A indústria mineira vem perdendo dinamismo mês a mês e está prestes a zerar os ganhos conquistados ao longo do primeiro semestre. O agravamento da crise europeia e norte-americana a partir de julho atingiu em cheio a atividade industrial do estado, que no terceiro trimestre registrou queda de 2,2%, segundo dados da Pesquisa Industrial Mensal por regiões do Instituto Brasileiros de Geografia e Estatística (IBGE).
No acumulado do ano até setembro, os resultados ainda estão no azul, com variação positiva de 0,8% frente ao mesmo período de 2010. Expansão que vem sendo reduzida a cada divulgação. Somente nos primeiros três meses do ano, a indicador havia registrado alta de 4,6% ante o primeiro trimestre do ano anterior, e de lá para cá as quedas têm sido sucessivas. “Essa é a quarta taxa negativa consecutiva”, afirma o analista da coordenação de Indústria do IBGE, Rodrigo Lobo, ao analisar os dados de setembro contra agosto, quando a retração foi de 2,7%.
O baixo desempenho – especialmente entre julho e setembro – pode ser atribuído a três setores: automobilístico, refino de petróleo e produção de álcool e papel e celulose. Nos três meses imediatamente anteriores, a expansão do setor de veículos foi de 7,8%, afundando para -4,9% no terceiro trimestre. “Papel e celulose passou de uma alta de 17,5% para -7%, enquanto o setor de petróleo acentuou a queda de -10,3% para -17% no mesmo período”, avalia Rodrigo.
A retração das exportações, motivada pela queda da demanda no mercado externo, contribuiu para o resultado. “A menor quantidade exportada para a Europa foi citada pelo setor de veículos como um dos problemas”, afirma Rodrigo. A concessão de férias coletivas, paralisações em linhas de produção e a manutenção de estoques elevados ajudaram a compor o cenário desfavorável para o mercado de automóveis.
Segundo dados da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) mais de 378 mil unidades estavam estocadas em setembro, o equivalente a 36 dias de comercialização. Em outubro, o volume caiu para 374 mil veículos, mas ainda é o maior patamar desde novembro de 2008, correspondente a 40 dias de vendas.
Dados da Confederação Nacional da Indústria (CNI) confirmam a queda nas horas trabalhadas em setembro por conta das paralisações. Na comparação com agosto, a retração foi de 1,3%, enquanto o emprego recuou 0,3%. A utilização da capacidade instalada também foi comprometida, fechando em 81,6%. “O acúmulo indesejado de estoques e a maior concorrência com os importados no mercado interno são frutos de um agravamento da crise”, avaliou o gerente-executivo de Política Econômica da CNI, Flávio Castelo Branco.
Das 14 regiões pesquisadas pelo IBGE, sete delas registraram taxas negativas na produção industrial em setembro. Se os últimos meses não foram favoráveis ao setor industrial, o futuro também permanece nebuloso. “Os temores no mercado internacional podem afetar decisões de investimentos e produção no país”, analisa o economista da consultoria Tendências, Rafael Bacciotti que já revisou o crescimento da produção industrial deste ano de 2% para 1%.
Exemplo
Já sentindo os reflexos do cenário internacional, o maior grupo siderúrgico do mundo, o ArcellorMittal Brasil, já admitiu que vai parar as obras de expansão em João Monlevade, na Região Central no estado. Em comunicado, a empresa informou que “no contexto da desaceleração da economia global e da fragilidade dos mercados da Europa e dos Estados Unidos, a ArcelorMittal Brasil vai parar temporariamente as obras do projeto de expansão da ArcelorMittal Monlevade.” A empresa garantiu que a medida é temporária. Trata-se de uma reação às condições atuais do mercado e será “reavaliada oportunamente”.
A gigante do setor viu a venda de aço cair no segundo trimestre e o lucro líquido despencar 57% para US$ 659 milhões. E não é só no Brasil que ocorreram mudanças de planos. A siderúrgica já anunciou fechamento de altos-fornos em Liège, na Bélgica, e paralisou unidades de laminação na Alemanha e Espanha. Também foi congelado o projeto de instalação da terceira linha de aço galvanizado da unidade Vega, em São Francisco do Sul (SC).