Os produtores de café do Sul de Minas Gerais ainda contabilizam os prejuízos com a geada que surpreendeu as lavouras na última semana. Produtores dos municípios mais atingidos chegam a estimar que o frio excessivo prejudique até metade de sua produção, como é o caso dos associados da Cooperativa Regional de Cafeicultores de Guaxupé Ltda (Cooxupé).
As temperaturas na madrugada de quinta para sexta-feira chegaram aos 3°C negativos em áreas isoladas de várias cidades de produção cafeeira significativa. Em uma das regiões mais afetadas, o fenômemo climático atingiu cerca de 15% do parque plantado em Guaxupé, Muzambinho, Cabo Verde, Poços de Caldas, Alfenas, Campos Gerais, Campo do Meio e Botelhas, segundo Lúcio Dias, superintendente comercial da Cooxupé. "Não conseguimos precisar o estrago ainda, mas a estimativa é que a produção seja impactada em até 2 milhões de sacas", diz Dias. A cooperativa produz, em média, 5 milhões de sacas ao ano.
O prejuízo estimado pela Cooperativa dos Cafeicultores da Zona de Três Pontas (Cocatrel) também é considerável. Segundo Roberto Felicore, gerente do departamento técnico da instituição, a geada afetou principalmente os plantios de altitudes mais baixas, terrenos planos a 800 metros. "Qualquer frio intenso já causa desarranjo hormonal, mesmo nos locais onde não há
Já produtores reunidos em rede social virtual no site Peabirus relatam que os impactos podem tomar proporções desastrosas. "A geada não foi brincadeira, o prejuízo será muito maior do que estamos estimando. Cafezais preparados para produzir ano que vem foram para o espaço", comentou Arnaldo Reis Caldeira Júnior, de Carmo da Cachoeira, na página da internet.
Os técnicos da Conab devem ir a campo na próxima semana e o órgão promete divulgar o número oficial do estrago somente no final do mês. "O impacto deve ser sentido na produção do ano que vem, uma vez que os grãos da próxima safra já estão em maturação suficiente para sobreviver à dimensão moderada da geada registrada na última semana", diz Carlos Bestetti, gerente de avaliação de safras da Conab. O Conselho Nacional do Café ainda conclui os levantamentos junto às cooperativas para estimar o prejuízo.
O mercado, contudo, não espera. A notícia da geada repercutiu com o aumento do preço do café na cotação internacional já na última semana. A tendência de queda no valor da saca foi revertida na própria sexta-feira, segundo indicadores do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, da Universidade de São Paulo (USP). Na sexta, o crescimento foi de 1,51%. A tendência de aumento se confirma esta semana. No mês, o preço da saca de 60kg líquido, do indicador café arábica, acumula alta de 1,46%. Chegou nessa quarta-feira a US$ 275,45, segundo o Cepea/Esalq.
Pressão na xícara
Os preços do café no mercado interno devem se manter em níveis elevados nos próximos meses, por causa do aperto na oferta, segundo o presidente da Melitta do Brasil, Bernardo Wolfson. Ele explicou que a safra brasileira deste ano é menor do que a do ano passado e tem sido considerada de excelente qualidade, o que deve estimular a exportação. Com isso, haverá menor disponibilidade do grão para o mercado interno.
A safra brasileira deste ano está estimada em 43,5 milhões de sacas de 60 kg, o que representa redução de quase 10% em comparação com o ano passado (48,1 milhões de sacas). Atualmente, o contrato futuro de café arábica na BM&FBovespa é cotado com prêmio em relação ao contrato do produto na Bolsa de Nova York, tido como referência para o mercado.
O que nos interessa
Repasse nas gôndolas
Eventos climáticos como o que atingiu as lavouras de café na semana passada acabam impactando diretamente o bolso do consumidor. Com a demanda aquecida por alimentos, os preços das commodities estão em alta na cotação internacional, já que os estoques mundiais não dão conta do consumo no planeta. O mercado costuma responder imediatamente a notícias como essa, o que reforça a cautela dos produtores na divulgação precisa dos impactos. O peso maior, contudo, deve se fazer sentir no ano que vem, quando a redução da produção chegar às prateleiras.