O impacto da quebra do banco de investimentos Lehman Brothers, em setembro de 2008, e a onda de pânico que varreu a economia global em seguida foram tão devastadores que, no Brasil, algumas das maiores empresas suspenderam imediatamente os investimento e, pior, demitiram milhares de trabalhadores. Os dois exemplos mais emblemáticos foram a mineradora Vale e a fabricante de aviões Embraer, que contaminaram, de forma assustadora, todo o setor produtivo. Com a atual crise batendo às portas do país, o governo teme que esse filme se repita. A preocupação é tamanha que assessores do ministro da Fazenda, Guido Mantega, e do presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, passaram a monitorar, diariamente, os projetos de expansão da indústria e do varejo para detectar problemas.
Ciente das preocupações do governo, a Embraer já emitiu sinais de que está longe de repetir o desastroso quadro de três anos atrás. Pelo contrário. Os investimentos deste ano estão mantidos e vão superar os US$ 100 milhões, mais do que o dobro dos US$ 44 milhões desembolsados em 2010. A companhia assegura que estão a pleno vapor a construção de uma fábrica nos Estados Unidos e a abertura de duas unidades em Portugal. O total de funcionários — mais de 17 mil — também, no entender da empresa, está no tamanho adequado para atender pedidos (a carteira passa de US$ 16 bilhões), diferentemente do que se viu em 2008.
A mensagem foi ratificada pela Vale, que programou aplicar US$ 24 bilhões este ano, 23,6% a mais que em 2010. Para a mineradora, a crise atual não tem sido uma grande dor de cabeça. Por uma razão: a China e o restante da Ásia, com as economias em plena expansão, continuam responsáveis por cerca de 50% de suas receitas. Há, ainda, uma sintonia maior entre o comando da companhia e o Palácio do Planalto, fruto da troca de Roger Agnelli por Murilo Ferreira na presidência da empresa.
Na avaliação do governo, apesar de a economia global estar em desaceleração, com os Estados Unidos e a Europa à beira da recessão, o Brasil apresenta condições muito melhores para enfrentar as intempéries. Essa avaliação, inclusive, está sendo respaldada pelos estrangeiros, que, pelas contas do diretor de Política Monetária do BC, Aldo Luiz Mendes, vão despejar no país um volume recorde de US$ 70 bilhões em investimentos diretos (IED).
O pilar que sustenta esse interesse é o tamanho do mercado consumidor brasileiro: apenas no primeiro semestre, as famílias gastaram R$ 1,2 trilhão, 6% a mais do que no mesmo período de 2010. Na Europa e nos EUA, entretanto, os consumidores andam com o pé no freio, assustados com o desemprego.