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Estado de Minas

Natal mais gordo nos shoppings populares de BH

Centros de compras projetam vendas até 20% superiores em relação ao ano passado e investem para atrair a classe média


postado em 29/10/2011 06:00 / atualizado em 29/10/2011 08:30

Longe da correria das ruas que em dezembro costumava misturar chuva com o corre corre de consumidores pelas calçadas estreitas, os shoppings populares da capital que abrigam entre seus lojistas antigos camelôs estão organizados, apostando alto nas vendas do fim de ano e nos produtos legalizados. Para lá de otimistas, acreditam que a crise mundial não vai respingar no Natal da classe média brasileira. Enquanto a expectativa do comércio nacional é crescer 5% na melhor época do ano para o varejo, os centros de compra populares apostam no apetite para o consumo da classe C. Nada modestos, em relação a dezembro passado, esperam ampliar o caixa entre 15% e 20%, mais de três vezes o percentual estimado pela Confederação Nacional do Comércio (CNC).

Entre as estratégias para atrair a classe média, principal alvo dos populares e que em 2011 vai gastar em consumo cerca de R$ 1 trilhão, segundo o Instituto Data Popular, os shoppings populares apostam no investimento em marketing, promoções, sorteios e brindes. No Oiapoque que reúne 850 lojistas em 12 mil metros quadrados, são encontrados de artigos esportivos de marcas famosas mundialmente até brinquedos da moda e eletrônicos. Em dezembro o investimento em marketing vai triplicar atingindo R$ 40 mil. A administração do shopping informa ainda que vai haver concurso cultural de frases e entre os prêmios cogitados está uma moto. Além disso, R$ 500 mil foram investidos em quatro lojas e em um restaurante novo. “Os shoppings populares têm a seu favor a agilidade em lançar novos produtos, além de custo mais baixo”, reforça o dono do Oiapoque, Mário Valadares.

Pronta para o Natal, a lojista Angélica Carvalho há seis anos trocou as ruas pelo shopping popular. A frente da Arte de Presentear ela conta que grande parte de seu estoque foi arrematado no ano passado. “Neste Natal teremos preços melhores, acredito que vamos vender pelo menos 20% mais que o ano passado. Pelo Dia das Crianças deu para ter ideia de como o Natal será bom”, calcula.

Papai Noel e sorteio de tablets para clientes serão atrações no shopping popular Xavantes, que conta com 550 lojas. O diretor de marketing, Leonardo Furnan, projeta crescimento para a data de 15%. “Este será o Natal dos populares, que têm produtos mais baratos para atender a classe média.” O economista da Confederação Nacional do Comércio Bruno Fernandes acredita que mesmo diante de uma maior inflação e crédito mais apertado que o mostrado no cenário do ano passado, as famílias da classe média serão o motor de sustentação do consumo neste Natal.

Eletrônicos Também lojista popular, Alessandra Cristina das Dores há cinco anos dirige a Master Eletrônicos e apressa-se para informar que seus produtos são originais e vendidos com nota. Ela está satisfeita com os resultados do negócio e neste Natal não considera que a redução do ritmo da economia vá freiar o consumo de quem deseja um smartphone, câmara fotográfica ou jogos eletrônicos. “Calculo que vamos crescer pelo menos 30% em relação ao Natal do ano passado.”

 Elias Tergilene, diretor de Operações do Uai Shopping que funciona no hipercentro de Belo Horizonte com filial também em Venda Nova, diz que o ritmo é favorável ao seu principal público. “No país não há desemprego e a classe média não faz poupança, gosta de consumir no Natal.” Ele diz que o shopping vai crescer seu quadro de funcionários temporários em 30%, vai investir no marketing e contratar Papai noel. “Este ano, nosso foco será todo direcionado para a mulher da classe média, que define as compras da família. O homem consome pouco.” Tergilene faz coro na projeção do segmento. “O Natal no Uai deve ser 20% melhor que o ano passado.”

 

Das ruas à formalidade

 

Os conflitos entre camelôs sem licença e o poder público, como os observados nos últimos dias na Região do Bairro Brás em São Paulo, foi apaziguado em Belo Horizonte depois da aprovação do Código de Posturas da cidade que impediu o comércio de ambulantes, e dos chamados shoppings populares, implementados há cerca de oito anos na capital.

Primeiro centro de compras popular que entrou em funcionamento como espécie de laboratório, o Oiapoque iniciou o processo de formalização de seus comerciantes. “O Oiapoque deixou de ser um comércio popular para se tornar um shopping. Perto de 85% dos lojistas têm empresa e alvará de funcionamento. Em poucos meses todo o espaço estará legalizado”, afirma Mário Valadares proprietário do espaço.

Nos últimos anos, os shoppings populares proliferaram na capital e agora entraram em uma fase de expansão. O Shopping Oiapoque estuda um modo de por fim a seu calcanhar de Aquiles e pretende construir um estacionamento para 250 veículos com três pavimentos, onde hoje funciona o pátio coberto do ponto de venda. O Shopping Uai dobrará seu espaço no centro da cidade, saltando de seis mil para 12 mil metros quadrados em janeiro de 2012 e há um ano inaugurou 50 lojas em Venda Nova. O Xavantes começa em janeiro a construção de outras 80 lojas.

O empresário e ex-camelô Joelson Pereira comercializa sapatos em um shopping popular e este ano legalizou seu comércio. Vende com cartão de crédito, nota fiscal com direito a troca da mercadoria pelo cliente. Ele considera que mudar sua condição foi uma exigência do mercado. “Acho que para o cliente fez pouca diferença, mas para mim a legalização foi uma mudança grande.” Ele sentiu principalmente o peso da carga tributária. “Agora pago por mês cerca de R$ 4,5 mil de ICMS.”

Para Mário Valadares em breve a competição dos populares vai se acirrar ainda mais com o que ele chama de terceira fase do segmento. Primeiro tivemos o remanejamento das ruas para os shoppings, depois a organização e agora a transição para a economia formal.” Para ele, a ampliação dos shoppings populares em BH é um sinal de que a medida funcionou. “Belo Horizonte é a única capital da América Latina que conseguiu por fim aos camelôs no centro da cidade, apesar de esta ser uma questão cultural dos países latinos.”


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