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Estado de Minas

Etanol também começa a sumir dos postos de BH

Pressão por reajustes ganha fôlego no mês que vem, com a entressafra


postado em 19/08/2011 06:00 / atualizado em 19/08/2011 08:51

 

Chumbo trocado: depois de baixar o valor do derivado da cana em R$ 0,20, Posto do Papai, no Bairro Floresta, ficou sem o produto(foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)
Chumbo trocado: depois de baixar o valor do derivado da cana em R$ 0,20, Posto do Papai, no Bairro Floresta, ficou sem o produto (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)
A tão esperada trégua no preço dos combustíveis deve estar longe de chegar ao fim. Para complicar, o álcool, que ficou mais barato nos postos que queriam equilibrar os estoques e evitar o desabastecimento da gasolina, também já está em falta em algumas bombas. O pior é que, depois de concluída a manutenção da Refinaria Gabriel Passos (Regap) que vem refletindo no aumento dos custos e na falta do derivado do petróleo nos postos do estado, prevista para setembro, tem início a entressafra da cana-de-açúcar. Historicamente, o período já é de pressões de alta no valor da gasolina devido à falta de álcool no mercado em Minas. A diminuição no fornecimento de cana começa a ser observada no próximo mês e, a partir daí, a tendência é de aumento gradativo no preço dos combustíveis. A variação poderá superar expressivos R$ 0,10, o que significa a manutenção dos valores acima da casa de R$ 3 para o litro da gasolina (que tem em sua composição 25% de álcool anidro).

Em postos da capital e do interior, por causa do desabastecimento causado pela manutenção na Regap, a solução encontrada pelos proprietários foi diminuir o preço do álcool e aumentar o da gasolina para forçar os motoristas que têm carro flex a optar pelo etanol. No Posto do Papai, na Rua Flávio dos Santos, no Bairro Floresta, em BH, a solução encontrada foi reduzir em R$ 0,20 o valor do álcool para evitar a seca das bombas. A partir daí, no comparativo entre preço e eficiência passou a ser vantajoso abastecer com o etanol. “Abaixamos para nivelar com a gasolina. Não é possível haver o desabastecimento. É preciso ter respeito com os clientes”, afirma o gerente do posto, Walter Lopes, ressaltando que, diferentemente de outros locais, a decisão foi aumentar só R$ 0,03 no litro da gasolina, o equivalente ao valor que foi repassado pela distribuidora para custear o preço do frete da gasolina. A consequência da medida foi que na segunda-feira faltou etanol. “Antes, todos carros flex escolhiam gasolina. Agora mudou um pouco”, diz o gerente. Considerando a diferença de consumo entre os dois combustíveis, ele pondera que “vende-se 10 vezes mais gasolina”.

Levantamento feito pelo Estado de Minas mostra que, nos últimos três anos, a partir de setembro, o preço da gasolina sempre cresceu entre setembro e o fim do ano. O maior reajuste foi registrado em 2009, quando, entre agosto e dezembro, o preço do litro do combustível subiu 4,27% ou R$ 0,101. Segundo o membro do Conselho Fiscal do Sindicato do Comércio Varejista de Derivados do Petróleo do Estado de Minas Gerais (Minaspetro), Paulo Eduardo Rocha Machado, todo ano o álcool sobe no período da entressafra e, neste ano, a previsão é que não seja diferente. A tendência, segundo ele, é que seja ainda pior, tendo em vista a produção insuficiente de cana-de-açúcar nos últimos meses. “Recebemos um alerta das distribuidoras informando que o litro do álcool anidro já sofreu aumento de R$ 0,05 e novos aumentos estão previstos para as próximas semanas”, afirmou Machado, em audiência pública ontem na Comissão de Defesa do Consumidor e do Contribuinte da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG).

Na avaliação do empresário, o principal fator que contribuiu para o reajuste de até R$ 0,20 no preço da gasolina na capital é a escassez do produto e não o valor do frete. Diferentemente da posição de representantes da Regap, que insistem estar fornecendo combustível suficiente para evitar desabastecimento, ele argumenta que, apesar disso, por problemas de logística, postos estão enfrentando a falta do produto. “O problema do frete é bem menor. As distribuidoras repassaram R$ 0,01, R$ 0,02 ou R$ 0,06, mas o esse aumento superior é a estratégia usada para não faltar o produto. Um posto só resiste ao bancar o preço baixo por vender grande volume”, diz Machado.

Especulação?

O aumento excessivo dos preços é apontado pelo deputado estadual Délio Malheiros (PV) como indício de movimento especulativo, orientando aos consumidores que atentem para tais problemas: “Se for pura especulação, vamos à Justiça”, adverte o parlamentar.

Também participaram da audiência na Assembleia outros representantes do setor de combustíveis incumbidos de debater o problema da Regap e possíveis soluções. Questionado sobre a possibilidade de a indústria do etanol suprir a falta da gasolina, o presidente Associação das Indústrias Sucroenergéticas de Minas Gerais (Siamig), Luiz Custódio Cotta Martins, foi sucinto: “Infelizmente não tenho uma boa notícia. O etanol estava barato e agora está no preço normal”, afirma o empresário, alertando que, nos próximos meses, o álcool pode ter aumento de até R$ 0,10 nas bombas, o que significa reajuste aproximado de 5% que, por consequência, impulsiona o valor da gasolina.

E os valores podem extrapolar a casa de R$ 3, caso a Petrobras não cumpra os prazos determinados. O gerente de Empreendimento da Regap, Vitor Márcio de Meniconi reafirmou que em 1º de setembro a unidade volta a operar normalmente, produzindo 160 milhões de litros de gasolina por mês, e não os 120 milhões de litros que produzirá este mês por causa da manutenção. “Nossa última parada foi em 2006. E as distribuidoras sabiam da parada técnica de agosto. Caso não tivessem sido avisadas, por contrato, teríamos que ressarci-las dos prejuízos”, afirma, ressaltando que o mês foi escolhido por historicamente haver menor consumo.

Outros tempos
E os tanques enterrados no chão ficavam vazios

(foto: Arquivo EM-10/10/1975)
(foto: Arquivo EM-10/10/1975)

Pedro Lobato
A sexta-feira ainda se recusava a entregar os pontos a favor do esperado fim de semana quando o telefone (na época só existia o fixo) tocava em quase todos os escritórios. Eram parentes ou amigos cumprindo a irrecusável obrigação de avisar: “Há um fila crescendo no posto de gasolina da esquina.” Era uma espécie de senha universal, que todo motorista dos anos de 1970 e boa parte da década seguinte conhecia. Significava que os preços dos combustíveis iam ser aumentados à noite. Como autômatos, corríamos a engrossar a tal fila e, é claro, provocar o que mais temíamos, o esgotamento, em poucas horas, do tanque enterrado no chão. E houve um tempo em que, para racionar combustível, os postos das estradas não podiam abrir nos feriados e fins de semana. Como bons brasileiros, todos tínhamos galões de plástico no porta-mala que garantiam abastecimento extra e tornavam a fila do posto ainda mais demorada. São tormentos que julgávamos enterrados pela tecnologia dos motores flex e pelos modernos recursos de planejamento. Agora se confirma: no Brasil, quando tudo vai bem, não convém elogiar.


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