Já é consenso no mercado: o Comitê de Política Monetária (Copom) deverá reduzir em mais 0, 5 ponto percentual (p.p.) a taxa básica de juros (Selic) na última reunião da equipe colegiada do ano, que começa hoje e termina amanhã. O aprofundamento da crise internacional e o receio de um esfriamento mais intenso da atividade econômica brasileira continua sendo a principal justificativa para que a equipe liderada pelo presidente do Banco Central (BC), Alexandre Tombini, dê sequência aos cortes iniciados em agosto.
O Relatório Focus, divulgado ontem pelo BC, reforçou a previsão de que a Selic fechará este ano em 11%. Para a indústria, a comemoração é certa, mas para o consumidor, os efeitos singelos nas taxas de juros de financiamentos e empréstimos pessoais impedem que a medida tenha grandes impactos a curto prazo.
Desde agosto, a Selic já caiu 1 p.p., passando de 12,5% para os atuais 11,5%, mas os repasses na ponta não chegaram na mesma intensidade. Para se ter uma ideia, em agosto a taxa média de juros para empréstimo pessoais nos bancos era de 4,58% ao mês (71,15% ao ano), contra 4,31% ao mês em outubro (65,92% ao ano). O que significa que, enquanto a Selic teve queda de 8% entre agosto e outubro, o custo do crédito pessoal diminuiu 5,9% no mesmo período.
“Diferentemente do que ocorria há um ano, o repasse para o consumidor tem sido mais rápido. Em cerca de 15 dias, é possível perceber mudanças. O problema é que o efeito é pequeno”, pondera o vice-presidente da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), Miguel Ribeiro de Oliveira.
Para Nicola Tingas, economista-chefe da Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento (Acrefi), o incentivo ao consumo proporcionado pelas reduções é baixo e amortizado pela taxa de inadimplência. “A queda de juros atualmente não tem funcionado como grande estímulo para novos endividamentos porque a renda do consumidor está comprometida”, pondera.
Segundo Tingas, o próprio risco de concessão de crédito barra as possibilidades de uma queda mais expressiva do custo ao tomador. “Um dos grandes componentes das taxas é a inadimplência que, a princípio, tem segurado uma retração mais efetiva”, avalia. Para o professor do Insper, Ricardo Humberto Rocha, o que vai motivar o consumo agora é a suspensão das medidas macroprudenciais adotadas pelo governo no início do ano. “Automóvel está entre os bens mais afetados”, prevê.
FREIO NO PIB Ainda no relatório Focus, a inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) sofreu um ligeiro reajuste positivo ao passar de 6,48% para 6,49% no ano, mas ainda se mantêm dentro do teto da meta de 6,5%. A perspsectiva para fechamento do Produto Interno Bruto (PIB), porém sofreu novo corte, de 3,16% para 3,10%.