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Estado de Minas

Remuneração maior dos consumidores da nova classe média puxa gastos

Reajustes costumam ser mais altos para serviços que antes não eram acessíveis


postado em 11/09/2011 07:10

Stephanie Souza Pinto e seu namorado, Victor Oliveira, têm jogo de cintura para driblar despesas com carro e internet(foto: Marcos Michelin/EM/D.A Press)
Stephanie Souza Pinto e seu namorado, Victor Oliveira, têm jogo de cintura para driblar despesas com carro e internet (foto: Marcos Michelin/EM/D.A Press)
O dragão da classe C malha, combina o jantar fora de casa com os amigos via internet e não dispensa um cineminha ou discoteca no fim da noite. Os consertos do carro da consultora de cosméticos Stephanie Souza Pinto, a conexão à internet do estudante Victor César Santos Oliveira, os gastos com alimentação e lazer na família da vendedora Auxiliadora Vaz da Silva e a ginástica da farmacêutica Milla Santos Lima aumentam de preço mais do que a média da inflação. Os itens que mudam os hábitos de consumo da nova classe média já foram um dia considerados supérfluos, mas hoje estão escritos a caneta na planilha de orçamento familiar. O que agrava a situação dos novos gastos da classe média é que a variação de preço, quando se fala em educação particular, serviços médicos, dentários e cabeleireiro, por exemplo, atiça o dragão que assombra especificamente as famílias que começam a ganhar mais dinheiro.

Os números dos índices de preços ao consumidor do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram uma radiografia precisa dessa realidade: quanto maior a renda das famílias, maior o peso que esses “luxos” têm na inflação. A comparação é possível, segundo o analista Antonio Braz, do IBGE, a partir do confronto entre os dados do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA – que abrange famílias com renda de até 40 salários mínimos) e o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC, que se restringe àqueles que têm renda de até seis salários mínimos). “É natural que esses gastos pesem mais, à medida que há mais dinheiro para torná-los itens indispensáveis no orçamento”, explica Braz.

Quando a variação nos preços ultrapassa, e muito, a média da inflação, a coisa fica ainda mais tensa. O IPCA de agosto, no Brasil, divulgado pelo IBGE, foi de 0,37%. No ano, o índice acumula alta de 4,2%. Em BH, a inflação é mais alta que na média nacional, chegando a 0,45%. Os principais itens que caracterizam hábitos de consumo típicos da classe média fazem esses números comer poeira. Serviços médicos e dentários, por exemplo, variaram 1,55% no último mês, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (contra 0,45% da média nacional). No ano, a alta acumulada é de 9,88% na Grande BH.

Quando o assunto é lazer, o dragão cai na gandaia: a variação de preços no item boates, danceteria e discoteca, em BH, acumula, neste ano, alta de 14,11% (a média nacional indica avanço de bem menos que a metade disso, 4,79%). Ingressos para cinema, no Brasil, custam hoje 7,61% a mais do que custavam no fim do ano passado. Mas o dragão também não é totalmente estraga-prazeres: a boa notícia é a deflação do motel, em BH. No ano, os preços da visita ao estabelecimento avançaram 2,30% no país, e na capital mineira a redução do valor cobrado chegou a 8,10%. COMO FILHOS Mas, como ninguém gosta de chegar suado à festa, a prestação do automóvel e os recorrentes consertos do inseparável meio de transporte da consultora de cosméticos Stephanie Souza Pinto já são motivo de conformidade para a jovem, que lança mão da frase de efeito usada por muitos motoristas que lamentam as despesas com a máquina: “O carro é como um filho mesmo. O meu orçamento já prevê os gastos com ele”. A consultora conta que é uma negação em termos de mecânica e paga o que os especialistas pedem.

Outra reclamação na ponta da língua é que não basta a dificuldade da baliza; o espaço para deixar o carro é o que pressiona. O bolso, no caso. “O estacionamento que eu costumava pagar R$ 3 a hora acaba de subir para R$ 5. E você vai fazer o quê? Deixar o carro na rua?”, pergunta Stephanie. No Brasil e na RMBH, a variação de preços de estacionamento já bate os 10%. A jovem pode se livrar da pulga atrás da orelha com os reajustes da oficina mecânica: segundo o IBGE, o conserto de automóvel, na média nacional, acumula alta, até agosto, de 7,29%.

A pressão por demanda é o que mais eleva a inflação de itens como os que pesam no orçamento da consultora, segundo o professor de economia do Ibmec Reginaldo Nogueira. “Tivemos explosão de consumo doméstico de automóveis, ocasionado pela facilidade de crédito. Mais motoristas no mercado é o que explica o aumento de preços dos serviços correlacionados.” São itens assim, indiretamente afetados pelos juros baixos, que variam bem acima da média da inflação. “Sempre que a oferta não se adapta a essas novas demandas, há pressão dos preços”, explica Braz. BANDA LARGA Em território de alta competição, contudo, as cifras também pesam. O namorado de Stephanie, o estudante Victor César Santos Oliveira, conta que os gastos com internet também puxam o orçamento, quando os prazos de fidelização vencem. Segundo o IBGE, o acesso à web variou, este ano, 6,59%, em BH. O estudante desenvolveu macete particular para driblar o dragão conectado: “Ligo e falo que vou cancelar. O preço sobe, mas a concorrência é brava e eles, com medo de perder o cliente, acabam voltando atrás do aumento abusivo”. Com isso, conseguiu desconto na mensalidade de R$ 95 do modem de banda larga móvel. “Não pago mais que R$ 68.” De olho na variação de preços, a farmacêutica Milla Santos Lima pesquisou bastante antes de mudar de academia, atenta às promoções. O item ginástica, na balança do IBGE, soma alta de 8,23% na RMBH, contra 7,87% na média nacional.

O redesenho da pirâmide social brasileira, marcado sobretudo pelo avanço das classes D e E em direção à classe C, muitas vezes esquece que as classes A e B também emagreceram. Isso significa que houve quem deixasse de ser classe B e passasse a engordar os quadros da classe C. Conviver com isso e com o avanço da inflação nos itens já enraizados nos hábitos foi o desafio da família da vendedora Auxiliadora Vaz da Silva. Ela conta que, depois que o marido perdeu um bom emprego, começou a trabalhar como taxista, ela pegou firme nos cosméticos vendidos de porta em porta e hoje, juntos, tentam controlar os gastos: “Temos que cortar o que antes considerávamos indispensável. E valorizar o que realmente importa. É uma lição mesmo”.

 

enquanto isso...

 

... Voar, voar

 

Quando a oferta precede o aumento da demanda, o resultado são promoções de fazer o pessoal tirar os pés do chão. A dona de casa Maria Rose Vidigal (foto) voa nessas asas. Conta que comemora a deflação das passagens aéreas: “Viajo mesmo sempre que posso”. Ela acaba de voltar de Fortaleza e já prepara as malas para Natal. Excursões custam hoje 11,66% a menos do que no fim do ano passado. As passagens aéreas, só em agosto, em BH, caíram 9,96%. O marido aposentado de Maria Rose não acompanha. Mas ele banca? “É claro! E ainda gasto por nós dois”, destaca.


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