Mesmo com a piora das expectativas de inflação em 2011 e 2012, os juros futuros caíram nessa segunda-feira. Declarações de autoridades brasileiras pressionaram as taxas para baixo. Sexta-feira, o presidente do Banco Central (BC), Alexandre Tombini, alertou que o risco de recessão global está mais alto. Além disso, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, voltou a insistir em que o governo quer um crescimento de 4% para a economia.
“Se o governo quer um PIB de 4%, o corte de juros vai prosseguir a despeito da piora das expectativas”, analisou um operador, dizendo que a insistência da equipe econômica na piora externa prepara o terreno para uma nova redução da taxa básica de juros (Selic). “Já há até mesmo quem fale num corte de 1 ponto porcentual no próximo encontro do Copom (Comitê de Política Monetária do BC), em outubro”, completou a mesma fonte.
Ainda que não aposte em um corte de maior intensidade na próxima reunião do BC, o economista-chefe da Prosper Corretora, Eduardo Velho, enxerga a possibilidade de um afrouxamento monetário para além de 2011.
“Em nossos cenários, esperamos um recuo total de ao menos 1,5 ponto porcentual nas próximas três reuniões de política monetária, para 10,50% (com queda de 0,50 ponto em cada reunião)”, afirmou.
Entretanto, Velho ponderou que “esse movimento de queda da Selic pode ser ampliado ao longo do próximo ano”. Nesse caso, o determinante seria a crise internacional, e não a preocupação com uma inflação superior à meta.
Segundo o boletim Focus divulgado ontem pelo BC, os prognósticos do mercado financeiro para o IPCA em 2011 passaram de 6,46% para 6,52%, superando, portanto, o teto da meta de 6,50%. Para 2012, as projeções subiram de 5,50% para 5,52%.
Apesar da piora das expectativas, o IPC-Fipe divulgado ontem se mostrou favorável à estratégia do Banco Central, ao apontar desaceleração de 0,25% para 0,22% entre a segunda e terceira prévias de setembro. Isso já fez com que a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) revisasse, de 0,30% para 0,27%, a projeção para a inflação de setembro na cidade de São Paulo.
“Os investidores e analistas discordam da estratégia do BC e acreditam que a inflação pode ultrapassar o teto da meta. No entanto, as incertezas externas não abrem espaço para uma aposta mais contundente na reversão da política monetária mais adiante” disse um profissional que trabalha na área de renda fixa.
Por isso, observou, os contratos de juros futuros mais longos (acima de 2017, por exemplo), “ficam nesse sobe e desce, com os investidores sem estratégia definida e operando no dia a dia”.