Durante audiência pública na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado, o presidente do BC tentou preparar o mercado para o que está por vir. Explicou que cortou os juros na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), em 31 de agosto, devido à deterioração global e argumentou que a economia brasileira está suficientemente apertada sem nem mesmo ter sentido os efeitos totais do aumento, na Selic, de 1,75 ponto percentual promovido até julho. Ainda segundo ele, a inflação mensal está em níveis compatíveis com a meta de inflação e “são claros os sinais de moderação do consumo”. Todo esse cenário, de acordo com integrantes do governo, justifica uma política monetária mais frouxa.
“Não fomos surpreendidos, tudo o que ocorreu está na conta. O cenário que desenhamos na última reunião do Copom vem se concretizando”, afirmou. “Não temos bola de cristal para prever um acidente de percurso, como o que ocorreu em 2008 (quebra do Lehman Brothers), mas temos capacidade de avaliação”, disse Tombini. O presidente do BC, entretanto, evitou falar em catástrofe, mas ficou claro que ele espera um desfecho para a crise da dívida grega para breve “A situação é séria, o mundo vai crescer menos que se previu”, alertou. No mercado de juros futuros, as apostas são de mais cortes, pelo menos mais um recuo de 1 ponto percentual na próxima reunião ou mais dois ajustes de 0,50 ponto percentual em outubro e novembro.
Pessimismo
Ainda para justificar a postura de afrouxamento monetário, Tombini se mostrou bastante pessimista em relação ao endividamento público das principais nações do globo. Com projeções do Fundo Monetário Internacional (FMI), observou que até 2016, seis de 10 países vão elevar suas dívidas expressivamente. No caso do Japão, essa expansão vai ser de 20,3 pontos percentuais. No da Espanha, 10 pontos. O presidente do BC ainda criticou a ação de outros bancos centrais. “O baixo crescimento nas economias maduras levou os BCs a adotar políticas monetárias expansionistas, as quais não foram eficazes em restabelecer um crescimento sustentável nessas economias”, afirmou. “As crises de dívida demoram para se resolver. O crescimento da economia é que resolve”, disse.
A expansão mundial também foi alvo do pessimismo de Tombini. Segundo ele, as economias mais maduras estão frágeis e sem espaço para ampliar gastos fiscais ou impulsionar a atividade por meio de ações monetárias. “Foram esgotados todos os instrumentos convencionais”, criticou. De acordo com ele, já se fala em contração na Europa no 4º trimestre de 2011 e também nos Estados Unidos no 1º trimestre de 2012. “Hoje vemos uma virada preocupante em relação à perspectiva econômica, e o Brasil não está isolado. Está havendo revisão para baixo das perspectivas, incluindo aí a China, o que é uma novidade”, ponderou.
Tombini, ainda durante audiência no Senado, chamou a atenção para os bancos europeus. Disse que, com o aumento do risco soberano dos países, a avaliação das instituições financeiras também piorou, já que esses bancos estão bastante expostos a títulos dessas nações. Como consequência, os banqueiros estão enfrentando dificuldades para captar recursos e pagando altos custos quando o fazem. Estão sofrendo ainda desvalorizações expressivas de suas ações nas bolsas e o medo é que, nesse cenário, semelhante ao de 2008, um banco de grande porte venha a quebrar e disseminar prejuízos por todo o sistema financeiro global.
Perda de US$ 10 trilhões
Sem notícias concretas sobre o desfecho para a crise da Zona do Euro, investidores resolveram se apegar à esperança de que as autoridades europeias encontrarão uma solução para a dívida da Grécia. Nessa terça-feira, o Ibovespa, que reflete a variação das ações mais negociadas na Bolsa de Valores de São Paulo (BM&FBovespa), ficou positivo pelo segundo dia seguido. Depois de subir 2,32% ao longo do pregão, o índice fechou com ligeira alta, de 0,32%, aos 53.920 pontos, e não conseguiu acompanhar o Dow Jones, da Bolsa de Nova York, que subiu 1,33%, nem os índices europeus — o pregão de Paris, por exemplo, saltou 5,74%. Apesar da melhora, o sobe-e-desce dos mercados por conta da crise internacional levaram a uma perda aproximada de US$ 10 trilhões em ativos das empresas listas nas bolsas nos últimos quatro meses, disse o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini.