(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas

Governos vão bater cabeça para decifrar os US$ 955 tri de moedas e derivativos girados no mundo


postado em 28/08/2011 07:46

Na conferência entre financistas e dirigentes de bancos centrais mais aguardada do ano, desde que os governantes da Europa e EUA se revelaram menores, e não superlativos como os investidores queriam acreditar que fossem, o presidente do Federal Reserve (Fed), Ben Bernanke, encontrou lotado o resort em Jackson Hole, nas montanhas do Wyoming, para ouvi-lo. Bernanke desapontou.

Se no encontro de 2010 ele agradou à plateia e pôs os mercados de ações e de commodities em ebulição, ao antecipar o que veio a ser conhecido como quantitative easing, ou QE, neologismo para emissão de dólares usados pelo Fed para resgatar papéis do Tesouro dos EUA em poder da banca, desta vez se apresentou como cronista da crise, e saiu a recitar platitudes. “A melhora da economia levará tempo e pode haver obstáculos no caminho”, disse, sem falar nada de novo.

E as bolsas? Caíram imediatamente em Nova York, acompanhadas pela BM&FBovespa, como de hábito, mas a baixa durou pouco. Se tirassem o crédito de Bernanke, devem ter pensado os estrategistas da banca, não sobraria nada em que acreditar. E a crise tem sido assim desde seu estouro, em 2008: um vaivém de sentimentos, com os governos nos EUA e na Europa, onde o buraco é maior, adulando os mercados com uma reverência não dispensada aos produtores da riqueza nacional.

Não se discutem nem se veem medidas para ativar a economia real, entendida como a produção, o investimento, o emprego e a renda. Em compensação, não faltou dinheiro para salvar banco quebrado e para acalmar essa gente que lá atrás precipitou a crise ao se endividar mais do que podia e a ensopar o mercado com derivativos de títulos de dívida de modo que ainda hoje nem o Banco Central Europeu (BCE) e o Fed, além da própria banca, sabem ao certo o volume emitido e o valor atual de tais ativos, tamanha a sua complexidade.

Estima-se que o total de negócios com derivativos e com moedas no mundo, em 2010, chegou a extravagantes US$ 955 trilhões – mais de 15 vezes o PIB global, avaliado em US$ 63 trilhões. Os derivativos sozinhos teriam sido de US$ 601 trilhões. Até decifrarem o enigma de tal dinheirama, os governos vão bater cabeça. E segue a crise.

As raízes da perversão

O fato é que desde meados dos anos 1970 começou um movimento, com epicentro nos EUA e ondas de propagação, sobretudo para a Zona do Euro, Inglaterra e Japão, de financeirização da economia, seguida do endividamento das famílias e da estagnação dos salários reais. Nos EUA, disfarçou-se a queda do poder de compra dos salários, em especial da classe média, com dívidas e a valorização dos imóveis, depois hipotecados para financiar gasto corrente ou aplicações na bolsa. Na Europa, com a ampliação da política de bem-estar social. Enquanto funcionou a ilusão da prosperidade movida a crédito e a subsídios públicos, a perversão ficou oculta. Graças a ela também, o mundo subdesenvolvido foi alçado a emergente, como China, e por tabela os que dela dependem na Ásia e América Latina, como Brasil.

Batom na cueca em 2008

Esse é o problema. Famílias endividadas nos EUA. Empresas, bancos e governos endividados na Europa e Japão. Resultado: o consumidor consome menos para pagar suas dividas; as empresas não investem enquanto houver a brutal capacidade ociosa descoberta pela crise; os mesmos investidores acudidos pelos governos resistem a rolar as dívidas soberanas infladas pela estatização do passivo de bancos e empresas tornadas insolventes depois da quebra do Lehman Brothers. A ruína do Lehman Brothers em 2008 foi o batom na cueca para os mercados desregulados, assistidos pela transferência de renda de salários e dos setores produtivos para o lucro financeiro, no que acabou chamado de “neoliberalismo” pela crítica. O saldo da festa são dívidas intragáveis sem expansão econômica forte – evento que ninguém espera nem na China para os próximos anos.

Ruas dirão até quando

O peso da dívida pública e privada em relação ao PIB equivale a uma bola de ferro no pé dos governantes. No Japão, vai a 471% do PIB, segundo estudo do Morgan Stanley, das quais 197% públicas. Nos EUA, soma 242%, sendo 80% pública. Na China, totaliza 165% do PIB, sendo a menor parte, 36%, estatal. A situação do Brasil é um pouco melhor: da dívida total de 142% do PIB, “apenas” 61% eram públicas no fim de 2010, segundo a análise do Morgan Stanley. Como sair desse enrosco? Com o beiço de parte do que os governos devem, como fez a Argentina em 2001, com inflação que corroa largo pedaço do passivo ou com crescimento econômico maior que os juros. EUA e Europa por ora só apertam os gastos. A rua dirá até quando.


receba nossa newsletter

Comece o dia com as notícias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)