O dragão parecia ter diminuído seu poder de fogo, mas em agosto – a quatro meses do fim do ano, período em que a inflação é tradicionalmente mais pressionada – voltou a ganhar fôlego. Desde janeiro, o crescimento do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), era menor a cada mês. Foi em agosto que o indicador deu um salto, com variação mais que duas vezes acima do mês anterior, ao registrar elevação de 0,37%. O principal vilão foi a carne, com alta de 1,84%, item que exerceu o principal impacto individual no IPCA, com 0,04 ponto. Em segundo lugar veio o aluguel residencial, com participação de 0,03 ponto e expansão de 1,06% no mês.
No acumulado dos últimos 12 meses a taxa já chega a 7,23% no Brasil, a maior desde junho de 2005. O momento é decisivo para a economia nacional, uma vez que se tornam cada vez menores as esperanças de que a variação de preços se mantenha dentro do teto da meta prevista pelo Planalto – de 6,5% em 2011. Com poucos sinais de que o consumo sofra uma retração, o que aliviaria a demanda, e diante de uma taxa básica de juros reduzida a 12%, contra 12,5% há uma semana, analistas estimam que o índice irá superar o limite estabelecido pelo ministério da Fazenda. A Região Metropolitana de Belo Horizonte supera a média nacional, batendo os 7,51% nos últimos 12 meses.
Dos nove itens avaliados na Grande BH, apenas um, o de transportes, apresentou deflação em agosto, de 0,01%. Em sentido contrário, o grupo alimentação e bebidas, que havia apresentado queda de 0,31% em julho, voltou a subir em agosto, chegando a 0,82%. O item alimentação em domicílio apresentou alta de 1,1% com destaque para cereais, leguminosas e oleaginosas (+2,7%), açúcares e derivados (+3,31%), hortaliças e verduras (3,61%), frutas (7,78%) e carnes (+1,92%). Com o resultado, o índice fechou o mês com variação de 0,45%, contra 0,11%, em julho.
“O preço dos alimentos voltou a pressionar a inflação. Arroz e feijão também subiram 3,17% e 2,06% respectivamente”, avalia o analista do IBGE em Minas Gerais, Antonio Braz. No caso do açúcar, com alta de 3,31%, a forte demanda no cenário internacional é uma das alavancas para a alta.
No caso da carne, o problema é exatamente o contrário. O produto inicia seu período de entressafra, impulsionada pela seca. Em julho, o item havia apresentado deflação de 0,66% e agora começa a traçar um caminho de alta que, se for semelhante ao do ano passado, deve seguir até dezembro. Desde novembro de 2010 a carne não registra uma elevação de preços tão expressiva na Grande BH: 1,84%. Entre os 14 cortes pesquisados na RMBH, somente o bacalhau, com queda de 0,69% e o frango em pedaços (-1,84%) ajudaram a suavizar o peso da carne no orçamento familiar.
Mesmo que ainda tenha conseguido segurar os preços até agora, o proprietário da Casa de Carne Harmonia, Rodrigo Afonso Cançado, reconhece que os reajustes já devem começar na próxima semana. “A entressafra do produto começa mesmo nesta época. Já recebemos o quarto do boi mais caro, de R$ 7,50 para R$ 7,70”, calcula.
O proprietário do açougue Montes Claros, Geraldo Otávio Leite também não reajustou os preços. Ainda. “A carne de boi vai subir entre 10% e 20%, mas acredito que seja a partir de outubro”, prevê. Enquanto isso, uma das alternativas parece estar na carne de porco. Apesar de o IBGE registrar inflação de 2,81% para o item em agosto, os empresários do setor garantem que a alta registrada no início do último mês já foi revertida. “O quilo de porco, que comprávamos por R$ 4,50, agora está em R$ 3,80”, conta.
A copeira Adriana Bonifácio Gabriel diz que ainda sente no bolso a forte alta do produto registrada no final do ano passado. “Tivemos que diminuir a quantidade e substituir por outras alternativas, como a sardinha”, conta.
Aluguel dá um salto
Se a casa própria é sonho antigo, o pesadelo de quem é inquilino fica cada vez mais sombrio. O aluguel residencial na RMBH teve a maior alta mensal dos últimos cinco anos (2,20%), e é o que mais cresceu no Brasil em agosto. No acumulado do ano, a região metropolitana da capital mineira mantém o primeiro lugar no ranking, com variação de 11,24%, bem acima de Recife, a segunda colocada, cujos inquilinos pagam hoje 9,07% a mais que em janeiro, ou a média nacional, de 7,48%.
Os números de agosto mostram que o bolso do inquilino que mora na Grande BH é o que mais sofre no país com reajustes. A variação corresponde a mais que o dobro da média nacional, de 1,06%. Segundo Antonio Braz, do IBGE, o movimento é reflexo do aquecimento do mercado: “Os donos de imóveis repassam a correção dos valores para os inquilinos, diretamente”.
Belo Horizonte vive um momento de ajuste, na visão de Ariano Cavalcanti de Paula, presidente da Câmara do Mercado Imobiliário e do Sindicato das Empresas do Mercado Imobiliário de Minas Gerais. “O mercado cobra a diferença e revê a defasagem”. A tendência é que, com o vencimento dos contratos de 30 meses, o aluguel dos imóveis seja reajustado de 30 a 50%.
Foi o que aconteceu com o designer de produtos Igor Villas Boas. O aluguel de R$ 1,1 mil que ele paga no apartamento de 120 m² em que mora, no Bairro Santo Agostinho, subiu para R$ 1,4 mil, depois de conversas com a proprietária. “Estava defasado com relação aos valores de aluguel de imóveis na região. Nas minhas pesquisas, encontrei imóveis do tamanho do meu entre R$1,7 mil e R$2,2 mil. Chegamos a um consenso: tivemos um reajuste razoável, dentro do que eu poderia pagar”.
A pressão dos preços também foi fator que impulsionou as últimas três mudanças da estudante Mariana Mattar Prazeres dos Santos, que mora no Centro. “Os preços dos alugueis ficavam cada vez mais caros, então eu preferia me mudar, a partir dos vencimentos dos contratos, para apartamentos de preços melhores”. A mudança, que já é dor de cabeça por si só, é outro item que registrou pressão acima da média, no índice de agosto do IBGE. Sofreu aumento de 6,9%.