Com os mercados derretidos em reação ao rebaixamento da nota de crédito soberana dos Estados Unidos por uma das três principais agências de classificação de risco, a Standard & Poor’s (S&P), os temores recaem agora sobre as possíveis reavaliações das outras duas: a Fitch e a Moddy’s. O reposicionamento da S&P tirou os EUA do seleto grupo dos países mais confiáveis, que conseguem, por isso, empréstimos a custos mais baixos.
A reclassificação da S&P já era aguardada: a agência avisou que rebaixaria a nota sob duas hipóteses: se o congresso não aumentasse o teto da dívida ou se os cortes previstos reduzissem menos US$ 4 trilhões em 10 anos o déficit do orçamento. Essa era a promessa do presidente Barack Obama, que não se confirmou: US$ 2,1 trilhões foi o valor do plano aprovado no congresso.
A Fitch avisou que vai concluir a revisão do rating soberano dos EUA no fim do mês. A agência sinalizou que o acordo para redução no déficit orçamentário e aumento no limite de endividamento aprovado pelo congresso americano no início do mês é passo na direção certa, mas ainda precisarão ser feitas escolhas difíceis para diminuir o buraco nas contas.
A decisão do congresso também fez com que a Moody’s mantivesse a avaliação AAA, mas a agência acrescentou “perspectiva negativa” para a nota, informando que o rebaixamento ainda pode ocorrer, se a disciplina fiscal enfraquecer ou o crescimento econômico se deteriorar significativamente. Steven Hass, analista da Moody’s disse ao New York Times que considerou “prematuro” o corte da notação, por parte da S&P.
O presidente do clube de negócios internacional, World Trade Center Belo Horizonte, Leonardo Figueiró não acredita que as demais agências de classificação de risco sigam o exemplo da S&P. Para Paulo Vieira, professor da Faculdade Novos Horizontes e especialista em finanças, não há receita pronta para buscar soluções para o problema: “Temos várias doenças espalhadas nas economias. Por aqui, talvez, já seja o caso de reconsiderar a possibilidade de reduzir os juros. Nos EUA, é preciso cortar gastos para equilibrar a balança fiscal. E a Europa tem de descobrir uma forma de cuidar de política monetária, mesmo com tantos países de contextos tão diversos”. Ele lembra que toda crise é sinal de quem algo vai mal no organismo e, passada a turbulência, a tendência é o reequilíbrio da saúde dos afetados.
A França é o país mais vulnerável entre as notas de risco soberano classificadas como AAA a ser o próximo a perder o status de melhor qualidade de crédito, conforme sinaliza o preço que os investidores pagam para comprar o seguro contra um possível calote na dívida dos países, conhecido como CDS (Credit Default Swap). Para se ter ideia, o custo por seguro pago hoje pelos investidores indica que a probabilidade de o Brasil dar um calote na sua dívida pública nos próximos cinco anos é menor que o da França, embora o governo francês tenha uma classificação de risco nove níveis acima da brasileira pela S&P. (Com agências)
Crises que ficaram na história
1929 - A grande depressão
De outubro de 1929 a 1932, as ações em Wall Street perderam 90% de valor e um terço da população estava desempregada. Foi a maior crise financeira dos EUA e os motivos que levaram ao crash são controversos até hoje entre economistas. No Brasil, a queda do preço do café, um dos principais produtos de exportação do país, à época, foi o maior efeito.
1973 e 1979 - Petróleo
A Organização dos Países Árabes Exportadores de Petróleo decide, a partir da Guerra do Yom Kippur, cancelar a exportação de petróleo para países contrários ao Egito e à Síria no conflito com Israel. Os preços dispararam e chegaram aos US$ 12 em 1974, quatro vezes mais do que no ano anterior. O efeito mais notável no Brasil foi a desaceleração do crescimento iniciado com o chamado “milagre econômico”: de 9% para 4,6% em 1978. Em 1979, nova turbulência: o Ayatollah Khomeini passa a controlar a produção de petróleo no Irã, causando segunda disparada e temores de racionamento energético nos EUA. A dívida brasileira inchou com os crescentes custos da importação do petróleo.
1982 - Moratória mexicana
O México atola-se em uma crise que culmina com a moratória do governo mexicano em agosto de 1982. Entre os mais de 40 países que recorreram ao FMI, estava o Brasil, que viu a retração do PIB em 5% e a inflação ultrapassar os 200%.
