O advogado Marcelo Carabetti gasta todo mês mais de R$ 700 com seu carro, enquanto as despesas com livros, cadernos e outros itens escolares do filho Rodrigo, de 13 anos, totalizam aproximadamente R$ 200. Ou seja, os gastos com educação da família são mais de três vezes menores do que os custos para manter o automóvel. Estudo inédito do Instituto Ibope Inteligência mostra que as despesas dos Carabettis são semelhantes à média dos gastos das famílias mineiras, colocando a educação no pé da planilha orçamentária, com 3% do total, enquanto o montante usado para custear o automóvel está quase no topo, com 10%, atrás só de itens essenciais: alimentação e bebida (17%) e artigos para casa e manutenção (12%). A média de consumo de produtos, bens e serviços pessoais per capita, em 2011, deve ser de R$ 5.674, totalizando R$ 112 bilhões.
A variação dos gastos com educação é inferior a 1% entre as quatro classes sociais. Enquanto a classe B dispensa 3,6% para as despesas com os estudos, as classes C e D/E gastam 2,5% do orçamento monetário. A explicação para a diferença de custos, segundo a gerente de Geonegócios do Ibope Inteligência, Marcia Sola, é que a classe C prefere colocar os filhos no ensino público e comprar um automóvel. “Se tiver um carro, tem gastos obrigatórios. Parte das pessoas acreditam que o carro ainda é um bem, veem-no como patrimônio e não como um gasto. Mas a concepção está errada”, afirma Marcia.
Em contrapartida, a explicação para os investimentos maiores da classe B na educação dos filhos, segundo a especialista, é que, “apesar de ser o grupo familiar com os gastos mais contidos, é característica apertar o cinto para colocar os filhos na escola particular”. Mas, independentemente da condição financeira, os recursos investidos no quesito educação são os menores entre os itens considerados pelo levantamento.
Na casa da família do advogado Marcelo Carabetti, o carro é tido como indispensável. Isso porque ele depende do transporte para resolver situações do dia a dia relacionadas ao seu trabalho. “Se fosse pegar ônibus para levar meu filho à escola e depois ir para o trabalho, deixaria de ganhar dinheiro”, argumenta. Com o orçamento apertado, ele afirma que para manter a família teve que abandonar a vida de aposentado e voltar à rotina dos engravatados. “Na época de escolher entre o ensino particular e o público, não tinha condições de optar por um colégio pago. Agora, se transferi-lo, caso ocorra algum imprevisto, posso não conseguir encaixá-lo novamente na escola (pública) em que ele estuda agora”, afirma o advogado.
No comparativo de gastos entre educação e as despesas com o carro, a classe C é a que mais prioriza o veículo: os custos do automóvel são 3,5 vezes maiores que os relacionados aos estudos. Nesse montante incluem-se os valores do combustível, seguro, financiamento, IPVA e taxa de licenciamento, estacionamento, manutenção etc. Em termos de percentual, a classe B é a que mais gasta com o carro: 11,1% da renda. Mas, por ser a líder também no quesito ensino, a proporção entre os dois é menor que na classe C: 3,08 vezes.