Enquanto tratores levantam poeira e comerciantes pedem agilidade nas obras para que os compradores retornem, donos de imóveis, de olho na nova cara da Savassi, nem esperam o fim das intervenções e reajustam aluguéis em mais de 100%. Faltando seis meses para o pesadelo virar sonho, lojistas encaram a queda brusca no faturamento e a obrigação de avaliar se vale a pena permanecer no local ou se é melhor procurar novo rumo.
Há dois meses, o proprietário da galeria onde está instalado o tradicional Bar do João, na Rua Tomé de Souza, chamou o empresário João Antônio Pimenta Júnior para negociar o aluguel. A primeira proposta mais que triplicava o total pago pela instalação. Mas, como a área do bar resume-se a 22 metros quadrados, o empresário conseguiu argumentar que os valores estavam acima do padrão para a região. Depois de exaustiva negociação e, inclusive, ameaça de acionar a Justiça, inquilino e proprietário fecharam acordo. No primeiro ano, o aluguel sofrerá aumento de 122%; passados mais 12 meses, o reajuste chegará a 177% e, daí em diante, os aumentos voltam a corrigidos pela inflação. “A justificativa é que os alugueis do prédio estavam defasados, mas o meu caso era diferente. Ele argumentou que o bar desvaloriza a galeria e, por isso, o aumento seria maior”, argumenta João Pimenta.
O receio do empresário é que a obra resulte em aumento também dos impostos e que novas taxas sejam criadas. Atualmente, ele destaca 30% do faturamento para o pagamento de taxas. Só nas taxas de instalação de toldo e mesas e cadeiras ele gasta R$ 8 mil por ano. “Uma hora fica inviável. Meu medo é a obra valorizar demais a região”, afirma João, que apesar de sofrer com os problemas da obra contratou uma arquiteta para reformar o bar. “Espero que a clientela aumente.”
Problema semelhante ao de João enfrenta o proprietário da Agência Status, tradicional livraria da Savassi, Rubens Batista. O proprietário do imóvel pediu mais que o dobro no reajuste do aluguel, mas, com as negociações, o índice acordado ficou em 30% nos 12 próximos meses de contrato e 50% mais nos meses posteriores. “Uma hora ninguém vai dar conta de pagar isso”, afirma Batista, reiterando que as obras resultaram em queda superior a 50% no faturamento da livraria. A Status é um dos empreendimentos mais antigos da Savassi, dos tempos em que o pirulito – hoje na Praça Sete – ficava na Praça Diogo Vasconcelos.
Na avaliação do empresário, dono de outras duas casas na Savassi, a obra deve dar ares semelhantes aos de outros centros comerciais mundo afora, como a Rua Florida, em Buenos Aires, na Argentina, mas, “se a obra for até março nesse ritmo, 80% dos comerciantes não aguentam”, diz Rubens.
O presidente do Conselho Savassi da Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL-BH), Alessandro Runcini, esperava que, em virtude das obras, fosse concedida isenção de IPTU aos lojistas. Foi surpreendido pelo aumento nos aluguéis. “É bem leviano aumentar num momento como esse. Desestimula”, afirma.
O projeto da CDL-BH para a Savassi prevê estender o horário de funcionamento das lojas para até 21h, criando uma alternativa aos shoppings. Com três horas a mais de vendas e um novo perfil de consumidores, a esperança é que haja crescimento de 30% nos negócios em relação ao período pré-obras. “Um dos principais problemas na Savassi é a falta de estacionamento. Mas à noite as vagas ocupadas por funcionários da região estarão livres e, com isso, teríamos um público novo”, diz Runcini.
Palavra de specialista
Demandaltíssima
Otimar Bicalho
Câmara do Mercado Imobiliário
“Os aumentos nos aluguéis de lojas comerciais estão diretamente ligados à falta de oferta de imóveis na região da Savassi. Esse eixo da Savassi até o Seis Pistas é o mais valorizado hoje, em Belo Horizonte, com o metro quadrado de uma sala valendo até R$ 12 mil. A demanda ali grande demais. Além de ser um ponto nobre, as facilidades da região são um atrativo. Tem banco e restaurante perto e a possibilidade da criação de estacionamentos subterrâneos. Hoje não existe interesse de locação sem garagem, principalmente de escritórios.”