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Estado de Minas

Europa eleva pressão e barra ajuda à Grécia

Na véspera da cúpula do G20, líderes da França e da Alemanha dão ultimato ao governo grego para que decida sobre socorro financeiro. Parcela de 8 bi de euros para o país está suspensa


postado em 03/11/2011 06:00 / atualizado em 03/11/2011 06:34

O presidente francês, Nicolas Sarkozy, e a chanceler alemã, Angela Merkel ameaçaram líder grego com exclusão de Atenas da Zona do Euro(foto: Christian Hartmann/Reuters)
O presidente francês, Nicolas Sarkozy, e a chanceler alemã, Angela Merkel ameaçaram líder grego com exclusão de Atenas da Zona do Euro (foto: Christian Hartmann/Reuters)

 
A União Europeia (UE), representada pela França e Alemanha, pressionou na noite dessa quarta-feira a Grécia para que decida se quer continuar ou não na Zona do Euro. Numa posição conjunta com o Fundo Monetário Internacional (FMI), o bloco cobrou do primeiro-ministro grego, George Papandreou, uma rápida resposta sobre a aceitação do pacote de resgate de 130 bilhões de euros, aprovado pelos líderes da UE semana passada e apoiado pelo Fundo, na forma proposta pelo governo da Grécia de um referendo popular. “A Europa está baseada na solidariedade e respeitamos a vontade do povo grego, mas já fizemos tudo ao nosso alcance para ajudar o país e a pergunta que ele tem de responder e se vai querer continuar fazendo parte do euro” , disse o presidente da França, Nicolas Sarkozy. Ele também avisou que, “enquanto durar a incerteza” gerada pela decisão de submeter o pacote a consulta popular, estará suspenso o pagamento da próxima parcela de 8 bilhões de euros do atual empréstimo à Grécia. Trata-se da sexta parcela de uma ajuda de 110 bilhões de euros, que impede o país de decretar moratória.

A chanceler alemã, Angela Merkel, respaldou a mensagem do colega francês e acrescentou que a democracia esteve presente em todas as negociações feitas até agora para fechar um acordo em favor da estabilidade da região. A decisão do governo da Grécia de submeter a ajuda a um referendo emperrou as negociações que seriam conduzidas na reunião dos líderes do G20, grupo das 20 maiores economias do mundo, iniciada hoje em Cannes, no Sul da França. O encontro de cúpula, que já estava dominado pela crise fiscal europeia, ficou travado pela decisão do primeiro-ministro da Grécia de realizar um referendo sobre o pacote de ajuda com contrapartida de um plano de austeridade ao país.

Diante do inesperado impasse, Sarkozy e Merkel convocaram às pressas Papandreou a vir a Cannes e cobraram pessoalmente dele uma resposta para aplacar o clima de incerteza gerado pelo anúncio de um referendo em janeiro. Segundo Sarkozy, o governante grego se comprometeu a tentar realizar a consulta entre 4 e 5 de dezembro. Na chamada minicúpula do G20, os dois principais governantes da Europa ressaltaram que a Grécia deve “respeitar os compromissos assumidos” com os demais 16 países da moeda comum. Essa pressão contou com o reforco do novo presidente do Banco Central Europeu (BCE), Mario Draghi, da diretora-gerente do FMI, Christine Lagarde, e dos presidentes do Conselho Europeu e da Comissão Europeia, Herman Van Rompuy e José Manuel Durão Barroso, respectivamente.

“Bomba grega”

Depois do pânico gerado pelas declarações de Papandreou nas bolsas mundiais, que oscilaram nessa quarta-feira fortemente ao longo do dia, Sarkozy e Merkel se mobilizaram para desarmar a “bomba grega” às véspera da cúpula do G20. Antes de pressionar diretamente Papandreou, os dois líderes se reuniram com diretores de instituições da UE e do FMI para estudar formas de conter os danos da decisão grega, além de exigir resultado rápido. Sarkozy disse que o anúncio da Grécia “pegou toda a Europa de surpresa”.

No parlamento, o primeiro-ministro francês, François Fillon, acrescentou que a região não pode esperar semanas pelo resultado do referendo. “Os gregos precisam dizer logo e sem ambiguidade se escolhem se manter na Zona do Euro ou não”, discursou. Pesquisas de opinião indicam que 60% dos gregos veem o acordo costurado pelos líderes europeus no dia 27 como ruim, mas a permanência no euro continua popular.

Merkel explicitou a mesma impaciência de Fillon, relembrando que já houve outros encontros atabalhoados entre líderes da UE e Papandreou. “Concordamos com um plano para a Grécia semana passada. Queremos colocá-lo em prática, mas para isso precisamos de clareza”, declarou. José Manuel Barroso, presidente da Comissão Europeia, exortou os gregos a se unirem em apoio ao plano de resgate, alertando que a alternativa seria assombrosa demais para se antever. “Sem concordar com o programa da UE e FMI, as condições para os cidadãos gregos se tornariam muito mais dolorosas, sobretudo para os mais vulneráveis”, disse.

O primeiro-ministro grego disse que o referendo daria uma “resposta clara” ao acordo, exortando o G20 a respeitar o desejo popular e não ceder aos apetites do mercado financeiro. Nessa quarta-feira, seu gabinete aprovou a proposta e uma comissão foi designada para preparar a consulta à população. Com a crise do referendo grego, a almejada ajuda dos países emergentes para a Zona do Euro seria o principal ponto de discussão no encontro do G20. Mas as maiores autoridades europeias tiveram de voltar à estaca zero e foram obrigadas a contornar o estresse gerado pelo anúncio grego.

Até amanhã, encerramento da cúpula, será uma corrida contra o tempo para tentar reforçar a confiança perdida antes do início da cúpula. O programa de auxílio negociado na madrugada de 27 de outubro prevê um novo financiamento de 145 bilhões de euros e o corte da dívida da Grécia em 50% –equivalente a cerca de 100 bilhões de euros, com respaldo de 400 bancos, seguradoras e fundos de investimentos. A operação reduziria a dívida do país de 160% para 120% de seu Produto Interno Bruto (PIB) em 2020.

Problemas políticos por trás do impasse
Os acordos multilaterais para salvar a Zona do Euro do colapso estão ameaçados por problemas políticos de governos locais. Por trás do novo embaraço surgido apenas poucos dias depois de um aparente alívio estão as preocupações dos governantes da França e da Grécia para recuperar apoio do eleitorado. Papandreou está interessado em continuar no poder. Segundo um diplomata francês ouvido pelo Estado de Minas, também a polêmica declaração de Sarkozy de que a Grécia “não estava pronta para o euro” está endereçada ao público doméstico, em busca de apoio eleitoral.


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