O ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou hoje que o governo tem a intenção de generalizar a desoneração da folha de pagamento das empresas para toda a economia. "Claro que não imediatamente; em fases, de acordo com as nossas possibilidades" declarou, em audiência na Câmara dos Deputados. Mantega apresentou as linhas gerais do Plano Brasil Maior, lançado na semana passada para ajudar a indústria brasileira a enfrentar a concorrência internacional. Ele lembrou que a desoneração da folha começará por quatro setores intensivos em mão de obra do setor manufatureiro.
"O setor manufatureiro vem sofrendo no mundo todo e, com o aumento da concorrência dos importados, tomamos medidas para ajudar o nosso setor a agregar valor aos nossos produtos. O Brasil Maior visa dar condições para as empresas brasileiras estarem mais bem preparadas do que as estrangeiras que vêm aqui" explicou o ministro. "Temos um mercado interno forte."
Mantega disse que o governo quer, com a desoneração da folha de pagamentos, reduzir o custo das empresas, sem prejuízo para a Previdência Social. Segundo ele, a medida torna os setores mais competitivos. "Há setores que exportam tributo", disse. Mantega afirmou ainda que o governo vai analisar a repercussão do projeto-piloto iniciado com os quatro setores - móveis, calçados têxteis e software - antes de ampliá-lo.
"Nós esperamos, ao baratearmos a folha das empresas, combater a informalidade e estimular o emprego no Brasil, além de estarmos desonerando as exportações. É muito vantajoso para as empresas", afirmou o ministro. Ele destacou que o Tesouro vai cobrir eventuais perdas que a Previdência Social venha a ter com a desoneração da folha.
Gastos
Mantega disse que, para o país atravessar essa fase de turbulência econômica, é recomendável manter a solidez fiscal e que os demais poderes contribuam, não fazendo propostas de aumento de gastos. "É importante que haja sintonia entre poderes da República, o que não ocorreu nos EUA", disse o ministro, para uma plateia de deputados federais.
Mantega afirmou que não sabe quais serão os desdobramentos da crise internacional em curso, mas indicou duas possibilidades. A primeira é a de um quadro crônico de crise, em que os problemas não são resolvidos.
"O Brasil está preparado para lidar até com agravamento da crise. Não quer dizer que será sem ônus. Teremos ônus, sim, mas temos condições de sofrer menos que os outros", afirmou o ministro. Ele destacou que um dos elementos que permitem ao Brasil se sair melhor em um quadro de crise é a "política fiscal sólida" do País. Mantega destacou que o Brasil é um dos poucos países que tem sua dívida em queda em meio às turbulências. "Temos situação fiscal privilegiada", disse.
Margem de manobra
O ministro da Fazenda afirmou que o governo tem "um raio de manobra" na política monetária para enfrentar a crise econômica mundial, o que os americanos não têm. Mantega previu que as políticas do governo dos EUA devem continuar jogando mais liquidez no mercado, o que deve trazer mais divisas para o Brasil, mantendo a desvalorização do dólar.
"A economia dos EUA está com juro zero e já jogou dinheiro na economia, então não tem muito mais o que fazer", disse o ministro. Além da política monetária, Mantega destacou o aumento das reservas internacionais brasileiras, que estão cerca de US$ 150 bilhões acima do nível de 2008, como um dos instrumentos para enfrentamento do atual estágio da crise. Além disso, lembrou que o Brasil tem a experiência acumulada de 2008.
O ministro disse que a economia do Brasil depende principalmente do mercado interno. Apenas 13% do Produto Interno Bruto (PIB) são compostos pelas exportações brasileiras, contra 40% na China. "Por isso, dependemos mais do mercado interno. O Brasil está preparado. Tem dinamismo que os outros países não têm, mas não quer dizer que não teria impacto no Brasil se houver deterioração do quadro", afirmou.
Mantega disse que o governo vai administrar o cenário internacional e, se for necessário, tem condições de tomar novas medidas. "E se preciso, pediremos ao Parlamento ajuda e faremos em conjunto", destacou o ministro.