Paris – As principais potências emergentes do mundo, reunidas no acrônimo Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), querem usar o Fundo Monetário Internacional (FMI) para ajudar os países europeus que enfrentam a crise da dívida pública. Mas países desenvolvidos como os Estados Unidos e a Alemanha resistem a recorrer ao organismo multilateral de crédito, preferindo uma saída eminentemente europeia. O impasse será um dos principais assuntos na reunião dos ministros das Finanças e presidentes dos bancos centrais do G-20 (grupo das 19 maiores economias mais a União Europeia) hoje, na capital francesa.
Essa iniciativa reforça o pedido dos Brics por mais peso na estrutura interna de poder no FMI, fazendo valer seu crescimento econômico em ritmo maior e suas enormes reservas internacionais, superiores a US$ 4 trilhões. Nessa sexta-feira, o ministro das Finanças sul-africano, Pravin Gordhan, disse que os recursos do Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (Feef) podem ser insuficientes para evitar um contágio da crise. O mecanismo tem 440 bilhões de euros disponíveis, o equivalente a US$ 604 bilhões. O ministro brasileiro da Fazenda, Guido Mantega, reconheceu que não há consenso no G-20 sobre o auxílio do Fundo.
"Os problemas enfrentados na Europa são complicados de resolver, mas estão claramente dentro dos recursos disponíveis", minimizou o secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Timothy Geithner. Num discurso afinado, seu colega alemão, Wolfgang Schäuble, afirmou que os próprios europeus devem "cumprir a tarefa" de debelar a crise na Zona do Euro.
Segundo um plano de ação divulgado pela diretora-gerente do Fundo, Christine Lagarde, a instituição pode ser obrigada a gastar US$ 385 bilhões para ajudar alguns dos seus Estados-membros nos próximos 12 meses. Nessa sexta-feira, participantes da reunião do G-20 estimaram que o FMI precisaria de uma injeção de mais US$ 350 bilhões para ajudar a Grécia e a Itália, por exemplo. Os recursos seriam obtidos por uma nova rodada de aportes pelos países, opção que enfrenta resistências políticas nos Estados Unidos e na Europa, ou por uma captação no mercado. Essa alternativa pode ser tecnicamente de difícil execução.
Mantega
O ministro brasileiro também participou de reunião com o ministro de Finanças da França, François Baroin. Mantega disse que seu colega francês apresentou soluções que parecem eficazes para resolver os problemas da Grécia, dos demais países em dificuldade, dos bancos e da necessidade de reforço do FMI.
"A Europa está avançando para um instrumental mais eficaz. Estou mais otimista", declarou Mantega. O ministro informou que existe certo consenso entre o Brasil e a França de que o FMI precisa ser fortalecido, mas os valores e o formato a ser escolhido ainda estão sendo discutidos.
De acordo com o ministro brasileiro, a definição será tomada pelos líderes do G-20, em Cannes. Contudo, Mantega não quis informar qual é a posição específica do Brasil sobre a operação do FMI. Segundo fontes, não faria sentido para o país colocar mais recursos no Fundo, sem ter como contrapartida o aumento de cotas. Em abril de 2009, o G-20 decidiu aumentar o capital do FMI de US$ 250 bilhões para US$ 1 trilhão.
Maior participação do Brasil
Em um discurso formatado para demonstrar que a economia brasileira se mantém forte diante da crise internacional, a presidente Dilma Rousseff afirmou nessa sxta-feira que o país poderá elevar sua participação no Fundo Monetário Internacional (FMI). A presidente disse ter sido um “grande passo” a decisão do país em quitar a dívida que tinha com o Fundo. “Hoje nós temos recursos aplicados no Fundo Monetário. Possivelmente, inclusive, vamos ter uma maior participação (no FMI)”, afirmou Dilma, durante assinatura do pacto Brasil sem Miséria com governadores da Região Sul, em Porto Alegre (RS). A afirmação da presidente firmou a posição do país ao lado de outras nações emergentes em meio à discussão, no âmbito do G-20, da possibilidade de dobrar o capital do FMI como forma de ajudar a Europa.
A hipótese é refutada pelos Estados Unidos e pela Alemanha, que defendem que a Europa teria recursos suficientes para enfrentar o momento de crise instalado na Zona do Euro. Ministros de finanças dos países que integram o G20 estão reunidos em Paris discutindo se a região deve arcar sozinha com a crise econômica que atinge o continente ou se o restante do mundo deve ajudar a Europa. É nesse contexto que a presidente acena com uma possível elevação da cota do país no FMI. “Jamais aceitaremos, como participantes do Fundo Monetário, que certos critérios que nos impuseram sejam impostos a outros países”, ressalvou Dilma.
A presidente declarou que o Brasil tem, hoje, maior capacidade de lidar com as turbulências. Ela destacou o mercado interno como uma das armas ante as dificuldades externas, mas admitiu que a redução do consumo em todo o mundo atinge o país.
"Nós não somos uma ilha, de uma forma ou de outra nós somos atingidos pela crise através da redução do consumo em todas as regiões do planeta. Nós iremos resistir equilibrando o nosso crescimento", disse Dilma, que tem se mostrado contrária à adoção de políticas fiscais que comprometam o crescimento. “O Brasil se encontra hoje consigo mesmo e sabe da sua força. Sabe da sua força, sabe da importância de continuar a crescer, de continuar investindo em infraestrutura, de continuar fazendo investimentos para resgatar a sua população da pobreza”, afirmou a presidente.