Primeiro o Produto Interno Bruto (PIB), depois a atividade industrial, a inflação e agora o mercado de trabalho com carteira assinada. Se só o emprego passava ileso às consequências do agravamento da crise econômica européia, ele está, juntamente com os demais indicadores, na mira do desaquecimento da demanda internacional que já reduziu em mais de 1,3 ponto percentual o crescimento da economia brasileira no ano e começa a impedir a geração de oportunidades de emprego no país.
Com o resultado, a previsão do ministro do Trabalho Carlos Lupi de que o ano fechará com saldo de 2,7 milhões de carteiras assinadas foi descartada diante do volume atual de 2,2 milhões. Agora, ele reconhece – depois de várias alegações otimistas de que o mercado de trabalho nacional seria preservado – que mal mal chegará à casa dos 2,4 milhões. “Pelo caminhar da carruagem, será difícil atingir 2,4 milhões. Pode ficar abaixo disso”, afirmou. Esta é a segunda revisão, já que o volume inicial de 3 milhões já havia sido refutado.
“Sentimos a crise internacional, principalmente na área da indústria”, reconheceu o ministro. Desde o segundo trimestre do ano, o setor já dá sinais de estagnação e é exatamente o que puxa as revisões. Há um ano, a indústria nacional havia aberto 46,9 mil vagas formais em outubro, número que caiu 89% para o saldo atual de apenas 5,2 mil oportunidades. A indústria metalúrgica é que a mais se destaca, com um volume de contratações que passou de 6.361 para 1.751, retração de 72%.
Menos postos com arteira em Minas
Minas Gerais segue a mesma tendência e também diminuiu o ritmo de admissões. Enquanto em outubro de 2010 o estado havia apresentado saldo de 14,5 mil novas carteiras assinadas, neste ano o número caiu quase pela metade, ficando em 7,4 mil. Também pela metade caiu a geração de vagas na indústria de transformação no estado, que foi de 5.053 em outubro de 2010 para 2.506 no último mês.
Nem mesmo o período sazonal de contratação para o Natal foi suficiente para elevar os números. “A indústria ficou receosa em contratar e aumentar a produção porque não sabe o que vai acontecer daqui para frente, já que as vendas também caíram”, pondera a analista econômica da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) Érika Cristina Mendes Amaral.
A cautela ronda o setor e não é diferente no mercado do vestuário. “Todo mundo está mais retraído e na expectativa do que vai acontecer. Ninguém tem otimismo suficiente para sair investindo agora”, observa o presidente do Sindicato das Indústrias do Vestuário de Minas Gerais (Sindivest-MG), Michel Aburachid.
No Sindicato dos Trabalhadores da Indústria de Calçados e Bolsas de BH e Região as contratações que acontecem todos os anos para suprir a demanda de Natal não vieram. “Fomos beneficiados com a desoneração da folha de pagamento, mas ainda não sentimos reflexos dessa medida”, diz o presidente Rogério Aquino. Segundo o representante dos trabalhadores, os postos foram mantidos e as contratações ficaram estagnadas. “Revimos as escalas e aumentou-se as horas extras, mas não houve admissões”, afirma.
Setores No Brasil, o comércio criou 60.878 postos em outubro, elevação puxada pelo segmento varejista (50.389) e atacadista (10.489). A construção civil, por sua vez, gerou 10.298 postos, extrativa mineral, 1.224 vagas e agricultura, por motivos sazonais, registrou uma perda de 29.913 postos de trabalho, equivalente a uma variação negativa de 1,77%.