Criado por imigrantes italianos e operários que trabalharam na construção de Belo Horizonte, o Bairro Lagoinha conquistou fama, nas décadas de 1950 a 1970, pela ocupação de casas que integravam a chamada rota do baixo meretrício da capital. O tempo passou, a cidade cresceu, a maior parte dos boêmios foi embora de lá e o bairro, agora, tem outro destaque. O Censo 2010, divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), constatou que a Lagoinha é o bairro que, proporcionalmente, tem o maior percentual de domicílios alugados na cidade: 40,7%. A área tem 1.431 domicílios e 582 alugados. A segunda posição é ocupada pelo Centro (39,9%).
A liderança no ranking de domicílios alugados traz reflexos positivos e negativos à região. O lado bom é o desenvolvimento da área, com a duplicação da Avenida Antônio Carlos atraindo grandes investimentos. É o caso do Plaza Antônio Carlos, a ser inaugurado até o fim de dezembro. O centro comercial contará com 12 lojas, de 90 a 940 metros quadrados, e capacidade para 107 veículos. “O local foi escolhido em razão da revitalização da região”, confirmou Paulo Henrique Godoy, da PHGT Negócios, empresa que administra as lojas.
Mas todo desenvolvimento também tem o lado negativo. No caso da Lagoinha, a especulação imobiliária. “O preço dos aluguéis disparou cerca de 30% nos últimos dois anos. O tempo médio para alugar um imóvel, quando disponibilizado, é de 10 dias. É muito rápido”, diz José Horta, dono da Imobiliária Anil. Um dos motivos é a explosão da população de estudantes no local, atraída pelo Centro Universitário de Belo Horizonte (UNI-BH). A instituição conta com 3,3 mil alunos, divididos em 21 cursos, e implantará outros três em 2012.
“Troquei o Bairro Nova Suíça (Oeste) pela Lagoinha por ter sido aprovada no curso de secretariado do UNI. Me formei, mas gostei tanto daqui que resolvi ficar”, conta Graciene Lages, de 39 anos. Ela mora com os pais, a artesã Terezinha Lages de Oliveira, de 61, e o aposentado Amador Servus de Oliveira, de 62, no Conjunto Nossa Senhora da Piedade, considerado pelos moradores das 84 casas geminadas como um pequeno bairro dentro da Lagoinha. “Não escutamos o barulho dos automóveis. É muito tranquilo. Não tem trânsito e tampouco violência. Para ter ideia, nossa casa fica aberta”, relata dona Terezinha.
Localização
A família paga R$ 600 de aluguel ao proprietário, dono de outras 12 casas no conjunto. “Outra vantagem é a proximidade com o Centro. Vou a pé ao Mercado Central”, continua a artesã. Não só ela. O decorador Gilmar Terri, de 53, também. Ele ocupa, há 12 anos, um apartamento de três quartos na Rua Diamantina. O antigo prédio é o retrato do bairro: os moradores dos seis apartamentos pagam aluguel. “Deixo o carro aqui para ir ao Centro. O bairro se valorizou, mas o desenvolvimento trouxe problemas. Açougues, padarias e drogarias foram fechados para dar lugar a bares. É a supervalorização imobiliária.”
O termo é bem conhecido pelo alfaiate Edjalma Ferreira Santos, de 47. Ele sente essa supervalorização duas vezes no bolso, pois tanto o imóvel onde funciona seu estabelecimento, na Rua Além Paraíba, quanto o apartamento no qual mora com a mulher e as duas filhas, próximo dali, são alugados. “O dono dos dois imóveis é a mesma pessoa. No fim do ano passado, o aluguel (da alfaiataria) subiu 20%. O do apartamento, que será reajustado em janeiro, deve seguir o mesmo caminho.”
O percentual é bem superior ao Índice Geral de Preços do Mercado (IGP-M, medido pela Fundação Getulio Vargas e normalmente usado para a correção anual dos aluguéis) dos últimos 12 meses encerrados em outubro, que ficou em 6,95%. O possível índice de reajuste a ser pago pelo alfaiate também bate o aumento médio dos aluguéis novos em BH, de 10,39%, no mesmo período, segundo pesquisa da Câmara do Mercado Imobiliário e Sindicato das Empresas do Mercado Imobiliário de Minas Gerais (CMI/Secovi-MG). Já a inflação da capital no período foi de 7,16%.
“A área começa a despertar o interesse da construção civil”, alerta Ariano Cavalcanti de Paula, presidente da CMI/Secovi-MG. Segundo ele, regiões que tiveram fama de áreas degradadas, como a Lagoinha e parte do Hipercentro, vêm passando por mudanças em razão do resgate urbanístico. Na Rua Itapecerica, por exemplo, operários começam a preparar um terreno para erguer um prédio de nove andares.