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Estado de Minas

Grupo mineiro pede autorização de ministério para vender insetos como alimentação

Baratas, grilos e larvas de besouro para consumo humano estão entre as 'guloseimas'


postado em 17/09/2011 06:00 / atualizado em 17/09/2011 07:04

O grupo mineiro Vale Verde, com sede em Betim, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, e produtor da premiada aguardente homônima, entrou com um pedido no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) no mínimo curioso para os costumes brasileiros: autorização para comercializar baratas, grilos e larvas de besouro para consumo humano. O novo ramo – se deferido pelo governo federal – ficará a cargo da Nutrinsecta, braço da holding que comercializa, desde 2008, pacotes de invertebrados para alimentação de animais em cativeiro. A empresa também fabrica a ração Megazoo, destinada a aves e que não leva proteínas de insetos.

A intenção do grupo é de que o Mapa também autorize a Nutrinsecta a adicionar proteína de invertebrados na ração. A empresa produz 40 toneladas mensais da Megazoo e, na próxima quarta-feira, conclui a obra de ampliação da fábrica, com capacidade para entregar ao mercado mais 180 toneladas. O aporte foi de R$ 15 milhões e deve aumentar bem o faturamento do grupo, que negocia o quilo de insetos por R$ 200. Já o pacote com 700 gramas da ração sai a R$ 16.

O leitor pode até torcer o nariz para o cardápio de invertebrados, mas é importante frisar que o autor da ideia é o visionário Luiz Otávio Pôssas Gonçalves, de 69 anos. Ele é conhecido no meio empresarial por transformar os negócios que monta em minas de ouro. Foi assim com cervejaria Kaiser, vendida em 2002 para a canadense Molson pela fortuna de US$ 765 milhões, e com a água de coco Kero Coco, negociada em 2009 por outra boa quantia à Pepsico. E, claro, fundador da cachaça Vale Verde, que fatura cerca de R$ 4 milhões por ano e foi eleita três vezes consecutivas pelo ranking da revista Playboy como a melhor extra premium do país – aguardentes totalmente envelhecidas em recipientes de madeira por pelo menos três anos.

“A alimentação (à base de insetos) é puramente quebra de preconceito. Quando menino, via as pessoas ficarem horrorizadas ao saber que os japoneses comiam peixe cru. Muitas (dessas pessoas), hoje, vão a restaurantes (asiáticos) e degustam o mesmo prato. Pode ocorrer o mesmo com os invertebrados”, acredita o empresário, que diz ter saboreado todas as iguarias produzidas nos criatórios da empresa. E gostou tanto da “barata frita” quanto do “tenébrio”, espécie de besouro consumida enquanto larva.

Pura proteína

A estratégia de explorar o mercado de entomofagia (prática de comer insetos) nasceu de um hobby de Pôssas. Criador de diversas espécies de aves, ele financiou pesquisadores do Departamento de Veterinária da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) para encontrar uma ração balanceada para os próprios animais. O trabalho, que durou dois anos, concluiu que proteínas de insetos reduzem o índice de mortalidade das aves e aumentam a reprodução em cativeiro. Assim, em 2008, surgiu a ideia da produção da Megazoo, que ganhou mercado rapidamente mas ainda não usa proteínas de insetos.

O produto é vendido para zoológicos de todo o país. Seria natural, portanto, que o próximo passo da Nutrinsecta fosse a estratégia de adicionar proteínas de invertebrados à ração e, consequentemente, negociar baratas, grilos e larvas de besouros para consumo humano. Ainda mais que, acrescenta o executivo, alguns chefes de cozinha foram à sede do grupo interessados em comprar insetos para servir em pratos inspirados na culinária estrangeira. O Ministério da Agricultura não tem prazo para avaliar o pedido da empresa. Mas, na hipótese de a reivindicação ser deferida, Pôssas não entrará apenas num novo nicho de mercado.

Estratégico, o criador da Kaiser sabe que o aval do órgão federal é uma importante espécie de carimbo de procedência para reforçar a marca Megazoo. “O que a gente está fazendo para as aves também pode ser feito para humanos”, emendou. Em outras palavras, ele quer dizer que os insetos podem ser vendidos tanto vivos quanto em forma de proteína para ser adicionada, por exemplo, em sopas.

Para isso, a empresa de Pôssas apresenta números favoráveis à ideia: “Há 1.417 espécies de insetos comestíveis conhecidos no planeta. Cerca de 3 mil grupos étnicos praticam a entomofagia em mais de 120 países. Quanto ao seu valor nutritivo, a carne do inseto é comparável às tradicionais, como a de porco, vaca, carneiro e peixe, com a vantagem de serem os insetos mais eficientes para converter vegetais em proteínas”.


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