O destino do minério de baixo teor de ferro era, até agora, a barragem de rejeito. Considerado um passivo ambiental e uma dívida com a sociedade, o local será explorado como negócio pela Vale. A mineradora vai implantar um novo processo de mineração, com tecnologia que permitirá a extração de até 31 milhões de toneladas de minério de ferro, de 2013 a 2018, em oito barragens localizadas em Minas Gerais. É uma produção equivalente a uma mina de pequeno porte da companhia no estado.
Avanços tecnológicos, somados ao elevado preço pago pelo minério de ferro no mercado mundial, permitirão que a Vale reaproveite o material depositado em barragens de rejeitos e o transforme em produto final de mesma qualidade do já comercializado. "Antes, as plantas de concentração para beneficiar o rejeito eram de pequeno porte, usavam muita energia e a qualidade ainda era baixa. Isso mudou", disse Lúcio Cavalli, diretor de Planejamento e Desenvolvimento de Ferrosos da Vale.
Os estudos indicam a possibilidade de produzir 1 milhão de toneladas no primeiro ano, 5,5 milhões de toneladas em 2014 e 6,5 milhões de toneladas anuais, entre 2015 e 2018. O material depositado possui, em média, um teor de ferro de 35%, patamar semelhante do explorado pela MMX na região de Serra Azul, no Quadrilátero Ferrífero. Depois de passar pelas novas plantas de concentração que serão instaladas, entretanto, deve atingir o nível de 62% de teor de ferro.
NOVIDADE A tecnologia a ser empregada é a concentração magnética de grande capacidade. Trata-se de um processo já conhecido nas áreas operacionais da Vale para produção de minério de ferro, no entanto, nunca antes usado para beneficiar material extraído de barragens. Os investimentos no desenvolvimento da tecnologia e na construção das plantas de concentração não foram revelados.
Do total das barragens que receberão o novo processo, uma está no Complexo Vargem Grande e outra em Mutuca (Nova Lima), três na Mina de Fábrica (Congonhas e Ouro Preto), uma em Córrego do Feijão (Brumadinho), uma na Mina do Pico (Itabirito) e outra na Mina de Alegria (Mariana). A expectativa é de que sejam retirados cerca de 35% do material atual das barragens em avaliação.
Embora sejam necessários ajustes em cada uma das unidades onde o rejeito será beneficiado, o processo de produção seguirá as mesmas etapas. O minério será retirado das barragens por caminhões e escavadeiras ou por bombeamento e dragagem. Em seguida, será levado até novas plantas de concentração. Depois de beneficiado, vai para o pátio de estoques já existente na mina e, daí por diante, utilizará a estrutura logística de escoamento já implantada.
Assim, o resíduo das operações da mineradora, antes descartado, será transformado no produto final pellet feed, uma qualidade de minério fino. "Além de ganhos econômicos e de produtividade, teremos benefícios ambientais. Poderemos, por exemplo, evitar a construção de outras barragens", afirmou Cavalli.
Para Paulo Prado Costa, diretor da Bios Consultoria, embora seja uma oportunidade de negócio, é também a solução para um passivo que ficaria para as gerações futuras darem um fim. "O passivo está se transformando em ativo. Usar o material depositado nas barragens de rejeito é uma alternativa economicamente viável e ambientalmente correta", avalia.