De rena e trenó, o Papai Noel ameaça deixar o espírito de bom velhinho de lado e dar um presente de grego para feirantes e artesãos que expõem seus produtos no Mineirinho às quintas-feiras e domingo. Às vésperas do Natal, um impasse em relação ao contrato do aluguel do espaço pode colocar os mais de 500 feirantes na rua da amargura, colocando em xeque o aumento de faturamento de 50% no período de fim de ano.
A explicação é que o contrato com a empresa responsável pela administração do espaço vence no dia 30 e não é possível renová-lo. A única alternativa seria assinar um documento emergencial, por três meses, para não prejudicar as vendas de Natal. Mas, depois disso, outro agravante: o Mineirinho irá fechar para reformas visando a Copa de 2014. Por um ano, a partir de março, o ginásio e suas dependências ficará fechado para obras, com previsão que funcione no local o centro de mídias – local para apoio aos jornalistas e profissionais ligados ao evento. Com isso, a feira terá de ser transferida temporariamente, pelo menos até a conclusão do projeto. “Poderíamos licitar o espaço novamente, mas, como será fechado para obras, não vamos iniciar um processo para apenas três meses”, afirma o diretor-geral da Administração de Estádios de Minas Gerais (Ademg), Ricardo Raso.
A solução pode ser encontrar um novo espaço para a feira, o que o diretor-geral classifica como um “pepino”. Mas os feirantes dizem que só aceitam negociação como último recurso e reiteram que têm direito à renovação por mais um ano, segundo o contrato. “Se sair do Mineirinho, a feira perde referência. Vamos ter que começar tudo do zero”, afirma a presidente da Associação dos Expositores da Feira Mineira de Artesanato do Mineirinho, Antônia Lúcia Lima, que questionou os expositores, um por um, sobre quem concordava com o posicionamento da associação, na edição de domingo do evento.
Mas o imbróglio não encerra-se por aí. Isso porque, mesmo que aceitem deixar o local, será difícil encontrar um espaço com as características apropriadas para receber os mais de 500 feirantes e artesãos. O primeiro requisito é que a área seja na Pampulha; com, no mínimo, 5 mil metros quadrados – equivalente ao espaço disponível no Mineiro; preferencialmente em um lugar movimentado, como a Avenida Fleming – uma das indicações dos feirantes. Mas o local praticamente foi vetado, por ser reduto de bares e restaurantes e não suportar a mistura de público, principalmente aos domingos, quando a via fica cheia de visitantes.
Outros três pontos são estudados: um nas proximidades do zoológico, outro perto do Shopping Del Rey e também o Centro Esportivo Universitário (CEU) da UFMG. A expectativa é que até a próxima semana o problema seja solucionado. Em ofício, segundo a Ademg, a Publimig, responsável pela administração do espaço, mostrou-se interessada em renovar o contrato por um ano, mas ainda não manifestou-se sobre o contrato emergencial.
O caso é semelhante ao enfrentado pelos expositores da Feira de Carros do Mineirão. Com o fechamento do estacionamento para obras, em dezembro do ano passado, o tradicional encontro para compra e venda de automóveis foi transferido para o Mega Space, em Santa Luzia, na Grande BH. A expectativa é de que o encontro seja mantido por lá pelo menos até a liberação do estádio.
Negociações em curso, mas sem definições
Sem resposta para perguntas-chaves, os expositores se dizem apreensivos em relação ao destino da feira de artesanato. A presidente da Associação dos Expositores da Feira Mineira de Artesanato do Mineirinho, Antônia Lúcia Lima conta que as negociações começaram em maio, mas nada foi definido. “Não temos nenhuma informação e falta pouco tempo para vencer o contrato”, afirma a feirante. Ela diz que os expositores encaminharam ofício para o Ministério Público Federal, Assembleia Legislativa e Defensoria Pública de Minas Gerais pedindo apoio. “Se os trabalhadores da Feira da Afonso Pena não tivessem ‘batido o pé’, teriam sido retirados de lá”, afirma Antônia.
Ela avalia que a saída da feira pode resultar em perdas significas para os feirantes. Produtora de patch work, Antônia cria 43 peças por semana em casa e vende seus produtos às quintas e domingos na feira e também pela internet, mas o site representa apenas um complemento do faturamento. “Tenho ganhos de R$ 6 mil a R$ 7 mil e posso ficar sem receber”, diz a feirante.
Caso semelhante ao da artesã Teresa Marques. Há um ano e meio, ela e o marido viram os lucros aumentarem consideravelmente com a produção de sabonetes e cosméticos artesanais ao entrar para a Feira do Mineirinho. Mas, neste fim de ano, ela pode ver os ganhos desaparecerem em pleno Natal. “As pessoas conhecem lá, ligam encomendando e vão direto à barraca”, afirma Teresa, que prevê queda de quase dois terços das vendas se a feira deixar o Mineirinho. (PRF)