Os bancos centrais do Canadá, do Reino Unido, do Japão, dos Estados Unidos, Suíça, além do Banco Central Europeu (BCE), anunciaram nessa quarta-feira uma ação coordenada para evitar uma das piores consequências da crise financeira atual caso a situação deteriore: a contração de crédito.
O sistema bancário europeu está carregado de títulos emitidos pelos países do continente, agora sob riscos variados de insolvência financeira. Devido ao estado atual da crise, vários dessas nações podem perder sua solvência, o que ameaça as finanças dos bancos e, por consequência, a circulação de crédito tanto no Velho Continente quanto no restante do planeta.
A ação conjunta, portanto, visa reforçar, em caráter preventivo, a circulação de recursos no sistema financeiro. A partir de 5 de dezembro, os bancos centrais que fazem parte desse "pool" vão rebaixar os custos das operações feitas com os demais bancos centrais.
Dessa forma, caso o sistema financeiro de uma região necessite de recursos adicionais para manter a liquidez, o banco central do continente ou do país terá onde buscar recursos para manter sua função de "emprestador de última instância" para o setor privado.
Pelo comunicado oficial divulgado nessa quarta-feira pelo banco central britânico, essa redução pode valer até fevereiro de 2013. Ainda conforme a nota oficial, o Banco da Inglaterra, o Banco do Japão, o BCE e o Banco Nacional da Suíça devem manter a prática de oferecer linhas de curto prazo (três meses) para as instituições financeiras que necessitarem de recursos emergenciais.
Elogios
A diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde, que desembarca hoje no Brasil, elogiou a ação coordenada de diversos bancos centrais. "O FMI só pode receber uma notícia assim com satisfação", disse ela durante entrevista coletiva concedida no Banco do México. "Quando os banqueiros centrais adotam ações decisivas de maneira coordenada, elas normalmente são extremamente eficazes, bem recebidas pelo mercado e têm impacto imediato", declarou Lagarde.
Em resposta a uma pergunta feita durante a coletiva, Lagarde disse não ser da alçada de um organismo multilateral como o FMI participar de uma ação como a promovida pelos seis bancos centrais. "Não vejo razão para coordenarmos ações com bancos centrais. Não somos um banco central", declarou.
A diretora-gerente do FMI reiterou ainda que a entidade está pronta para ajudar países em dificuldade, mas não apenas dentro da Zona do Euro. Ela repetiu também que o Fundo não está negociando nenhuma espécie de empréstimo à Itália ou à Espanha. A visita de Lagarde ao México faz parte de um giro pela América Latina.
Outro que aprovou a medida dos BCs foi o secretário de Tesouro dos EUA, Thimoty Geithner. Ele afirmou que o governo americano apoia a ação coordenada dos principais bancos centrais do mundo para fornecer empréstimos emergenciais em dólar, baratos, para os bancos europeus. "Nós apoiamos as ações adotadas pelos bancos centrais para ajudar a aliviar a pressão sobre o sistema financeiro europeu e fortalecer a recuperação econômica global", disse em comunicado.
Mercados reagem com otimismo
As bolsas em todo o mundo fecharam o dia em forte alta embaladas pelo otimismo gerado pelas medidas dos seis maiores bancos centrais do mundo para aumentar a liquidez nos mercados e a redução dos depósitos compulsório de instituições financeiras na China, que injetará mais crédito na economia (veja ao lado). Na bolsa brasileira, o Ibovespa, que mede a variação das ações mais negociadas, atingiu alta de 4,14% no início da tarde, mas devolveu parte do ganho no final e fechou com alta de 2,85% aos 56.874 pontos.
É a maior valorização diária desde 27 de outubro. Mas não suficiente para reverter o desempenho negativo em novembro. O índice encerrou o mês com desvalorização de 2,51%. O dólar comercial operou o dia todo em queda e fechou em R$ 1,8128, 2% menos. É o quarto dia consecutivo de recuo da moeda norte-americana. Mesmo assim, terminou novembro com alta de 6,44%.
Na Europa, as bolsas recuperam as perdas dos últimos dias e, nos EUA, os pregões também se animaram com a divulgação da criação de 206 mil vagas de trabalho no setor privado, bem acima das projeções do mercado, que sinalizavam a criação de 130 mil postos.
Blindagem nos brasileiros
Para tentar blindar os bancos brasileiros contra os efeitos da crise internacional, o governo anunciou nessa quarta-feira medidas que protegem as instituições financeiras mais vulneráveis, as de médio e pequeno porte. Além disso, ampliou a atuação dos bancos brasileiros no exterior, o que deve aumentar especialmente o poder de fogo de casas como o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) em um momento em que a oferta de crédito volta a rarear no mundo.
Uma das decisões do Conselho Monetário Nacional (CMN) favorece os bancos de menor porte nas operações de venda de carteiras de crédito para instituições maiores. A medida muda regras nos casos em que esses empréstimos vendidos tenham inadimplência. Quando isso acontece, quem realizou o financiamento é o responsável por cobrir os custos do calote. Hoje, essa despesa é contabilizada de forma integral e imediata no balanço do banco pequeno. Com a nova regra, a partir de 2012, essa instituição poderá diluir esses custos durante todo o prazo da operação ou até 2015
Calote
"A medida dá fôlego aos pequenos e médios bancos", disse o chefe do departamento de normas do Banco Central (BC), Sérgio Odilon dos Anjos, ao comentar que o efeito de eventual piora dos calotes será gradual e não prejudicará o balanço dessas instituições. Analistas têm alertado para o fato de que, caso a crise piore, a inadimplência tende a subir.