segundo pesquisa do site Mercado Mineiro.
No caso da carne bovina os preços, que caíram entre abril e maio, subiram 4% entre julho e agosto para o produtor. “Temos um cenário de pouca oferta para os frigoríficos e de mercado firme. Os preços devem seguir em alta”, aponta Alex Lopes, consultor da Scot Consultoria.
No varejo, donas de casa que mal tiveram tempo para perceber a desaceleração dos preços, já voltaram a notar o peso do alimento no orçamento. Donos de restaurante optam por manter estoques baixo apostando em melhores negócios. Antônio Vieira, metre da churrascaria Ambrósio’s, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte, diz que no último mês a carne suína valorizou 30% e, entre os alimentos, foi o item onde a inflação mais pesou, já que os preços da carne bovina importada segue estável. “No cardápio, os preços continuam os mesmos, não mudaram apesar da alta, mas é preciso aguardar uma acomodação do mercado para fechar negócios.” Márcio Silveira, proprietário do frigorífico Serradão, com 18 lojas em Belo Horizonte e região metropolitana, informa que a alta mais forte aconteceu nos últimos 10 dias. Ele também aponta os suínos como vilões. “A carne de porco subiu 50% e a bovina 10%.”
O aposentado João Lemos calcula que gasta em média R$ 40 por semana com a compra de carnes para a família. Ele garante que não notou recuo de preços. “Temos que aproveitar as promoções”, pondera.
Alta dos suínos
A aceleração do preço do milho e da soja que têm cotação internacional são apontados como fator de pressão no custo dos suínos. João Bosco de Abreu, presidente da Associação dos Suinocultores de Minas Gerais (Assemg), aponta o mercado interno aquecido e a sazonalidade, já que o consumo cresce no inverno, como motivos para a alta. “Minas é o quarto produtor e o primeiro consumidor de carne suína.” Ele acredita que os preços devem se acomodar sem tendência de queda até o final do ano. Segundo ele, a queda das exportações para a Rússia não influenciaram no mercado interno e a expectativa do setor é que a exportação cresça 8,5% este ano, com abertura do mercado chinês e sul-africano.
No caso da carne bovina, a inflação medida pela Fundação Ipead mostra que em julho a tendência de queda de preços que vinha se mantendo desde janeiro perdeu força. A alcatra que chegou a recuar 1,64% em junho caiu apenas 0,27% em julho. A dona de casa e profissional de serviços gerais Cleny Maia, diz que já tem feito substituições em casa. Ela diz que há dois meses comprava alcatra por R$ 14,99 o quilo, em dois meses o produto saltou para R$ 19,99, alta superior a 30%.
Trajetória é de novos aumentos
De agosto a dezembro, as carnes bovina, suína e também de frango devem seguir em alta no varejo. Segundo José Alberto de Ávila Pires, coordenador estadual de pecuária de corte da Emater-Minas, o mercado interno, responsável pelo consumo de 80% da produção nacional, está aquecido. O alívio é que este ano, a carne bovina não deve atingir patamares alcançados no último trimestre de 2010, quando a arroba para o produtor chegou a R$ 110, no entanto, os preços da arroba, que já registram R$ 96 no campo, devem ainda ter uma elevação. “A diferença vai chegar no bolso do consumidor nos próximos meses, quando a oferta do produto diminui.” Alex Lopes, zootecnista e consultor da Scot Consultoria, aponta que o custo da produção vai continuar pressionar os preços de aves e suínos. Segundo ele, o milho, base da alimentação animal, está 76% mais caro. “O mercado para os grãos segue firme. Não há expectativa de queda dos preços.”