Não deve ter sido um primeiro dia fácil para ele. Em e-mail cordial enviado aos colaboradores da Apple, nessa quinta-feira, o novo diretor executivo da empresa até tentou. Na mensagem, Tim Cook buscou tranquilizar parceiros e mercado, (“estejam confiantes de que a Apple não vai mudar”), reconhecer os feitos de seu antecessor (“Steve construiu uma companhia e cultura diferentes de quaisquer outras no mundo”) e, é claro, fazer sua propaganda (“nossos melhores anos estão diante de nós”). Esforço até louvável, mas pouco frutífero.
Enquanto isso, as ações da segunda companhia mais valiosa do mundo chegaram a cair 5,2%. Do outro lado do planeta, os valores da Samsung, HTC, Sony e LG, gigantes asiáticas concorrentes diretas da Apple, subiram. A reação foi imediata à saída de Steve Jobs da liderança da empresa da maçã, ao que tudo indica por motivos de saúde. O primeiro dia sem o visionário fundador da marca foi turbulento, como já era esperado.
As reações são muito mais especulativas que concretas e perenes, segundo o analista de mercado do International Data Corporation (IDC) Bruno Freitas: “O movimento das bolsas sinaliza que esses grandes competidores, especialmente os asiáticos, estão prontos para brigar, com dinamismo e agilidade para inovar e tirar proveito do cenário”. A mensagem positiva de Cook até ajudou a acalmar o movimento dos investidores, ao final dos pregões, amenizando a queda, mas o argumento de que os melhores dias estão por vir não colou. “Ninguém em sã consciência pode afirmar que a Apple é melhor sem o Steve Jobs do que com ele”, opina o consultor de tecnologia Ivan Moura Campos.
Os especialistas concordam que o DNA da empresa, que marca profundamente o caráter inovador dos produtos, é algo conquistado e independente de Jobs. Como a concorrência vai tirar vantagem da ausência do gênio fundador é o que deve ditar os movimentos mais consolidados de participação de mercado, de agora em diante. “Não quero acusar ninguém de perverso, mas quando seu concorrente é ameaçado na criatividade há grandes chances de você enxergar isso como um bom negócio”, diz Moura Campos.
Fãs de Steve Jobs já com saudades
A Apple agrega, mais que consumidores, uma legião de fanáticos para quem a presença de Jobs na empresa era fundamental. O publicitário Guilherme de Deus se define como “advogado da marca” e explica que tenta convencer seus amigos a se converter aos produtos da linha mac. Ele mesmo já teve incontáveis produtos precedidos pelo típico “i” da empresa. Hoje, tem dois iPods, dois Apple TVs, um Time Machine, um MacBook Air, um iMac, um iPad e já tem, também, saudades de Jobs: “O consumidor médio talvez não sinta a diferença, mas sabe o peso que ele tinha na inovação dos produtos e vê o dedo dele nos lançamentos”.
Guilherme acredita, por exemplo, que a periodicidade dos lançamentos seja mais esparsa sem Jobs. O curioso é que, para o bolso do fã/ consumidor, essa até que poderia ser uma boa notícia. A obsolescência programada dos gadgets da Apple, quando um novo modelo transforma o antecessor em velho com menos de um ano, é das mais cruéis da indústria. O publicitário não se importa: “É louco isso, mas, como sempre troco os equipamentos velhos pelos lançamentos, existe mercado de gente que compra meus usados e eu acabo não perdendo tanto dinheiro assim”. (FB)