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Estado de Minas

Preço do feijão sobe sete vezes mais que a inflação em BH


postado em 22/08/2011 06:08 / atualizado em 22/08/2011 08:18

Quebra da safra tem impacto sobre pratos típicos mineiros, como o tutu(foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)
Quebra da safra tem impacto sobre pratos típicos mineiros, como o tutu (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)
Presente em praticamente todos os lares do país, o feijão impulsionou a inflação em Belo Horizonte, pesou no bolso da dona de casa que adora preparar pratos tradicionais com o ingrediente como carro-chefe, caso do tutu e do tropeiro, e causou muita dor de cabeça a donos de restaurantes, que não têm como repassar todo aumento à clientela sem o risco de perder a freguesia. De janeiro a julho, o preço do grão, rico em proteína e ferro, subiu sete vezes mais do que o Índice Nacional de Preço ao Consumidor Amplo (IPCA), a inflação oficial da capital mineira. Enquanto o indicador avançou 4,36%, o quilo do carioquinha saltou 33,9%, de R$ 1,68 para R$ 2,25, segundo a Central de Abastecimento S.A. (Ceasa Minas). Nos supermercados e mercearias, porém, os preços são ainda mais salgados.

A situação só não é pior em razão de o preço do arroz, seu companheiro inseparável, ter registrado queda no período, de R$ 1,61 para R$ 1,46, de acordo com a Ceasa. “Esse grão está com boa oferta”, resume Ricardo Fernandes Martins, coordenador de Informações de Mercado da Central. Já o feijão…

Há duas explicações para a alta. E ambas envolvem os três estados que mais produzem feijão no país: Paraná, Minas e Bahia, pela ordem. A primeira começou logo no início do ano. Devido ao preço baixo do grão à época, produtores paranaenses e mineiros optaram por trocá-lo por outra cultura, como o milho, cujo valor no mercado externo ia de vento em popa.

Para se ter uma ideia, no início do ano, quando ocorre a primeira safra, um hectare de feijão rendia ao produtor cerca de R$ 910 pois a área permite a colheita de 10 sacas de 60 quilos, com cada uma valendo R$ 91, na ocasião. Já um hectare de milho favorecia o bolso do agricultor em R$ 3 mil, uma vez que a mesma área possibilita a colheita de 100 sacas, com cada uma avaliada, naquele período, em R$ 30. A queda no volume de feijão nas três safras mineiras é prevista em 2,4%, de acordo com a Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa).

No Paraná, maior produtor, relatório do Departamento de Economia Rural (Deral), vinculado à Secretaria da Agricultura e Abastecimento (Seab) de lá, apontou que a extensão de terra para o plantio da segunda safra do grão este ano foi 7% menor do que a de 2010: 178,3 mil hectares, contra 191,1 mil hectares. A decisão dos fazendeiros de trocar o feijão pelo milho se deve a vários fatores, como o aumento da importação deste segundo grão devido ao aumento do consumo mundial de carne. Pode soar estranho, mas o milho é a base da ração de vários animais.

Mais: boa parte do milho produzido nos Estados Unidos, maior produtor mundial, foi destinado, no primeiro semestre, à fabricação de etanol, o que abriu espaço para outros países nos negócios com o grão. O Brasil aproveitou a oportunidade. Tanto que o porto de Paranaguá (PR), um dos principais do país, registrou crescimento de 16% na exportação do grão, no confronto entre o primeiro quadrimestre do ano e igual período de 2010: 426 mil toneladas contra 368 mil.

Falta de chuva

O segundo importante motivo para a alta do preço do feijão ocorreu na Bahia, terceiro maior produtor do alimento, mas que ocupa a primeira posição quando se trata da terceira e última safra do ano, que começou em agosto. A falta de chuva no interior baiano afetou a Região Nordeste do estado, onde a queda na safra caiu expressivamente. “A queda na terceira safra daquele estado foi de 68,5%”, lamentou João Ricardo Albanez, superintendente de Política e Economia Agrícola da Seapa.

A seca este ano foi tão acentuada que os agricultores da Região Nordeste da Bahia aguardavam, em média, 400 milímetros de chuva, mas São Pedro enviou apenas 200 milímetros. E o especialista avisa: “A tendência é de que o preço continue neste patamar até o início da próxima safra, em 2012”.

Uma forma de forçar a queda nos preços poderia vir do Palácio do Planalto, mas, conforme ressalta o engenheiro-agrônomo Pierre Vilela, assessor do Departamento Técnico da Federação da Agricultura e Pecuária de Minas Gerais (Faemg), o governo não tem estoque suficiente para abastecer o mercado. “E o feijão estocado não é de boa qualidade, pois foi comprado em safra anterior”.

Na ponta oposta da cadeia estão empresários como Roberto Pessoa, dono do Emporium, tradicional restaurante do Bairro Mangabeiras, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte, que preferiu absorver a alta do feijão. “Está difícil. Houve aumentos nos preços da cebola, dos ovos, da carne etc. Mas preferimos absorvê-los”. Resultado: o tutu e o tropeiro devem pesar o orçamento familiar e causar dor de cabeça a donos de restaurantes pelo menos até o verão.

Tropeiro e tutu mais "pesados"

Na mesma toada do feijão, os preços de ingredientes essenciais ao tutu e ao tropeiro também dispararam em Belo Horizonte nos sete primeiros meses do ano. Seguindo a tendência de alta vieram a couve (16,47%) e a dúzia de ovos de galinha (14,26%), segundo levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE). Até o óleo de soja (8,9%) teve alta acima do IPCA. A carne de porco também pesou muito na inflação. O quilo do animal vivo, segundo a Associação dos Suinocultores de Minas Gerais (Assemg), subiu 22% entre fevereiro (R$ 2,53) e julho (R$ 3,09).

“Uma pena esse tanto de aumento”, lamenta dona Marilene Aparecida Silva, de 59 anos, cozinheira de mão cheia que adora preparar tutu e feijão-tropeiro para a família. E não é só o carioquinha que ela compra nos supermercados do Bairro Padre Eustáquio, onde mora, que pesou em seu bolso. A dúzia dos ovos de galinha, essenciais aos dois pratos, subiu mais de três vezes o índice apurado pelo IPCA.

A culpa, mais uma vez, é do milho. “O que mais nos prejudicou foi o preço da ração (para as galinhas). O milho é um dos principais componentes dela. Desde o início do ano, estimo que o aumento seja em torno de 30%”, resignou-se Luís de Cássio da Paixão, da Associação dos Avicultores de Minas Gerais (Avimig).

Cebola

Bulbo usado como tempero em vários pratos, a cebola também apontou grande alta no período: 48,49%. E a justificativa está na macroeconomia, pois, de acordo com Pierre Vilela, assessor técnico da Faemg, envolve produtores argentinos. No início do ano, agricultores platinos, ávidos pelo real – a moeda brasileira é bem mais valorizada do que a de lá –, exportaram grande quantidade do vegetal para o Brasil, interferindo no mercado nacional.

Muitos agricultores de cá optaram por não plantar a cebola, pois o grande volume do legume enviado pelos argentinos abaixou o preço do produto no início do ano. “A queda no volume de produção da cebola (brasileira) foi de 7%”, explicou Pierre. Porém, a colheita na Argentina já acabou e a quantidade de cebolas produzidas no Brasil não atende a demanda interna. (PHL)


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