O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, afirmou nessa quarta-feira que a instituição estava certa ao começar a reduzir os juros em agosto quando recebeu uma enxurrada de crítica porque a crise era mais profunda do que o visto pelos analistas. E falou que ainda há espaço para quedas de 0,5 ponto percentual e, mesmo assim, alcançar a meta de 4,5% para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) no ano que vem.
A fala do presidente do BC ocorre no momento em que crescem as apostas no mercado financeiro de cortes maiores nos juros na última reunião do Copom neste ano, que acontecerá no final do mês. A avaliação é que diante do risco de desaceleração mais forte da economia em função do agravamento da crise nos países da Zona do Euro reduções nos juros são o principal instrumento do governo para tentar reverter o quadro e, portanto, o BC poderia ousar mais.
No discurso, Tombini rebateu ainda os ataques feitos à sua atuação no comando da instituição. Ao surpreender o mercado e iniciar o processo de redução dos juros em agosto, a equipe de diretores do BC que integram o Copom foi acusada de estar correndo riscos excessivos e de aceitar mais inflação para não prejudicar o crescimento, o que foge à principal missão do regime de metas de inflação, que é controlar o ritmo de subida dos preços na economia.
Primeiro, Tombini destacou que manter a inflação em patamar baixo é uma demanda da sociedade e principal missão do BC. Para isso, disse que conta com gente capacitada, “recursos tecnológicos de vanguarda” e um conjunto de informações econômicas que lhes permite fazer “uma análise profunda, tempestiva, completa e precisa da economia e ter projeções qualificadas das tendências do conjunto de variáveis relevantes”.
Segundo Tombini, isso faz com que o BC possa reagir “prontamente a cada mudança significativa no cenário econômico”, mas nem sempre a atuação é compreendida e aceita imediatamente. “Portanto, dado o caráter pró-ativo das ações do Banco Central, às vezes é preciso tempo para que os cenários fiquem mais claros e corroborem as decisões tempestivas adotadas pela autoridade monetária.” Tombini destacou que isso aconteceu no início do ano, quando o BC subiu os juros para equilibrar o crescimento da demanda por bens e serviços com a produção da indústria e, também, quando disse que a inflação teria o pico no terceiro trimestre do ano e, só então, começaria a cair fortemente até o segundo trimestre de 2012. “Cenário que começa a se materializar com a divulgação do IPCA relativo ao mês de outubro”, destacou.
Na avaliação do presidente do BC, a situação está se repetindo agora, quando, “devido à rápida e substancial deterioração do cenário internacional, mas sem a observância de eventos extremos, o Banco Central iniciou ciclo de flexibilização monetária para contrabalançar os efeitos contracionistas adicionais da crise externa, por si mesmos desinflacionários”. Por fim, comemorou: “À medida que novas informações são divulgadas, observa-se a confirmação do cenário antecipado por esta Casa”.
Empréstimos E um novo sinal de que a economia brasileira enfrenta um processo de desaceleração veio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). O presidente do banco, Luciano Coutinho admitiu nessa quarta-feira que o volume de empréstimos para investimentos foi reduzido com o agravamento da crise econômica internacional. Sem falar em percentuais, Coutinho disse que a demanda por empréstimos caiu de maneira modesta. “Uma parte da queda foi programada. Nós fizemos deliberadamente um incentivo para que as empresas buscassem mais o setor bancário privado e o mercado. Mas uma outra parte, ainda que modesta, tem a ver com um pouco de cautela nos últimos meses em função do agravamento da crise na Europa”, afirmou.
Coutinho admitiu que a crise, talvez, tenha contribuído para um desaquecimento além do que se imaginava no terceiro trimestre e possivelmente neste quarto trimestre. “Se o desaquecimento for maior, no entanto, o nosso entendimento é que o ministro da Fazendo e o presidente do Banco Central tomarão as medidas de reestímulo da economia brasileira”, afirmou.
Expectativa piora
A crise bateu à porta e entrou. Segundo pesquisa da Fundação Getulio Vargas (FGV) em parceria com o instituto alemão Ifo, o Índice de Clima Econômico (ICE) recuou de 5,6 para 4,4 pontos na América Latina, entre julho e outubro deste ano, fruto das incertezas do cenário econômico mundial. Com relação ao Brasil não foi diferente. O país obteve a pior avaliação desde 2009. O ICE do Brasil foi de 4,8 pontos no mês passado, o menor desde janeiro de 2009, quando a medição resultou em 3,9 pontos. O ICE é o indicador-síntese da Sondagem Econômica da América Latina, pesquisa trimestral calculada numa escala que vai até 9 pontos.
De acordo com o estudo, a piora no clima econômico na América Latina acontece após a região permanecer na fase de "boom" entre junho de 2010 e julho de 2011.Apesar da queda, o nível superior a 5 pontos indica uma avaliação ainda favorável a respeito do momento presente. Já o Índice de Expectativas (IE) sinaliza pessimismo em relação aos próximos meses, disse a FGV.
Com exceção do Peru, que apresentou aumento de 6,1 para 6,2 pontos, Bolívia, Chile, México e Venezuela registraram índice de clima "desfavorável", abaixo de 5 pontos. As expectativas em todos os países, segundo a Fundação, se deterioraram. Segundo o estudo, o Brasil perdeu uma posição no ranking que compara o desempenho da média dos últimos quatro trimestres, passando da sétima para a oitava posição.