Também para economistas do Deutsche Bank, a quebra da Espanha, que poderá levar junto a Itália, terá mais impacto sobre os países da América Latina do que sobre os demais emergentes. Pelos cálculos da instituição alemã, a exposição dos bancos espanhóis, sobretudo o Santander e o BBVA, chega a 30% do Produto Interno Bruto (PIB) do Chile, a 13% da soma de todas as riquezas do México e a 8,6% do PIB brasileiro. Isoladamente, 25% dos resultados do Santander mundial saem do Brasil.
O Banco Central brasileiro, por sinal, já vem detectando uma forte retirada de recursos do país pelos bancos estrangeiros. De janeiro a junho deste ano, o setor financeiro remeteu ao exterior, em forma de lucros e dividendos, US$ 6,2 bilhões. No mesmo período de 2010, as transferências tinham somado US$ 5,1 bilhões — ou seja, houve um aumento de 21,5%. Segundo os analistas, esse incremento ainda não pode ser considerado como explosivo. Mas, com a gravidade da situação na Europa, em especial na Espanha e na Itália, não há dúvidas de que os bancos vão raspar o que puderem dos países nos quais são lucrativos. Foi o que se viu no auge da crise mundial de 2008.
Contágio
Para o presidente da agência de classificação de riscos Austin Ratings, Erivelto Rodrigues, o momento exige cautela e não se deve superdimensionar o impacto da turbulência europeia sobre a América Latina. “Que o contágio vai ocorrer é um fato. Mas discordo da intensidade que estão falando”, ponderou. No seu entender, os bancos espanhóis não são tão representativos no sistema financeiro brasileiro, que, além de tudo, é muito bem regulado.
O maior deles é o Santander, que foi crescendo depois da compra do Banespa, do Real e do ABN Amro. “Na crise, a tendência é que as instituições sejam chamadas a remeter recursos para as matrizes. Mas só envia lucros e dividendos quem os aufere e está com boa saúde”, disse uma conceituada fonte do mercado financeiro. O ex-diretor do BC afirmou que o problema maior seria a suspensão das linhas de financiamento, que afetaria exportadores e poderia virar um efeito dominó.
Líderes discutem turbulências
O presidente francês, Nicolas Sarkozy, vai discutir hoje a situação dos mercados financeiros com a chanceler alemã, Angela Merkel, e o primeiro-ministro da Espanha, Jose Luis Zapatero. Segundo um assessor de Sarkozy, o líder francês já conversou, ontem, por telefone, com o presidente do Banco Central Europeu (BCE), Jean-Claude Trichet, para discutir a crise na Zona do Euro e a queda das bolsas.