Um dia depois de o Banco Central (BC) divulgar que atividade econômica no Brasil registrou queda de 0,32% no terceiro trimestre pelo IBC-BR – índice considerado a prévia do desempenho do Produto Interno Bruto (PIB) –, o governo se rendeu e reduziu oficialmente a previsão de crescimento este ano de 4,5% para 3,8%. A justificativa é a deterioração do cenário externo e a enxurrada de importações, segundo o relatório de receitas e despesas do 5º bimestre, divulgado ontem pelo Ministério do Planejamento. Analistas não apostam em duas retrações consecutivas do desempenho econômico neste ano, o que poderia configurar recessão técnica. Mas é unanimidade que o arrefecimento é uma tendência.
Para Rafael Bacciotti, analista da consultoria Tendências, o PIB do terceiro trimestre fechará em 0,3%; e o seguinte, em 0,4%. “Acreditamos em aceleração puxada pelo consumo das famílias, que tem cenário positivo de ocupação e renda, além de investimentos. A atividade industrial está estável e a performance de serviços é razoável”, explicou. A estimativa é de que o PIB feche 2011 com expansão de 3,3%, diante da projeção inicial (março) de 3,9%. A revisão, disse Bacciotti, deve-se à indústria de transformação, afetada pelo aumento das importações.
Miguel Daoud, sócio-diretor da Global Financial Advisor, destaca que “a desaceleração da economia é uma tendência, mas a queda não deve ser grande, uma vez que o governo revisou estratégias de crédito que anteriormente tomou para controle inflacionário”. Ele ponderou que IBC-BR mede a oferta (agropecuária, indústria, serviços e impostos), mas no cálculo do PIB também entra o lado da demanda (gastos do governo e das famílias e investimentos). “Olhando o conjunto, a produção interna foi substituída pelas importações, o que não quer dizer que emprego e renda foram atingidos”, afirmou.
O recuo do terceiro trimestre do IBC-Br foi o primeiro em bases trimestrais registrada pelo indicador desde o primeiro trimestre de 2009, quando a economia sentia fortemente o reflexo da quebra do Lehman Brothers, em setembro de 2008.
Análise da notícia: Saldo positivo, ainda
Marcílio de Moraes
A redução no saldo de empregos formais em outubro é um sinal de que a crise já chegou ao Brasil. Mas, mesmo com a queda, o fato de o país ainda criar mais postos de trabalho do que cortar vagas mostra que o Brasil pode ser menos afetado do que outras economias. Para isso, no entanto, é preciso ações do governo para defender a indústria nacional, que há vários meses alerta para o fato de o país caminhar para a desindustrialização e encara esse processo sozinha. Gerar menos empregos é muito mais positivo do que conviver com desemprego em alta, como nos países da Europa. Mas, com a indústria brasileira isolada e enfraquecida, rapidamente o país pode começar a fechar postos de trabalho.