Se jornal tivesse cheiro, esta página seria a mais gostosa desta edição. Como a tecnologia gráfica ainda não chegou lá, outros atrativos até tentam: são molhadinhos, cremosos, doces, coloridos e... lucrativos. O sabor das cifras fez com que os quiosques de cupcakes, aqueles bolinhos com coberturas cremosas, febre celebrada nas ruas, no cinema e na TV dos EUA, invadissem os shopping centers de Belo Horizonte. Viabilizados por franquias nacionais ou marcas locais, os estandes que vendem os pequenos bolos coloridos marcam presença em dois shoppings da cidade. E nos próximos dois meses devem chegar a mais cinco. As empresas escondem os números, mas a expansão dos quiosques mostra que o negócio, até então domínio de confeiteiras artesanais, encontrou seu espaço nos corredores dos grandes malls e, ao que parece, veio para ficar.
Os estandes são comumente usados para promoção temporária de novos produtos, mas o gerente de marketing da franqueadora baseada no Rio de Janeiro Vintage Cupcakes, Victor Albuquerque, garante que o prazo médio de seis meses de contrato nunca foi problema para os 23 quiosques da franquia no Rio, Niterói, São Paulo, Brasília, Salvador e Brasília – a capital federal foi a que inaugurou a marca, em 2009. “Em alguns shoppings, nós movemos os quiosques, de tempos em tempos”, explica, adiantando que “nossas pesquisas mostraram que saborerar os cupcakes reduz o estresse dos consumidores, no meio da barulheira do shopping”.
Também para garantir que os cupcakes não sejam modinha que desapareça tão rápido quanto surgiu, os franqueados rebolam. “Nós lançamos, a cada mês, dois sabores novos para diversificar o cardápio. E fazemos degustação com minicupcakes, no lançamento, para atrair novos clientes”, diz o empresário Vítor Castro Martins, franqueado da Vintage, com quiosque no BH Shopping. A chegada dos cakebites, espécie de cupcake invertido, que já são sucesso no Rio, está prevista ainda para este mês. Os investimentos são de R$ 300 mil no estande que abriu em julho, e no próximo, que só aguarda a disponibilidade de espaço em mais um centro de compras.
Logística
Segundo Albuquerque, o valor da franquia varia entre R$ 120 e R$ 150 mil, de acordo com o ponto, o formato do quiosque e a avaliação do retorno. O investimento se paga entre 18 e 24 meses. Os cupcakes, disponíveis em 20 sabores, saem a R$ 6,50, são preparados em cozinha que fica no Coração Eucarístico e repostos de uma a quatro vezes por dia. A média diária de vendas é de 400 unidades.
Logística parecida foi desenvolvida pela marca mineira Enjoy Cakes, que tem estandes no Boulevard Shopping e no Shopping Cidade. Inauguradas respectivamente em julho e em agosto, acumulam investimento de R$ 150 mil. Para a expansão para outos dois shoppings, o proprietário Maurício Moreira Gomes prevê mais R$ 80 mil. Os cupcakes são vendidos a R$ 6. O principal investimento, além da criação do marketing da loja a partir do zero, é no padrão de qualidade das matérias-primas para a criação dos 14 sabores disponíveis. “Chocolate belga, frutas frescas, geleias naturais e bases de iogurte garantem produto mais puxado para o lado gourmet”, indica Gomes, desconversando quando o papo é a concorrência: “Os públicos dos shoppings são diferentes; não concorremos”. Vida longa à boa vizinhança. Pelo menos até esbarrar no espaço limitado dos corredores – e dos shoppings – da capital.
Cupcakes
A primeira receita registrada de cupcake é creditada à culinarista americana Eliza Leslie, em 1928. Mas o bolinho, com cobertura rebuscada surgiu mesmo no século 19, nas cozinhas inglesas. Foi a receita americana, contudo, que transformou o doce em business. Confeitarias como a Magnolia Bakery, em Nova York, especializaram-se nos sabores de cupcake, depois de divulgação de peso no seriado Sex and the city. Hoje, a iguaria é atração turística e marca registrada da Big Apple.