A Fiat Automóveis vai conceder férias coletivas de 10 dias, a partir de 10 de outubro, a 20% dos seus empregados da fábrica de Betim, na Grande BH, conforme comunicado encaminhado ao sindicato local dos metalúrgicos. Será a segunda paralisação parcial da produção da montadora em menos de um mês, atingindo, agora, cerca de 2 mil trabalhadores, com a justificativa da necessidade de redução de estoques, a despeito do benefício concedido à produção nacional do aumento do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) sobre carros importados. Procurada pela reportagem, a assessoria de imprensa da Fiat não conseguiu confirmar a informação até o fechamento desta edição.
Nas contas do Sindicato dos Metalúrgicos de Betim, 250 a 300 carros deixarão de ser produzidos. Insatisfeito com a nova parada, em plena campanha salarial dos metalúrgicos de Minas, o presidente do sindicato de Betim, João Alves de Almeida, disse que os trabalhadores suspeitam de que a nova parada será usada, de fato, para alguma adequação no chão de fábrica da Fiat, ante as mudanças esperadas com a elevação da taxação sobre os importados. “Acreditamos que a empresa pode estar se aproveitando para facilitar mudanças na produção para depois que o acordo do IPI estiver, de fato, valendo”, afirmou.
Há empresas, como a chinesa Jac, que anunciaram para este fim de semana o fim do prazo das promoções de veículos sem a incorporação do aumento do IPI. Em agosto, os estoques nos pátios da indústria automotiva e das revendas correspondeu a giro de 37 dias – um a mais que em julho –, de acordo com a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). O sinal amarelo, conforme já havia avisado o próprio presidente da instituição e da Fiat Automóveis para a América Latina, Cledorvino Belini, se acenderia com 35 dias de estoque. A rotatividade não chegava a patamar tão desfavorável desde novembro de 2008, auge da crise financeira mundial, quando o giro atingiu 56 dias.
Desaquecimento
Ainda conforme José Maria de Almeida, do Sindicato dos Metalúrgicos de Betim, outra hipótese levantada pelos trabalhadores é uma parada parcial para manutenção na empresa. Com base no comunicado de férias coletivas feito pela montadora italiana, segundo Almeida, vai parar a linha 3 da fábrica, desde a produção de motores ao acabamento, responsável pela produção de veículos de porte médio, avaliados na faixa de R$ 30 mil a R$ 45 mil. A montadora teria priorizado para a paralisação os trabalhadores com férias vencidas.
Para o economista Márcio Antônio Savato, professor de macroeconomia da escola de administração e finanças Ibmec, não há incoerência na decisão da Fiat de paralisar parcialmente a produção logo depois de o governo beneficiar os carros produzidos no país perante os importados. Ele observa que as montadoras vivem um momento em duas frentes: de um lado, perdem nas exportações com o desaquecimento da economia na Europa e nos EUA e, de outro, vinham trabalhando para ganhar espaço no mercado interno, na expectativa de compensar o balanço dos negócios. “A subida do IPI não foi suficiente para elevar a demanda interna a esse ponto”, afirma.