1987 - Queda histórica
Em 19 de outubro de 1987, o índice Down Jones teve a maior queda de sua história em um único dia: 22,6%. Combinação de temores com os empréstimos bancários, desaceleração da economia e desvalorização da moeda americana injetaram pânico nos mercados daquele país e o temor se alastrou pela Europa e pelo Japão. Foi a primeira demonstração de rápido contágio e pânico em mercado financeiro globalizado. O Brasil quebrou novamente, suspendendo o pagamento da dívida.
1997 - Bolsas asiáticas
O rápido processo de fuga de capitais e desvalorização cambial entre os chamados Tigres Asiáticos (Tailândia, Malásia, Coréia do Sul, Hong Kong, Indonésia e Filipinas), em 1997, espalhou medo nos mercados internacionais. O mundo financeiro se surpreendeu ao ver mercados supostamente sólidos e confiáveis sucumbirem à crise. O mercado dos emergentes foi afetado, mas o Brasil nem tanto.
1998 - Rússia
O preço dos commodities derrubado pela crise asiática afetou a Rússia, cuja economia tem ampla dependência da exportação de commodities como gás natural e petróleo. O gigante declarou calote da dívida externa privada de curto prazo. A manobra acendeu a luz de alerta entre os investidores, que passaram a evitar mercados emergentes. Desta vez o Brasil foi afetado, com forte fuga de dólares. O governo reagiu elevando a taxa de juros – que chegou ao pico de 45% no início de 1999 – e desvalorizando o real, que até então mantinha a paridade com o dólar.
2001 - Ataques de 11 de setembro
Os atentados terroristas às torres gêmeas do World Trade Center em Nova York impactaram fortemente a economia americana. A queda de 1370 pontos no índice Dow Jones foi uma das piores do século, com os investidores perdendo mais de US$ 8 trilhões ou 10% do valor total do mercado de ações. Uma recessão atingiu os Estado Unidos e surgiram as primeiras advertências sobre os riscos no mercado imobiliário.
2008 - Crise do crédito imobiliário
Com origem nas hipotecas americanas, a crise imobiliária foi resultado dos baixos juros e as boas condições de financiamento: muitas pessoas compraram imóveis e se endividaram. O juro subiu, a economia desaqueceu e a inadimplência aumentou. Os bancos que emprestaram dinheiro começam a mostrar o rombo. O auge foi a quebra do Lehman Brothers. Além disso, o preço dos imóveis caiu. Pagando prestação mais alta e com o valor do bem menor, os norte-americanos reduziram o consumo. A bolha americana contaminou o mundo.
A reclassificação da S&P já era aguardada: a agência avisou que rebaixaria a nota sob duas hipóteses: se o congresso não aumentasse o teto da dívida ou se os cortes previstos reduzissem menos US$ 4 trilhões em 10 anos o déficit do orçamento. Essa era a promessa do presidente Barack Obama, que não se confirmou: US$ 2,1 trilhões foi o valor do plano aprovado no congresso.
A Fitch avisou que vai concluir a revisão do rating soberano dos EUA no fim do mês. A agência sinalizou que o acordo para redução no déficit orçamentário e aumento no limite de endividamento aprovado pelo congresso americano no início do mês é passo na direção certa, mas ainda precisarão ser feitas escolhas difíceis para diminuir o buraco nas contas.
A decisão do congresso também fez com que a Moody’s mantivesse a avaliação AAA, mas a agência acrescentou “perspectiva negativa” para a nota, informando que o rebaixamento ainda pode ocorrer, se a disciplina fiscal enfraquecer ou o crescimento econômico se deteriorar significativamente. Steven Hass, analista da Moody’s disse ao New York Times que considerou “prematuro” o corte da notação, por parte da S&P.
O presidente do clube de negócios internacional, World Trade Center Belo Horizonte, Leonardo Figueiró não acredita que as demais agências de classificação de risco sigam o exemplo da S&P. Para Paulo Vieira, professor da Faculdade Novos Horizontes e especialista em finanças, não há receita pronta para buscar soluções para o problema: “Temos várias doenças espalhadas nas economias. Por aqui, talvez, já seja o caso de reconsiderar a possibilidade de reduzir os juros. Nos EUA, é preciso cortar gastos para equilibrar a balança fiscal. E a Europa tem de descobrir uma forma de cuidar de política monetária, mesmo com tantos países de contextos tão diversos”. Ele lembra que toda crise é sinal de quem algo vai mal no organismo e, passada a turbulência, a tendência é o reequilíbrio da saúde dos afetados.
