Com o advento do pré-sal, a produção de petróleo do Brasil deve mais que dobrar até 2020, segundo as perspectivas da Petrobras. Três fatores, no entanto, são considerados “entraves à expansão”: acesso à tecnologia; qualificação de mão de obra e fontes de crédito. A falta de profissionais é vista como risco principalmente para que a produção de petróleo em camadas profundas cresça no ritmo previsto. “As primeiras descobertas de pré-sal foram feitas em novembro de 2007. Passados quatro anos, a produção diária é de 180 mil barris. Enquanto isso, outros países que descobriram o produto em 2001 até hoje não começaram a explorar”, afirma o diretor Financeiro e de Relações com Investidores da Petrobras, Almir Guilherme Barbassa. De acordo com os planos da estatal, até 2020, o pré-sal deve corresponder a 40,3% do petróleo nacional ante meros 2% em 2011.
As estimativas iniciais mostram que o pré-sal deve movimentar mais de R$ 750 bilhões, segundo a Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base. Da fabricação de helicópteros com autonomia para voar 600 quilômetros sem interrupção até parafusos e porcas, para que a exploração se efetive a Petrobras deve incentivar a participação de empresas da cadeia de suprimentos. Um exemplo é a necessidade de construir 50 sondas de perfuração, o que significa que o total de peças disponíveis se multiplicará por quatro. Hoje são apenas 15.
Dinheiro com custo mais baixo
Para desatar os outros dois nós do gargalo da expansão, relacionada ao crédito, a estatal detalhou nessa segunda-feira na capital o programa Progredir, que prevê redução do custo de captação de financiamento em até 50% para empresas fornecedoras da Petrobras. A oferta de crédito não envolve recursos da estatal ,e sim de seis dos maiores bancos de varejo do país (Banco do Brasil, Bradesco, Caixa Econômica Federal, Itaú, HSBC e Santander), sendo que a petrolífera funciona apenas como um elemento-âncora. Como o financiamento é atrelado ao valor do serviço que será prestado pela empresa, o risco de atraso ou calote no pagamento é menor e, por consequência, a taxa de juros também é menor.
O Superintendente do Banco do Brasil, Cláudio de Oliveira, avalia que a Petrobras faz parte do trabalho que caberia aos bancos ao reunir os principais fornecedores num mesmo site e respaldar a contratação de financiamentos. “É como se fosse a criação de um selo de qualidade”, avalia Oliveira. A superintendente regional da Caixa Eugênia Regina de Melo explica que o risco de contratar um cliente mau pagador é menor, o que faz com que a taxa de juros também seja menor. Sobre a taxa de juros para cada empresa, ela afirma que cada proposta é analisada individualmente, de acordo com o cliente, e reitera que “limite de crédito não falta”.
Contratos
Lançado em junho, o programa Progredir já resultou na assinatura de 197 financiamentos de empréstimo, totalizando R$ 831 milhões. Em Minas, foram fechados 18 contratos, que somam R$ 270 milhões, o equivalente a quase um terço do total do país. Voltada para engenharia de inspeção, a empresa ISQ Brasil é uma das mineiras beneficiadas pelo programa. O contrato de financiamento estava quase fechado, mas os diretores conseguiram taxas de 1,43% ao mês, o que significa redução aproximada de 40%. Parte será investida em novas tecnologias (60%) e o restante em capital de giro (40%). “O que planejava investir a mais longo prazo eu consigo antecipar para o fim do ano”, afirma o coordenador administrativo financeiro da ISQ Brasil, Paulo Vieira, ressaltando que as projeções de menor custo financeiro devem garantir que as próximas propostas contratuais sejam menores.
Importação de gasolina cresce
A Petrobras vai fechar o ano com importação média de 45 mil barris de óleo por dia, contra os 9.000 barris diários importados em 2010, um aumento de cerca 400%, informou nessa segunda-feira o diretor de Abastecimento da estatal, Paulo Roberto Costa. O volume representa um aumento em relação à previsão de 32 mi barris por dia feita pela estatal em setembro. Segundo ele, o incremento é reflexo direto do aumento do consumo de gasolina no país, que deve fechar o ano em alta de 19% sobre 2010 – ano que já havia registrado crescimento da ordem de 18%
Parte da elevação no consumo, segundo ele, também se explica pelo preço do etanol, que está em patamares elevados e com isso se torna um produto não atrativo ao consumidor. Para acompanhar o incremento na demanda, a Petrobras também otimizou a operação de refinarias e está produzindo mais 40 mil barris por dia do que no ano passado. “É interessante ver isso, porque no Japão e na Europa o consumo está caindo”, disse Costa. Ele informou que, para atender a demanda interna, teve de deixar de exportar gasolina, o que deve impactar a balança comercial da empresa este ano. “Claro, porque só estou importando, não estou exportando”, disse.
De acordo com Costa, a venda de combustíveis da empresa, de maneira geral, deve crescer 7% este ano, contra alta de 10% no ano passado, já que o Produto Interno Bruto (PIB) do país em 2011 deverá se situar entre 3,5% e 4%, contra mais de 7% em 2010.
Balanço
A produção de petróleo no Brasil atingiu 2,105 milhões de barris por dia em outubro, segundo dados divulgados pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). Essa é a terceira vez este ano que a produção nacional ultrapassa a marca de 2,1 milhões de barris. Segundo o órgão, houve um aumento de 5,4% na produção se comparada ao mesmo período do ano passado e de 0,3% frente a setembro. O Boletim da Produção da ANP informa ainda que a produção de gás natural somou 66 milhões de m3 por dia (MMm3/d). O resultado representa um incremento de 2% na produção se comparado a outubro de 2010 e de 1,5% em relação ao mês anterior.
De acordo com a ANP, o campo de Roncador foi o maior produtor de petróleo e o Rio Urucu, o maior de gás natural. Em outubro, 299 concessões, operadas por 26 empresas, foram responsáveis pela produção nacional.
Novo diesel
A Petrobras lançou nessa segunda-feira um diesel menos poluente, o S-50. Esse óleo, porém, precisa de motores com tecnologia avançada, conhecidos como euro 5, para ser realmente efetivo. No Brasil, atualmente os caminhões utilizam motores euro 3, que deverão ser gradualmente substituídos.