A paralisação do atendimento médico aos planos de saúde realizada pelos médicos em abril agora se repete com os profissionais da reabilitação. Cerca de 3,5 mil usuários de planos de saúde não conseguiram atendimento nessa segunda-feira em clínicas de Belo Horizonte e nesta terça-feira , mais uma vez, os estabelecimentos estarão fechados para os convênios médicos. O protesto faz parte de um movimento dos fisioterapeutas contra os valores pagos pelos planos e esquenta a tensão na saúde suplementar. Os usuários dos serviços acabam se tornando alvo e são os que mais sofrem com o problema.
Segundo o Sindicato dos Fisioterapeutas e Terapeutas Ocupacionais (Sinfito-MG) o valor da consulta, que varia de R$ 4,20 a R$ 12, não tem sido suficiente para cobrir os custos. “Tentamos negociar com os planos o valor mínimo de R$ 19 pela sessão, mas não tivemos retorno. Atualmente, retirados os custos, sobra, em média, R$ 0,80 para o profissional. É impossível trabalhar com esses valores”, aponta Bruno Fukino, presidente do sindicato. Nessa segunda-feira, cerca de 25 clínicas de Belo Horizonte fecharam as portas. Segundo empresários do setor, o prejuízo médio é de R$ 15 mil ao dia.
O dano aos pacientes não foi maior porque as clínicas fizeram um aviso prévio. Ainda assim, houve caso de usuário de plano que optou pelo atendimento particular. Mais de 90% dos pacientes atendidos pela fisioterapia são usuários de planos de saúde e a lista de queixas dos usuários do serviço é enorme.
A psicóloga Nelita Freitas é usuária de plano de saúde e conseguiu atendimento em pleno dia de protesto porque banca o tratamento preventivo com recursos próprios. Nelita conta que tinha restrições ao uso de corticóides e só curou uma inflamação depois de fazer 40 sessões de fisioterapia. Para não sofrer recaídas e manter a saúde, ela faz um trabalho de manutenção. Paga R$ 220 por mês, por duas sessões. “Acho que os planos deveriam investir também na prevenção. Se eu não fizesse o reforço muscular, poderia sofrer novamente com o problema que já consegui superar.”
Apesar de entidades de defesa do consumidor apontarem a necessidade de haver uma mediação dos conflitos, a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) não interfere na relação entre os prestadores de serviços e as operadoras. A ANS informa, no entanto, que não pode haver prejuízos aos usuários. “A operadora deve garantir o atendimento. Se isso não acontecer, o usuário pode entrar em contato com o disque ANS e fazer uma denúncia”, reforça a agência, por meio de sua assessoria.
A fisioterapia está incluída no rol de procedimentos obrigatórios, mas o atendimento hoje se tornou um desafio. Segundo Isidro Alvarez, que administra quatro unidades da Clínica Fisior em Belo Horizonte, são cerca de 200 pacientes por dia sem atendimento. Ele aponta que não são poucos os negócios que já fecharam as portas ou mudaram o ramo de atividade. O Sinfito também informa que as operadoras dificultam o atendimento aos usuários, não investem no tratamento preventivo, o que pode agravar o quadro dos pacientes e tornar o serviço ainda mais caro.
Com dores
Há 25 anos no mercado, Eloísa Miranda é fisioterapeuta e dona do Instituto de Ortopedia e Fisioterapia (IOF), que funciona no Centro de BH. Segundo ela, cerca de 160 pacientes deixaram de ser atendidos por causa da paralisação. “Tentamos vários contatos com os planos, mas não tivemos retorno. Ao longo de 20 anos tivemos reajustes de alguns centavos, o que levou a situação a um limite.”
Procurada pela reportagem, a Unimed-BH informou que mantém uma política de remuneração diferenciada para os serviços de reabilitação frente ao mercado local. A cooperativa destacou que segue rigorosamente os contratos firmados. Ressaltou, ainda, que seus clientes podem procurar a operadora para esclarecer dúvidas, mas não comentou sobre seus usuários que nessa segunda-feira voltaram para casa sem atendimento. A Associação Brasileira de Medicina de Grupo (Abramge) informou que não faz parte de suas atribuições discutir remuneração a prestadores de serviços. Já a Federação Nacional de Saúde Suplementar (Fenasaúde), colocou que vem participando ativamente dos fóruns de debates sobre remuneração médica, liderados pela ANS, e também das câmaras técnicas da Associação Médica Brasileira (AMB).
Daqui para o futuro
Um novo modelo
Amanhã fisioterapeutas de Minas vão se reunir para votar o que chamam de fim do tratamento parcial aos usuários de planos de saúde. Segundo Isidro Alvarez, administrador em Belo Horizonte de quatro clínicas especializadas, a decisão vai marcar um novo modelo no atendimento da reabilitação. Segundo ele, hoje os convênios pagam para que o paciente trate uma parte do corpo. Por exemplo um ombro. No entanto, os fisioterapeutas defendem a reabilitação global. “O que significa por exemplo, o reforço do outro ombro que será sobrecarregado no processo de tratamento. Não vamos mais aceitar a segmentação autorizada pelos planos.”
SAIBA MAIS
A mesma Justificativa
Em abril médicos promoveram um dia de protestos contra o valor pago pelas consultas médicas. Reclamaram também da interferência dos planos na conduta médica, como a limitação no pedido de exames. O ministério da Justiça impediu os médicos de coordenar movimentos como o ocorrido em abril. Em maio, fisioterapeutas de Minas distribuíram carta aberta à população. No texto denunciaram o pagamento de R$ 4,20 por sessão de 50 minutos. Nessa segunda-feira clínicas especializadas interromperam atendimento aos convênios. Nesta terça-feira, o atendimento será novamente suspenso. Fisioterapeutas prometem promover protesto às 11h na Praça da Liberdade.