A chanceler Angela Merkel respondeu às críticas cada vez maiores de seu próprio partido União Democrata Cristã (CDU) aos planos de ajuda à zona do euro com um veemente apelo para que a Alemanha assuma o encargo de salvar o mais ambicioso projeto da Europa e enfrente os desafios destes tempos de incerteza.
Durante uma convenção do partido na cidade de Leipzig, no leste da Alemanha, onde em 2003 Merkel prometeu devolver à Alemanha seu papel de líder indiscutível da Europa em uma década, a chanceler refutou as acusações de que abandonou as posições conservadoras de longa data do partido em questões importantes - de política social a energia nuclear e, agora, do novo salário mínimo a pacotes para a zona do euro.
"Vivemos um tempo de mudança épica", disse Merkel. "Nosso compasso político não mudou. Mas o contexto está mudando constantemente". Alguns membros do partido pediram para que Merkel torne possível tirar membros da zona do euro do clube de 17 países que usam a moeda única. A União Democrata Cristã (CDU) acabou aprovando uma resolução exortando o governo a estabelecer normas na Europa que permitam que um país deixe voluntariamente a zona do euro sem sair da União Europeia.
A resolução afirma que, "se um membro (da zona do euro) for incapaz ou não quiser obedecer permanentemente às normas relacionadas à moeda comum, ele poderá voluntariamente - segundo as normas do Tratado de Lisboa para deixar a União Europeia - deixar a zona do euro sem sair da União Europeia. Ele deverá receber o mesmo status dos países-membros que não têm o euro".
Merkel, por sua vez, disse ao partido que políticas de 30 anos atrás não podem dar a resposta adequada aos "mais difíceis momento da Europa desde a Segunda Guerra". Ela insistiu que o partido precisa se adaptar aos novos tempos. Em discurso de uma hora na convenção de dois dias que foi convocada sob o lema "Pela Europa, pela Alemanha", Merkel abordou os temas que têm sido reiterados em suas mensagens diárias em Berlim sobre a crise da dívida da zona do euro: que os problemas levarão anos para serem superados e que a crise oferece a oportunidade de se recriar o projeto europeu.
"Precisamos enviar um sinal claro", disse Merkel aos delegados. "Nós não lamentamos, não nos queixamos. Em vez disso, nós sabemos que temos um trabalho a fazer", acrescentou. Recentemente, Merkel começou a apresentar a crise da zona do euro como a oportunidade de sua geração para dar um enorme passo adiante no projeto europeu. Em Leipzig, ela tocou novamente no tema, afirmando que a Europa precisa ter a coragem de mudar o tratado que criou a união monetária europeia e permitir sanções automáticas e duras às violações do tratado. Em meio à crise, a Europa está se aproximando e os europeus estão descobrindo que as decisões tomadas em um país podem ter um enorme impacto no restante da Europa, ela disse.
O ministro das Finanças, Wolfgang Schaeuble, reforçou o apelo de Merkel. "Nós precisamos agora construir a união política na Europa que nunca conseguirmos construir nos anos 1990", disse. Alguns delegados discordaram da intenção de Merkel de assumir os encargos de outros países europeus. Klaus-Peter Willsch, membro do Parlamento, acusou o governo de Merkel de quebrar a promessa de não salvar transgressores do euro.