O temor de uma recessão global bate às portas da indústria da mineração, que seguia desconhecendo a crise e empenhada num programa audacioso de investimentos no Brasil e em Minas Gerais, estado responsável por cerca de metade da produção mineral brasileira, estimada num recorde de US$ 50 bilhões neste ano. Os riscos da nova turbulência ficaram claros numa semana marcada pelo desabamento nas bolsas de valores de Londres a Nova York e a queda indesejável dos preços em dólar do rentável minério de ferro, do níquel, cobre e até do ouro, ativo até então indiferente aos momentos de instabilidade da economia mundial.
Cientes de que não vai se perpetuar o ciclo vigoroso de alta dos preços das chamados commodities minerais, produtos com preços cotados no mercado internacional, as empresas do setor ainda contam com um cenário de cotações valorizadas por mais três anos, no entanto passaram a acompanhar dia a dia os sobressaltos nos mercados financeiro e de câmbio. Atento aos rumos da crise na Europa e nos Estados Unidos, o presidente do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), Paulo Camillo Vargas Penna, diz que o vendaval é preocupante e vai além de uma discussão envolvendo o desempenho de uma ou outra companhia.
“A responsabilidade da indústria cresce porque tendem a cair as exportações dos produtos manufaturados do Brasil e o país acaba ficando dependente das commodities minerais e agrícolas”, afirma. Para se ter ideia do que essa dependência representa, o minério de ferro cotado acima de US$ 150 por tonelada já participa com mais de 80% da balança de comércio da mineração brasileira. Na última semana, os preços dessa vedete entre as matérias-primas industriais desceram de US$ 180 para US$ 175 por tonelada. Níquel, cobre, petróleo e ouro também amargaram perdas, de 8%, 6%, 1% e 6%, respectivamente, até sexta-feira.
As quedas das cotações indicam que vem recessão por aí e nem mesmo o minério de ferro vai escapar, observa Pedro Galdi, analista chefe da SLW Corretora. “O cenário está mudando muito, ainda não está claro. Pode ser que caminhe para o céu ou o inferno”, compara. Ancorada em projeções firmes de crescimento econômico, sobretudo da China, a indústria da mineração prevê investimentos recordes de US$ 68,5 bilhões no Brasil, deste ano até 2015, dos quais mais de um terço (36,6%), ou seja, US$ 25,061 bilhões, serão destinados a Minas Gerais, conforme estimativas do Ibram.
Trata-se de um volume de recursos sem precedentes na história da mineração, notadamente na indústria do ferro, impulsionada pelo apetite industrial da China e o enorme processo de urbanização do gigante asiático, destaca José Fernando Coura, presidente do Sindicato da Indústria Extrativa de Minas (Sindiextra). “Não há nenhum sinal de que a crise na Europa e nos Estados Unidos vai inibir os investimentos no Brasil, mas a turbulência, de fato, preocupa, porque aumentam os excedentes de produção na Europa”, afirma. Paulo Vargas Penna, do Ibram, pondera que a despeito do ambiente de crise as previsões de crescimento da China traçadas pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) estão mantidas em 9,9% neste ano, refletindo um grande processo de urbanização em curso.
EM FOCO A demanda mundial de minerais e os desafios da indústria da mineração serão discutidos de amanhã a quinta-feira, dia 29, na 14ª edição da Exposição Internacional de Mineração (Exposibram) e no Congresso Brasileiro de Mineração, no centro de convenções Expominas, em Belo Horizonte. São 70 empresas participantes, 390 expositores de 23 países, incluindo a China com dois pavilhões, e mais de 2 mil profissionais esperados para os debates. O Ibram ainda estima 45 mil visitantes.