Pelo décimo mês consecutivo, o valor do índice que mede a inflação do aluguel acumulado nos últimos 12 meses caiu em relação ao mês anterior. O arrefecimento do mercado imobiliário nesse ano reflete diretamente na menor variação do IGP-M. Em novembro, o índice desacelerou levemente, passando de 0,53% em outubro para 0,50%, segundo dados divulgados pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). Nos últimos 12 meses, o acumulado é de 5,95%, ante 6,95% no mês passado. No entanto, em Belo Horizonte não são raros os casos de imóveis que sofreram variações muito acima dos níveis estipulados. É o caso dos comerciantes da Savassi, que, mesmo enfrentando período de obras para revitalização da Praça Diogo de Vasconcelos, sofreram com aumentos de até 65%.
Em janeiro, o IGP-M atingiu a maior alta do índice desde novembro de 2008, quando alcançou 11,88% no acumulado dos 12 meses anteriores. Mas, de lá para cá, as taxas recuaram mês a mês e atingiram o menor valor em novembro. Se comparado ao último ano, o valor acumulado recuou quase 50%, caindo 4,32 pontos percentuais.
Em janeiro, se o valor médio do aluguel de um apartamento residencial de luxo de três quartos e dois banheiros era de R$ 2.009,05, em outubro passou para R$ 2.195,62, numa variação de 9,3% no período. Caso o índice da inflação dos aluguéis fosse usado, o valor médio teria subido para R$ 2.148,67. Imóveis com padrões inferiores tiveram variações mais próximas do IGP-M: 6,87% e 6,57% para modelos de padrão popular e médio, respectivamente, segundo a CMI.
Comércio
Apesar de a tendência ser de queda dos índices que regem os valores do aluguel, em algumas situações o aumento ultrapassa, e muito, as taxas médias. Ocupando uma loja na região da Savassi, a empresária Gessiara Aricó Pedro tem uma sapataria mesclada com um café. O estabelecimento funciona na Rua Fernandes Tourinho há 15 anos. Mas por pouco ela não teve que rever seu projeto. Há dois meses, os proprietários do imóvel apresentaram proposta de reajuste de 60% do aluguel, o que ‘assustou’ a empresária, que, atenta ao mercado, conseguiu negociar o valor e diminuir pela metade a taxa de variação. “Uma comerciante ia alugar uma loja aqui em frente e desistiu ao saber os valores. Mas, apesar dos altos preços, dá para ver placa de ‘aluga-se’ em cada esquina da Savassi”, afirma Gessiara.
Gerente de uma livraria também na Savassi, Gustavo Batista é a terceira geração da família no mesmo ponto. E também quase foi obrigado a ver o estabelecimento do pai e do avô ganhar novos ares. Com as obras da região, a redução do faturamento foi de 50%, o que “pesou muito no orçamento”, mas, ainda assim, sob justificativa da previsão de melhoria de vendas, o proprietário do imóvel fechou novo contrato com aumento de 65%. “Já tive que cortar funcionários. Argumentam que com a Copa o movimento subirá muito, mas o evento dura apenas um mês. Não dá para arcar com custos tão altos”, afirma.
O presidente da Câmara do Mercado Imobiliário de Minas Gerais (CMI-Secovi-MG), Ariano Cavalcanti de Paula, atesta que é “quase certo” que o reajuste do aluguel encerre o ano (ainda serão divulgados os dados de novembro e dezembro) com apenas um dígito. Atualmente em 10,39%, a tendência é de queda contínua até a economia internacional apresentar sinais de recuperação. “Não acredito em retração dos preços, mas sim em aumentos menores”, afirma. Ele reitera que de 2004 para cá os reajustes de novos aluguéis cresceram a taxas superiores às da inflação.