A necessidade de ajustes na linha de produção da Refinaria Gabriel Passos (Regap), em Betim, na Grande BH, para aumentar a capacidade da unidade, deixa postos de combustível da capital e cidades vizinhas sem combustível desde sexta-feira. Operando com 40% a menos de sua capacidade na unidade, a Petrobras estaria deixando de abastecer algumas das principais bandeiras, como Shell, Ipiranga e Ale, e obrigando as distribuidoras a buscar combustível em refinarias de Paulínia (SP) e Duque de Caxias (RJ). Até metade do volume de gasolina e diesel necessário para abastecer os postos tem sido transferido em caminhões-tanque. O problema se soma à insuficiência da atual safra da cana-de-açúcar, o que resulta na elevação do preço do etanol e maior demanda da gasolina. Se persistir o problema, segundo empresários do ramo, a consequência automática será o aumento do combustível nas bombas, revertendo a tendência de queda dos preços e repassando o valor do frete para o consumidor.
A manutenção na linha de produção deve durar três meses. Começou semana passada e deve acabar na última semana de outubro, segundo informações repassadas pela Petrobrás ao Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Combustíveis e de Lubrificantes (Sindicom). A empresa não informa que procedimentos estão sendo feitos na unidade. Com isso, a refinaria trabalha com pouco mais da metade de sua capacidade, enquanto é necessário que funcione no limite máximo para suprir a demanda do estado. Para tentar diluir o problema entre as distribuidoras, a Petrobras estaria limitando o volume de compra, entregando menos da metade do que é pedido pelos postos. “A Regap já vem com problema para atendimento do mercado de Minas há um ou dois anos, tendo ultrapassado seu limite de refino”, afirma o presidente do Sindicom, Alísio Jacques Mendes Vaz.
A estimativa do sindicato é que até 40% do volume de gasolina e diesel consumidos no estado durante a manutenção na Regap venha de outros estados. “Quem paga essa conta são as distribuidoras. É um ônus alto. O correto seria repassar de imediato o custo, mas, por enquanto, isso não foi feito. Estamos ajustando nossas planilhas, mas tudo tem limite. Nossa expectativa é que o problema seja sanado num curto prazo, caso contrário pode ser inevitável [promover reajustes nas bombas]”, afirma o diretor de Operações do Grupo Ale, Eduardo Dominguez.
Vazio
O primeiro relato do problema se deu na sexta-feira. Pela manhã, o empresário Vítor Vinícius Santos Barros tentou comprar estoque de gasolina para abastecer seu posto para o fim de semana, período de maior venda. Ele fez pedido para a distribuidora, de 15 mil litros de gasolina, sendo 10 mil do combustível comum e outros 5 mil da versão aditivada. A resposta veio rápido: não estamos entregando gasolina. Vítor foi informado de que a Regap está operando no limite, mas, com a baixa na produção de álcool, a procura pela gasolina tem aumentado e a refinaria não está conseguindo atender à demanda. Além disso, segundo o empresário, a distribuidora teria argumentado que o boom do número de carros significou aumento exagerado do consumo do combustível.
Contratante da Ipiranga, ele não pode comprar o produto de outra bandeira e, com isso, a partir da noite de sábado, o posto não podia atender seus clientes. Somente ontem ele conseguiu adquirir o produto, mas, em vez dos 15 mil litros pedidos, a distribuidora informou que só poderia entregar 5 mil. A estimativa de prejuízo no período varia entre R$ 4 mil e R$ 5 mil, perda que deve ser coberta pela Ipiranga. “A reposição financeira, eles prometeram, mas e os clientes? E a fidelidade? Agora, eles vão procurar outros postos. Se não tem gasolina aqui, eles vão bater no vizinho”, afirma Vítor, proprietário do Posto Bicame, em Nova Lima.
Problema semelhante foi enfrentado por pelos menos outros dois postos da mesma bandeira no município. Às margens da MG-030, o Posto do Jambreiro ficou sem gasolina na manhã de ontem, enquanto o Posto Fernanda, no trevo do Seis Pistas, até a tarde de ontem só tinha gasolina aditivada, que, naquele posto custa R$ 0,08 mais por litro. Outra opção era abastecer com álcool, mas o valor do litro ultrapassava - e muito - os 70% do valor do litro da gasolina - limite a partir do qual não vale a pena optar pelo derivado da cana-de-açúcar.
Má impressão
No Posto Bicame, a falta de gasolina obrigou o empresário Roni Marcos Vieira a procurar outro estabelecimento. Acostumado a abastecer duas vezes por semana na unidade, desde sábado ele procura por gasolina, mas a resposta dos frentistas é sempre que as bombas estão vazias. “Sei que não é o caso, mas falta de mercadoria dá a impressão de quebradeira”, afirma.
O problema não se resume aos postos de Nova Lima. Em BH, na Avenida do Contorno, no Bairro Floresta, Região Leste, sem conseguir comprar combustível em Minas, o proprietário da unidade, Acendim Afonso, encomendou de São Paulo 10 mil litros de gasolina. “Sexta e segunda não havia gasolina nas distribuidoras. Por isso, comprei fora do estado. A previsão é que chegue amanhã, mas a transportadora pode entregá-lo na quarta-feira. Até lá, meu estoque acaba e vou perder clientes”, afirma.
Até o fechamento desta edição, a Petrobras não respondeu a reportagem do Estado de Minas sobre os motivos do desabastecimento.
O combustível vendido em Minas fechou a semana passada com queda no preço, segundo levantamento da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Petróleo (ANP). O menor valor do litro do álcool caiu de R$ 1,89 na semana entre 24 e 30 de julho para R$ 1,79 de 31 de julho até 6 de agosto, enquanto o valor mais alto teve queda de R$ 2,49 para R$ 2,48. Em relação à gasolina, o preço mínimo litro caiu de R$ 2,51 para R$ 2,49; e o máximo se manteve em R$ 3,09 no mesmo período.
Palavra de especialista
Problema é crônico
Eduardo Dominguez - Diretor de operações do Grupo Ale
Os problemas com a Refinaria Gabriel Passos são expressivos. Metade do volume da gasolina para abastecer Belo Horizonte e Minas Gerais está sendo trazido de outros estados, principalmente Paulínia e Duque de Caxias. É um fato inédito. O ideal é que não houvesse transferência interestadual, mas sim ajustes na linha de produção para solucionar os problemas da Regap, que não acompanha o crescimento do mercado. É necessário fazer investimentos e é o que está sendo feito agora. O problema é que a Petrobras não esperava queda da oferta do etanol no mês que deveria ser o auge da safra da cana-de-açúcar. A busca pela gasolina está maior e surpreendeu a própria estatal. E há ainda outro risco. O polo supridor de BH é Duque de Caxias, que também apresenta histórico de problemas. Qualquer falha lá pode resultar em um desabastecimento geral do estado. Qualquer ‘soluço’ na linha de produção lá acaba comprometendo não só o mercado do Rio de Janeiro como todo o mercado mineiro.