Com um desemprego recorde, um crescimento mínimo, famílias e empresas endividadas, as feridas da economia espanhola herdadas da bolha imobiliária no final de 2008 devem levar muito tempo ainda para serem cicatrizadas.
Durante anos, esta bolha impulsionou o crescimento espanhol, que, em 2004 - quando chegou ao poder o socialista José Luis Rodríguez Zapatero - era de 3,3%. Sete anos depois, o desemprego duplicou e chegou a 21,52%, o crescimento até o final de 2011 não deve superar 0,8%, segundo analistas, longe da meta do governo de 1,3%.
No plano econômico, "provavelmente a Espanha é um dos países que mais mudou em muito pouco tempo", disse Carlos Sebastián, professor da Universidade Complutense de Madri. De acordo com ele "de 2007 a 2009, o superávit de 2% do PIB passou para um déficit de 11%".
Se antes "havia uma visão da Espanha positiva e otimista, hoje é bastante pessimista em relação ao crescimento espanhol ruim", explica, "porque basicamente se baseou na criação de maus empregos" para trabalhadores pouco qualificados.
Impulsionado por um frenesi de construção, o país criou, desde 2000, 700.000 moradias a cada ano, mais do que França, Alemanha e Inglaterra juntas... até a bolha estourar em 2008 junto com o início da crise financeira.
O efeito foi múltiplo: no curto prazo, quebras em série de promotores imobiliários e desemprego para os operários da construção civil. No longo prazo, o país perdeu uma preciosa fonte de renda. No final de junho, as 17 regiões acumulavam 133,200 bilhões de euros de dívida e as cidades 37.600 milhões, recordes históricos.
O setor bancário tem agora 176 bilhões de euros em créditos problemáticos e imóveis resgatados por falta de pagamento. Os financiadores enfrentam grandes dívidas: em 2010, segundo o FMI, as famílias espanholas acumularam uma dívida bruta equivalente a 90% do PIB e as empresas, 205%.
"O problema da Espanha não é a dívida pública, que é sustentável a curto e médio prazo (65,2% do PIB), seu problema é a dívida privada" das imobiliárias, construtores e famílias, explica Fernando Hernández, analista do banco Inversis.
Sem poder apostar mais na construção, o país não sabe como crescer e muitos economistas prevêem que no início de 2012 a Espanha entrará em recessão. Este ano, o país não conseguirá reduzir seu déficit para 6% do PIB como previsto. O Partido Popular (PP), provável vencedor das eleições de domingo, já alertou que aplicará um grande plano de austeridade e proibirá o déficit de todas as regiões.