O fim da era Kadhafi na Líbia possibilitará uma retomada gradual das exportações de petróleo, praticamente interrompidas há seis meses, mas precisará de tempo para que o país recupere o nível de produção de antes do conflito, segundo analistas. A rápida entrada na capital das forças hostis ao coronel Muamar Kadhafi surpreendeu os investidores, que começam a vislumbrar a perspectiva de uma retomada próxima da indústria petroleira do país, paralisada desde o início do conflito, em fevereiro.
Caso os rebeldes se imponham, "um volume importante de petróleo líbio pode voltar progressivamente ao mercado mundial nos próximos meses", ressaltou Filip Petersson, analista do banco SEB. "Se for instaurado um governo estável, e dependendo dos danos que as infraestruturas petroleiras tenham sofrido, a produção pode recuperar provavelmente a normalidade em seis meses", estimou, por sua vez, Manouchechr Takin, do Centro de Estudos Energéticos (CGES) em Londres.
Os especialistas mostravam-se unanimamente prudentes, devido às numerosas incógnitas que ainda existem sobre o estado das infraestruturas e o futuro político. Como as refinarias, portos e jazidas petrolíferas têm sido alvo de violentos confrontos entre os dois grupos, "ignora-se até que ponto o aparato de produção está danificado, é impossível determinar nestas condições quando será possível voltar a produzir", explicou Torbjorn Kjus, analista da DnB NOR.
Por sua vez, a "Líbia precisará claramente do apoio e da experiência das multinacionais petroleiras, e as empresas estrangeiras só enviarão seus funcionários expatriados ao país se as condições de segurança permitirem", afirmou, por sua vez, Takin à AFP. A estabilidade política e a segurança das jazidas é, segundo ele, a condição "sine qua non" para o regresso dos trabalhadores estrangeiros do setor, indispensável para uma retomada consistente da produção local.
No entanto, "a euforia posterior à queda de Kadhafi pode ser curta", disse Petersson, convencido de que "a guerra civil pode continuar" porque a queda do líder líbio corre o risco de criar tensões e rivalidades entre as diferentes regiões do país. Os mercados petroleiros subiam nesta terça-feira em um mercado prudente que seguia atentamente a evolução da situação no país, após o reaparecimento durante a noite do filho do líder líbio, Saif al-Islam, que supostamente estava detido.
O petróleo líbio, leve e com baixa quantidade de enxofre, é muito cobiçado pelos refinadores europeus, e seu desaparecimento do mercado alimentou na primavera (boreal) o aumento dos preços do barril, que chegaram aos 130 dólares em abril. É "pouco provável" que ocorra uma queda dos preços devido ao retorno da oferta líbia aos mercados antes que seja concretizada a retomada das exportações, indicou Petersosn à AFP.
Sobretudo porque o desmoronamento do regime de Kadhafi ocorre em um momento no qual o petróleo líbio tornou-se menos crucial ao mercado mundial devido a uma sensível desaceleração da demanda petroleira nos últimos meses pelo deterioramento do crescimento nos Estados Unidos e na Europa.