O Natal está chegando. O aviso aflito e em público da ministra do Planejamento, Miriam Belchior, na terça-feira, teve como alvo o ministro-chefe da Secretaria de Aviação Civil (SAC), Wagner Bittencourt, durante a apresentação do balanço do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). A cobrança da ministra é apenas um aperitivo amargo do que os passageiros deverão enfrentar neste fim de ano nos aeroportos, que não estão preparados para encarar o movimento recorde esperado no período — acima de 16 milhões de passageiros. Entre 23 dezembro e 2 de janeiro, deverão passar pelos balcões e pontes de embarques das companhias pelo menos 10% mais de clientes do que os 14,7 milhões no ano passado, conforme estimativa da Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero).
Para evitar o temido caos e as cenas dramáticas de anos anteriores, com filas intermináveis, atrasos e clientes desesperados por causa da perda de conexões, o governo e as companhias aéreas pretendem anunciar nesta semana planos especiais para desafogar o atendimento. Na repreensão pública , a ministra do Planejamento cobrou do colega na SAC rapidez nas obras do terminal remoto do aeroporto de Guarulhos (SP), o maior e o mais sobrecarregado do país. Bittencourt disse que a conclusão da obra de R$ 86 milhões estava prevista para fevereiro. Mas Belchior retrucou dizendo que o ideal é que comece a funcionar antes, para enfrentar o grande movimento esperado do fim de ano.
Enquanto os membros do governo tentam tocar a mesma toada, é gritante o descompasso entre a demanda e a disponibilidade dos serviços, de equipamentos e de espaço físico nos aeroportos, da pista das aeronaves ao estacionamento, onde motoristas de carros e vans disputam vagas em locais irregulares.
Medidas
A Infraero e a SAC descartam o colapso aéreo, apostando em medidas preventivas como aumento do número de funcionários e mais coordenação entre órgãos e empresas do setor. O ministro-chefe da SAC assegura que o governo já tem esquema para garantir pontualidade e qualidade no atendimento aos passageiros no período de festas. "Estamos desde julho elaborando junto às companhias aéreas um planejamento para a ação de fim de ano que vai fazer com que tenhamos uma operação sem problemas", assegurou.
Mas, como a própria ministra Belchior, os especialistas e passageiros não comungam da mesma convicção da Infraero e da SAC. "Embora seja difícil ocorrer transtornos enormes, como os de dezembro de 2007, o contingenciamento das companhias e da SAC não resiste ao mau tempo, por exemplo", alerta André Castellini, especialista em aviação da consultoria Bain & Company. Naquele ano, o atendimento e os voos entraram em colapso. Os principais aeroportos, afirma ele, já operam muito acima de sua capacidade instalada, realidade que saltará aos olhos nas vésperas de Natal e do réveillon, quando todos voos terão 100% de ocupação.