A Gol e a norte-americana Delta Air Lines anunciaram ontem uma aliança estratégica para aproveitar os bons ventos do transporte aéreo brasileiro e ainda enfrentar juntas o acirramento da concorrência global. Os principais executivos das companhias, Constantino Oliveira Júnior e Richard Anderson, respectivamente, afirmaram que a Delta investirá US$ 100 milhões na empresa brasileira. O aporte vai garantir participação acionária minoritária (3%) na Gol, mas também assento no conselho de administração.
Segundo analistas, a parceria pode ser a antecipação de um movimento mais amplo, assim que a legislação do país for mudada para permitir maior presença estrangeira no setor, hoje limitada a 20%. O acordo ocorreu em meio à fusão da rival TAM com a chilena LAN, que deverá criar a maior empresa aérea da América Latina. Questionado sobre se a criação da Latam motivou a decisão da Gol, Constantino disse que “as negociações levaram um ano e meio”, mostrando que as conversas tiveram início antes de agosto de 2010, quando TAM e LAN anunciaram o desejo de se unir.
No plano comercial, as empresas já informaram que deverão permitir intercâmbio a partir do terceiro trimestre de 2012 – passageiros da Gol poderão acumular e resgatar milhas para comprar bilhetes da Delta e vice-versa. Será possível comprar trechos de viagens nos sites das duas companhias.
A Delta atua no país desde 1997 e tem escritórios em São Paulo e no Rio de Janeiro. Tem 32 voos entre EUA e Brasil, que ligam Atlanta, Detroit e Nova York à capital paulista e Atlanta ao Rio e a Brasília. O acordo prevê ainda que os serviços para clientes premium de cada companhia sejam estendidos às duas, bem como o acesso comum às suas salas vips em aeroportos.
PREÇO DAS AÇÕES
Para viabilizar a participação, a companhia norte-americana vai investir o valor anunciado na troca de recibos de ações (ADSs) lastreados em papéis preferenciais da Gol, que serão emitidos a um preço médio de R$ 22. Como as ações da brasileira fecharam terça-feira cotadas a R$ 14,96, o desembolso da Delta representa um ágio de 47%. No fim, o aumento de capital será de R$ 280 milhões, incluindo o direito de subscrição dos demais acionistas. O conselho de administração da Gol se reunirá no dia 21 para discutir o assunto.
Guilherme Amaral, advogado especializado em direito aeronáutico, acredita que o acordo é uma forma de a Gol obter capital externo dentro dos limites legais. “Com margens apertadas e crescente concorrência, as empresas do setor precisam estar preparadas para mudanças de cenário e até conviver temporariamente com prejuízos”, sublinhou.
O Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) espera receber detalhes da Gol sobre o negócio para se pronunciar, afirmou o conselheiro Ricardo Ruiz, que é relator do processo de fusão entre a Gol e a Webjet. Ele disse que ainda é cedo para afirmar se o aporte da Delta terá impacto na operação sob análise do Cade.