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Estado de Minas

Apesar da crise europeia, líderes das maiores economias mundiais estão longe da união


postado em 30/10/2011 08:23 / atualizado em 30/10/2011 08:26

Brasília – Em vez de atores e cineastas, o Palácio dos Festivais de Cannes, Sul da França, estenderá seu tapete vermelho na quinta-feira aos líderes das 20 maiores economias do planeta. Como em um filme sem aplausos, deverão projetar ao fim do encontro, no dia seguinte, uma imagem distante da união mostrada diante dos flashes dos fotógrafos. Com a crise fiscal europeia longe do fim e a destruição de mais de US$ 10 trilhões em riquezas desde o início do ano, os chefes de Estado evidenciarão graves divergências que ainda impedem o G-20 de ser um grupo efetivo e não só um foro de debates entre emergentes e desenvolvidos.

Pouco mais de 10 anos depois de terem se sentado à mesma mesa pela primeira vez, países ricos e em desenvolvimento inverteram os papéis de heróis e vítimas. Mas, independentemente das posições em que se encontram, a percepção é de que cada um está voltado, prioritariamente, para seus próprios interesses. Falta o consenso para um acordo pelo progresso comum, que requer saídas difíceis. “Na reunião de cúpula veremos, claramente, pelo menos três blocos: os Estados Unidos, que lutam para criar empregos e garantir a reeleição de Barack Obama; a União Europeia, que necessita equilibrar as contas dos países membros para evitar a quebra de bancos e salvar o euro; e, por fim, os emergentes, entre eles, o Brasil, que rezam para não haver uma desaceleração mais forte da economia global”, ilustra Sandra Polónia Rios, diretora do Centro de Estudos de Integração e Desenvolvimento (Cindes).

Os pontos de conflito são muitos e interferem uns nos outros. Vão das manipulações cambiais lideradas pela China ao protecionismo comercial do qual o governo brasileiro se tornou adepto contumaz, passando pelo uso de reservas internacionais para reforçar o caixa do Fundo Monetário Internacional (FMI). Na avaliação de Marcos Troyjo, professor da Universidade de Sorbonne, em Paris, o encontro de Cannes consagrará, por essas razões, um “intercâmbio de recriminações”. Para ele, como não se confirmou, neste ano, a recuperação da atividade global esperada desde 2008, quando estourou a bolha imobiliária norte-americana, restou às nações desenvolvidas passar o pires entre os principais emergentes, em especial a China, para rearrumar as finanças de Grécia, Itália, Espanha, Irlanda e Portugal e, assim, reduzir a tormenta que empurra o mundo para a recessão.

Cobrança


“As gigantescas reservas cambiais de Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, que formam o acrônimo Brics, de US$ 4,2 trilhões, endossam o discurso dos emergentes, que cobram dos ricos uma redivisão do poder internacional”, diz Troyjo. Ele acredita que os Brics argumentarão que suas reservas, aplicadas majoritariamente em títulos do Tesouro dos EUA, já contribuem para que os juros do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) permaneçam perto de zero, ajudando na retomada da principal locomotiva do planeta. Apesar de o G-20 não ter função formal, Troyjo acredita que o grupo já é reconhecido pelas “antigas” potências industriais do G-7 como um retrato da mudança em curso do poder global, considerando que o Produto Interno Bruto (PIB) dos Brics empata com o da Europa e dos EUA.

No entender de Welber Barral, consultor de comércio exterior, as desavenças no grupo crescem junto com o protecionismo. “O G-20 é um foro importante, mas a instabilidade internacional impede construir consensos”, avalia. A seu ver, temas importantes, como a adoção de mecanismos de estabilização econômica para evitar colapsos como o grego, precisariam voltar à pauta dos líderes globais. “A agenda avançou pouco desde 2008, quando o grupo emergiu para além do nível ministerial. As cúpulas contiveram, mas não impediram barreiras comerciais”, acrescenta.


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