A França é o país mais vulnerável entre as notas de risco soberano classificadas como AAA a ser o próximo a perder o status de melhor qualidade de crédito, conforme sinaliza o preço que os investidores pagam para comprar o seguro contra um possível calote na dívida dos países, conhecido como CDS (Credit Default Swap). Para se ter ideia, o custo por seguro pago hoje pelos investidores indica que a probabilidade de o Brasil dar um calote na sua dívida pública nos próximos cinco anos é menor que o da França, embora o governo francês tenha uma classificação de risco nove níveis acima da brasileira pela S&P. (Com agências)
Crises que ficaram na história
1929 - A grande depressão
De outubro de 1929 a 1932, as ações em Wall Street perderam 90% de valor e um terço da população estava desempregada. Foi a maior crise financeira dos EUA e os motivos que levaram ao crash são controversos até hoje entre economistas. No Brasil, a queda do preço do café, um dos principais produtos de exportação do país, à época, foi o maior efeito.
1973 e 1979 - Petróleo
A Organização dos Países Árabes Exportadores de Petróleo decide, a partir da Guerra do Yom Kippur, cancelar a exportação de petróleo para países contrários ao Egito e à Síria no conflito com Israel. Os preços dispararam e chegaram aos US$ 12 em 1974, quatro vezes mais do que no ano anterior. O efeito mais notável no Brasil foi a desaceleração do crescimento iniciado com o chamado “milagre econômico”: de 9% para 4,6% em 1978. Em 1979, nova turbulência: o Ayatollah Khomeini passa a controlar a produção de petróleo no Irã, causando segunda disparada e temores de racionamento energético nos EUA. A dívida brasileira inchou com os crescentes custos da importação do petróleo.
1982 - Moratória mexicana
O México atola-se em uma crise que culmina com a moratória do governo mexicano em agosto de 1982. Entre os mais de 40 países que recorreram ao FMI, estava o Brasil, que viu a retração do PIB em 5% e a inflação ultrapassar os 200%.
1987 - Queda histórica
Em 19 de outubro de 1987, o índice Down Jones teve a maior queda de sua história em um único dia: 22,6%. Combinação de temores com os empréstimos bancários, desaceleração da economia e desvalorização da moeda americana injetaram pânico nos mercados daquele país e o temor se alastrou pela Europa e pelo Japão. Foi a primeira demonstração de rápido contágio e pânico em mercado financeiro globalizado. O Brasil quebrou novamente, suspendendo o pagamento da dívida.
1997 - Bolsas asiáticas
O rápido processo de fuga de capitais e desvalorização cambial entre os chamados Tigres Asiáticos (Tailândia, Malásia, Coréia do Sul, Hong Kong, Indonésia e Filipinas), em 1997, espalhou medo nos mercados internacionais. O mundo financeiro se surpreendeu ao ver mercados supostamente sólidos e confiáveis sucumbirem à crise. O mercado dos emergentes foi afetado, mas o Brasil nem tanto.
1998 - Rússia
O preço dos commodities derrubado pela crise asiática afetou a Rússia, cuja economia tem ampla dependência da exportação de commodities como gás natural e petróleo. O gigante declarou calote da dívida externa privada de curto prazo. A manobra acendeu a luz de alerta entre os investidores, que passaram a evitar mercados emergentes. Desta vez o Brasil foi afetado, com forte fuga de dólares. O governo reagiu elevando a taxa de juros – que chegou ao pico de 45% no início de 1999 – e desvalorizando o real, que até então mantinha a paridade com o dólar.
2001 - Ataques de 11 de setembro
Os atentados terroristas às torres gêmeas do World Trade Center em Nova York impactaram fortemente a economia americana. A queda de 1370 pontos no índice Dow Jones foi uma das piores do século, com os investidores perdendo mais de US$ 8 trilhões ou 10% do valor total do mercado de ações. Uma recessão atingiu os Estado Unidos e surgiram as primeiras advertências sobre os riscos no mercado imobiliário.
2008 - Crise do crédito imobiliário
Com origem nas hipotecas americanas, a crise imobiliária foi resultado dos baixos juros e as boas condições de financiamento: muitas pessoas compraram imóveis e se endividaram. O juro subiu, a economia desaqueceu e a inadimplência aumentou. Os bancos que emprestaram dinheiro começam a mostrar o rombo. O auge foi a quebra do Lehman Brothers. Além disso, o preço dos imóveis caiu. Pagando prestação mais alta e com o valor do bem menor, os norte-americanos reduziram o consumo. A bolha americana contaminou o mundo.