Alheio às tormentas que assolam os mercados financeiros e as economias desenvolvidas no cenário internacional, o comércio varejista brasileiro vai muito bem, obrigada. Com crescimento acumulado de 7,2% no ano até agosto e de 8,2% nos últimos 12 meses, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o varejo tem sido o principal pilar de sustentação do crescimento econômico nacional. E, pelo menos a médio prazo, não há indicações de que esse cenário será alterado. Dez em cada dez analistas atribuem o bom desempenho do setor à convergência de três fatores: desemprego em queda, massa salarial em alta e oferta de crédito aquecida.
Ainda que em ritmo reduzido, o mercado de trabalho continua abrindo vagas. Somente este ano já foram criados mais de 2 milhões de empregos formais. A massa salarial está prestes a sofrer um reajuste de 14% com o aumento do salário mínimo previsto para janeiro de 2012, que elevará os ganhos para R$ 619,21. Desse total, 7,5% representarão um aumento real de renda destinada ao consumo. Sem contar os reajustes salariais com ganho real que diversas categorias de trabalhadores conquistaram este ano.
Sem contar que as ações de contenção da demanda estão com os dias contados. “O ministro (da Fazenda) Guido Mantega disse que vai retirar as medidas macroprudenciais, o que cria mais um estímulo para o comércio e melhora os indicadores”, afirma o economista da Coordenação de Serviços e Comércio do IBGE Reinaldo Silva Pereira.
Diante desse cenário, é difícil imaginar uma mudança de comportamento no consumo das famílias, que depois de apresentar crescimento de 0,7% no primeiro trimestre voltou a acelerar nos três meses seguintes e cresceu 1%. “Ainda não senti impactos e não alterei o meu comportamento de compras”, garantiu a consumidora Maria da Conceição Marques Lana enquanto escolhia o segundo par de sapatos em loja do Boulevard Shopping, em BH.
Para o presidente do conselho do Programa de Administração do Varejo (Provar) da Fundação Instituto de Administração (FIA), Cláudio Felisoni de Ângelo, não é a crise internacional que vai alterar a perspectiva das pessoas quanto à economia doméstica. “As classes de baixa renda são afetadas por outras variáveis. Elas começam a mudar de postura quando veem o vizinho perder o emprego”, avalia. É essa parcela da população que move a demanda interna, já que responde por 60% do consumo nacional, segundo dados do instituto de pesquisas Data Popular.
A gerente de economia da Federação do Comércio de Minas Gerais (Fecomércio), Silvânia Araújo, acredita ser evidente que o grande trunfo do país está em seu mercado interno. “Vivemos uma inclusão social muito forte e essas pessoas estão com a demanda reprimida. São consumidores que buscam novidades em bens duráveis e semiduráveis, melhorando a cesta de consumo”, observa.
Apesar de uma ligeira retração do ritmo do varejo nos últimos meses, Reinaldo Pereira ainda considera bons os resultados. “O desempenho de 2010 foi muito forte. Por isso, entra também um efeito da base de comparação elevada para justificar essa desaceleração”, pondera. Em agosto, o desempenho do varejo caiu 0,4% frente ao mês anterior.