No último dia de pregão, o dólar inverteu a curva ascendente que predominou durante toda a semana e fechou cotado a R$ 1,83, queda de 3,48% frente à barreira de R$ 1,90, atingida na quinta-feira. Apesar da forte queda, a moeda americana acumula valorização de 5,5% nos últimos cinco dias. Enquanto viajantes e importadores comemoram, a indústria nacional torce que o patamar de R$ 1,90 volte a ser alcançado. Só assim, poderão aumentar a competitividade e entrar com força total na briga por mais espaço no mercado interno, especialmente de olho no Natal.
Apesar de muitas encomendas já terem sido feitas, grandes setores como o de eletroeletrônicos que negociam por meio de crédito, com pagamentos futuros, podem ter de elevar os preços dos importados para compensar a variação do câmbio. Um outro aspecto é que os varejistas que estudavam complementar estoques com produtos importados poderão rever a estratégia ou reduzir as encomendas.
Os efeitos da desvalorização do real têm reflexo positivo na indústria nacional, que considera o patamar entre R$ 1,90 e R$ 2,20 favorável à atividade. "Com a valorização do dólar, alguns setores vão sentir o impacto, ganhando competitividade com os importados, como por exemplo eletroeletrônicos, brinquedos e confecções", apontou Lincoln Fernandes, presidente do Conselho de Política Econômica da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg).
Em Minas, a desvalorização do real anima segmentos como o de confecções que vem enfrentando disputa bastante dura principalmente com os tigres asiáticos. Segundo o presidente do Sindicato da Indústria de Vestuário de Minas Gerais (Sindvest), Michel Aburachid, a diferença entre a roupa importada e a fabricada no Brasil chega a 35%. No entanto, o horizonte agora está menos nebuloso, e a tendência é que a distância entre o produto que vem de navio e o fabricado por aqui fique mais curta.
Com o dólar a R$ 1,90, o vestuário importado deve encarecer cerca de 25% na avaliação do empresário. "O produto nacional fica bem mais competitivo, podendo superar a diferença restante ganhando na rapidez da entrega e nos lançamentos", afirma Aburachid. Para ele, se o câmbio se mantiver em alta, o consumidor brasileiro deve comprar roupa nova nacional para as festas de fim de ano.
Custos
Apesar de ter a expertise para desenvolver produtos de alta tecnologia, a manufatura do setor de eletroeletrônicos é dependente dos importados que compõem cerca de 38% dos custos. Mesmo assim, a alta do dólar esquenta a disputa. Roberto Souza Pinto, presidente do Sindicato das Indústrias de Aparelhos Elétricos Eletrônicos e Similares do Vale da Eletrônica (Sindivel), aponta que no patamar de R$ 1,55 os produtos nacionais custam de 28% até 32% a mais que os aparelhos importados acabados, que chegam aqui prontos para ganhar as prateleiras do varejo.
Segundo ele, países como a China contam com incentivos, além de produzirem a matéria-prima. "Com o dólar a R$ 1,90, conseguimos equiparar os preços e em alguns casos ficar até mais baratos", pondera. Na análise do Sindivel, o impacto positivo pode chegar já no Natal, porque grandes contratos geralmente não utilizam o pagamento à vista, mas sim o crédito. "Será preciso elevar os preços para cumprir com os compromissos pactuados em reais", observa Roberto.
Grande setor nacional que perde espaço para os importados, o setor calçadista acredita que um suave efeito do câmbio em alta poderá ser sentido nas compras natalinas. Luiz Barcelos, diretor financeiro da fábrica de calçados Luiza Barcelos, estima alta de pelo menos 15% nos sapatos que chegam aqui, vindos do outro lado do mundo. Barcelos acredita que a decisão de repor o estoque com produtos asiáticos deve ser revista.