A Região Metropolitana de Belo Horizonte voltou a registrar a maior inflação do país no acumulado do ano. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo-15 (IPCA-15), prévia da inflação oficial do país, foi de 0,25% em agosto, de 4,82% no acumulado do ano e de 7,42% nos últimos 12 meses. Na média nacional, os indicadores foram de, respectivamente, 0,27%, 4,48% e 7,10%. Os dados foram divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Na quarta-feira, a Fundação Getulio Vargas (FGV) já havia informado que o Índice de Preços ao Consumidor Semanal (IPC-S) em BH tinha migrado de -0,10% para 0,22%, sendo o maior aumento em ponto percentual (0,32p.p.) entre as sete capitais pesquisadas.
Na pesquisa da FGV, as frutas foram as grandes vilãs, sobretudo o limão. Agora, segundo o IBGE, a culpa recai, principalmente, nos vestuários, item em que o IPCA-15 apurou alta de 0,08% para 0,89%, e no conjunto alimentação e bebidas, cujo percentual negativo registrado em julho (-0,24%) mudou para positivo: 0,37%. "No caso do vestuário, destaque para aumento da roupa feminina (de -0,32% para 0,87%). Esse grupo não deve continuar pressionando a inflação. Já no caso dos alimentos, alguns produtos podem continuar pressionando, como a carne", avaliou Antônio Braz, economista do IBGE.
O preço médio da carne, que havia registrado índice negativo na última pesquisa (-1,63%), avançou para 1,77% neste levantamento. Assim como em Minas, o grupo alimentação também fomentou a inflação em nível nacional. Depois de uma queda em julho, de -0,39%, o conjunto fechou agosto em 0,21%. Várias mercadorias que estavam em queda no mês anterior subiram no país em agosto, como o feijão carioquinha, de -0,73% para 1,21%; o arroz, de -1,29% para 0,34%; e as carnes, de -1,50% para 0,52%.
RESTAURANTES O diretor de Política econômica do Banco Central, Carlos Hamilton Araújo, minimizou os novos números do IPCA-15 de agosto. "O principal aumento do índice foi alimentação, que sofre um padrão sazonal. É algo típico do período". A escalada no preço dos alimentos impulsionou o item refeição em restaurante, que registrou alta de 0,92% no país.
Em Belo Horizonte, quem almoça diariamente fora de casa reclama dos valores cobrados pelos estabelecimentos. "O quilo em alguns self services subiu cerca de 30% nos últimos dois meses. Acredito que se deve ao preço da carne. Aliás, está tudo subindo. Até o condomínio do meu prédio passou de R$ 130 para R$ 180", reclamou o comerciante Marcos Lima Neto, de 68 anos.
Por sua vez, o psicólogo Claudiano Lamego, de 39, que mora no Bairro Serra, na Região Centro-Sul, avalia que parte da alta dos alimentos também se deve aos reajustes dos aluguéis dos imóveis. "Os preços (dos produtos) em bares e restaurantes aumentaram demais. Os aluguéis devem ter participação nisso. É a especulação imobiliária", acredita. De acordo com o IBGE, o conjunto habitação, do qual o aluguel faz parte, cresceu 0,46% em agosto. Se levado em conta a média nacional, acumula alta de 4,31% desde janeiro.
DAQUI PARA O FUTURO
Custos avançam, consumo também
Economista da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL-BH), Ana Paula Bastos avalia que a inflação em Belo Horizonte avançará um pouco neste semestre, mas o indicador não fugirá do teto estabelecido pelo governo federaln (6,5%). O aumento dos preços será impulsionado, por exemplo, pelo setor de transportes e alimentos. No primeiro caso, devido aos dissídios das categorias do transporte. No segundo, por causa do período de entressafra. A boa notícia para o comércio é que as pessoas não vão deixar de consumir. Aliás, explica a especialista, "o comércio e os serviços são as molas do Produto Interno Bruto (PIB)". E acrescenta: "Apesar de todas as medidas adotadas pelo governo para restringir o crédito, continua uma demanda alta". Isso ocorre em razão do aumento da renda das famílias, impulsionadas pela geração de emprego. Basta lembrar que muitas vagas são abertas na construção civil, um dos principais setores beneficiados com a Copa de 2014.